Família real britânica foi para a “cama com o diabo”, acusa príncipe Harry

O filho mais novo do rei Carlos III voltou a explorar a relação entre os monarcas e os tablóides numa entrevista televisiva, transmitida no domingo.

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Edição espanhola, que chegou às livrarias antes do dia previsto, fotografada à frente do Palácio de Buckingham, Londres Reuters/JUAN MEDINA

O príncipe Harry diz que decidiu tornar públicas as suas quezílias com a família real britânica e assumir uma guerra contra a imprensa para tentar ajudar a monarquia e mudar os meios de comunicação social (o que o seu pai, Carlos III, terá classificado como uma "missão suicida").

Na primeira de uma série de entrevistas televisivas, transmitidas no domingo, antes do lançamento das suas memórias (que chegaram mais cedo ao conhecimento do público depois de alguns exemplares terem sido postos à venda em Espanha por erro), Harry acusou membros da sua família de irem para a cama com o diabo, como classifica a imprensa tablóide, com o objectivo de o difamar e à sua mulher Meghan. Tudo para melhorar a sua própria reputação.

Harry, ao canal britânico ITV, disse que tinha fugido da Grã-Bretanha com a sua família para a Califórnia em 2020 "temendo pelas vidas" e disse que já não reconhecia o seu pai nem o seu irmão mais velho, o príncipe William, o herdeiro ao trono.

"Depois de muitos, muitos anos de mentiras sobre mim e a minha família, chega um ponto em que, voltando à relação entre certos membros da família e a imprensa tablóide, esses certos membros decidiram ir para a cama com o diabo... Para reabilitar a sua imagem", acusou.

"O momento em que essa reabilitação vem em detrimento de outros, de mim, de outros membros da minha família, então é aí que traço a linha."

Na quinta-feira, o livro de Harry, Na Sombra, na sua tradução castelhana chegou às mãos da imprensa, que descobriu que as memórias citam não só detalhes extremamente pessoais, tais como a forma como perdeu a virgindade e tomou drogas ilegais, mas também casos privados mais íntimos de desarmonia familiar.

O seu irmão mais velho tê-lo-á derrubado numa rixa e ambos os irmãos imploraram ao pai que não casasse com Camila, agora rainha consorte.

Os comentadores dizem que o livro mergulhou a monarquia na sua maior crise desde os dias da novela real nos anos 90 em torno da separação de Carlos da sua falecida primeira mulher, a princesa Diana, mãe de William e Harry. Tudo isto acontece apenas quatro meses após a morte da rainha Isabel II e Carlos ter chegado ao trono.

Na entrevista dada à ITV, Harry repetiu e reforçou as acusações que ele e Meghan fizeram, desde que deixaram os deveres reais: que a família e os seus assistentes não só não os protegeram de uma imprensa hostil e por vezes racista, mas também divulgaram activamente histórias sobre eles, recorrendo a fontes anónimas.

Conflito

"A parte mais triste é que certos membros da minha família e as pessoas que trabalham para eles são cúmplices desse conflito", disse ele, indicando que incluía tanto Carlos como Camila.

Até agora, não houve qualquer comentário do Palácio de Buckingham. Harry disse que "achava que o seu pai ou irmão não iriam ler o seu livro".

Um amigo de William, que preferiu manter o anonimato, disse ao Sunday Times que o príncipe de Gales "explodia de raiva", mas não respondia em público "para o bem da sua família e do país".

Harry disse à ITV que queria a reconciliação com os membros da sua família, mas que ninguém tinha demonstrado interesse, dando a impressão de que era melhor mantê-lo a ele e a Meghan como vilões.

"Acredito verdadeiramente, e espero, que a reconciliação entre nós e a minha família tenha um efeito em todo o mundo." Talvez isso "seja sublime, talvez seja apenas ingénuo", disse.

Numa outra entrevista, desta vez à CBS, para o programa 60 Minutos, que foi ao ar também no domingo, Harry defendeu que, para terminar com esta ruptura, a bola está do lado da sua família.

"Tudo isto começou com o briefing deles, diariamente, contra a minha mulher com mentiras ao ponto de eu e a minha mulher termos de fugir do meu país", argumentou.

Harry também disse à ITV que esperava que as suas múltiplas acções legais contra os jornais ajudassem a mudar os meios de comunicação social, dizendo que estes são "o epicentro de tantos dos problemas em todo o Reino Unido".

"O meu pai disse-me que era provavelmente uma missão suicida tentar mudar a imprensa", declarou.

Ao 60 Minutos, o duque de Sussex comparou que o que Meghan passou com a imprensa foi, de certa forma, semelhante ao que Camila e Kate passaram, mas que as circunstâncias foram muito diferentes.

"O facto de ela ser americana, uma actriz, divorciada, negra, birracial com uma mãe negra", enumerou. Tudo "estereótipos típicos que se tornaram um festim para a imprensa britânica", disse.

As sondagens mostram que muitos britânicos estão a ficar aborrecidos com todo o melodrama real, e é pouco provável que outras revelações abalem as suas opiniões, quer simpatizem com Harry e Meghan, quer com aqueles que estes criticam.

"Eu amo o meu pai. Eu amo o meu irmão. Amo a minha família. Sempre amarei. Nada do que fiz neste livro ou de alguma outra forma fiz, o fiz para os prejudicar ou magoá-los", concluiu.

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