Uma nova relação entre os professores

A flexibilidade do mentoring assenta num planeamento próprio, desenhado por quem precisa e quer aprender.

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"As relações de mentoring fortalecem laços e torna mais coeso o espírito de equipa de uma organização" Adriano Miranda/Arquivo

Já por mais do que uma vez, escrevi sobre o mentoring nas escolas, concretamente entre professores mentores e professores mentees ou mentorandos. Ou seja, entre professores mais experientes e professores novos na profissão.

A mentoria está a ‘experimentar-se’ em algumas escolas. A base do mentoring é a relação que se estabelece entre mentor e mentorando, o interesse que se põe em fazer progredir alguém, está na génese do que é ser professor, assim como a satisfação por aprender, ser e fazer melhor, tendo mais sucesso e crescimento, é igualmente apanágio de todo aquele que dedica a sua vida ao ensino.

Com o aumento de professores em situação de reforma ou muito perto dela e a vinda em número reduzido de novos professores para o ensino, acrescida da sua falta de experiência, falta de mestrados via ensino ou profissionalização, a aprendizagem de velhas abordagens e resoluções e co-criação de novas soluções através do mentoring e de programas de indução parecem ser uma aposta muito positiva e com grandes expectativas.

A flexibilidade dos programas de mentoring tanto assusta como ajuda e facilita. Numa época em que queremos tudo programado, pré feito, estandardizado, que nos seja apresentado como vai ser, o que vou ter que fazer, responder, preencher, o que vou ter que saber responder, o mentoring parece baralhar um pouco o status quo. Apesar de noutras áreas a inovação de estratégias de aprendizagem ao longo da vida, novas metodologias de learning seja e-learning, b-learning ou mesmo presencial, ganharem cada vez mais carácter de desenvolvimento pessoal personalizado, experiências únicas de análise, reflexão e transformação; na educação ainda persistimos nos velhos modelos e hábitos e com muita resistência lá vamos consentindo que algum ar novo trespasse os velhos métodos e modos de atuar.

A flexibilidade do mentoring assenta num planeamento próprio, desenhado por quem precisa e quer aprender. Uma das premissas é que não se precisa de mentoring, por muito que alguns consigamos ver essa necessidade, mas antes quer-se fazer mentoring. A consciência própria de que posso beneficiar de um programa feito por mim, à medida das minhas necessidades, com uma pessoa do meu meio profissional, com mais experiência e com outra visão, é uma alteração grande, um salto gigante na formação dos profissionais de educação. O medo da folha em branco lá está! O que vou por no meu programa? O que a vida me está a dar ou já deu e abordei menos bem, ou vai trazer e já estou com ansiedade, só de pensar nisso. E se outra situação importante e urgente se meter no caminho? Refaz-se o programa, sem qualquer constrangimento. Priorizar o que é urgente de tudo o que é importante, é outra tarefa a aprender.

As relações de mentoring fortalecem laços e torna mais coeso o espírito de equipa de uma organização. A gratidão recíproca acontece com naturalidade e a evidência das vulnerabilidades torna-se a força e a vontade de mudança e de querer fazer mais e melhor. O foco deixa de ser ‘o meu umbigo’, para passar a ser o que ‘o meu umbigo consegue’ contribuir para melhor contribuir para o propósito da escola, para a aprendizagem dos alunos, para o ambiente escolar.

Que sejam estes projetos ou outros como este, capazes de fazer evoluir a escola enquanto organização e enquanto cada rosto que ensina e aprende, continuamente, ao longo da vida; pois quem não sente falta de aprender, dificilmente sente gosto em ensinar.


A autora escreve segundo o Acordo Ortográfico de 1990

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