Série Semana de Quatro Dias (1): desafio às empresas portuguesas

Primeiro de uma série de sete textos do coordenador nacional da experiência-piloto da semana de quatro dias, que publicaremos às sextas-feiras.

​Há 100 anos, vários empresários, incluindo Henry Ford, agora considerado o melhor empresário do século XX, adotaram uma semana de cinco dias de trabalho nas suas empresas, quando a economia estava organizada em seis. Fizeram-no, não por altruísmo, mas porque melhorava o negócio.

Nos últimos anos, várias empresas, em todo mundo e em diferentes setores, têm reduzido a semana de trabalho, desta vez para quatro dias. Estas empresas verificam que os trabalhadores, com três dias de pausa, regressam mais descansados e, portanto, trabalham com mais intensidade e criatividade. Cometem menos erros e melhoram a atenção ao cliente. Diminuem as taxas de absentismo, a rotatividade dos trabalhadores e as dificuldades de recrutamento, bem como todos os custos associados. O aumento da eficiência também se traduz em menos gastos com energia. Melhora a produtividade e reduzem-se custos.

É por todos estes potenciais benefícios para empresas, para além das óbvias vantagens para os trabalhadores e as suas famílias, que lançamos este projeto. Não “apesar da nossa baixa produtividade”, mas “por causa da nossa baixa produtividade”.

A primeira fase deste projeto, com duração de seis meses, vai decorrer na segunda metade de 2023 com empresas do setor privado que queiram adotar a semana de trabalho de quatro dias, sem corte de salário e com redução de horas semanais, de uma forma voluntária e naturalmente reversível. O Estado não vai subsidiar, mas vai oferecer o apoio de consultoria durante os três meses anteriores à experiência, para ajudar a pensar nas mudanças de processos necessárias a uma nova organização do trabalho e responder às “pequenas” perguntas que vão surgir: “será que temos de fechar à sexta-feira?”; “o que fazer com os feriados?”; “como organizamos as férias?”. Mais do que este apoio, o importante será o esforço conjunto dentro da empresa, entre trabalhadores e gestores, para a melhoria dos processos que permita libertar um dia aos trabalhadores, conseguindo manter a mesma produção de bens ou serviços.

Estamos à procura de empresas em todos os setores. Desde empresas de novas tecnologias que sabem que, para contratar os melhores, têm de oferecer mais do que um bom salário, até restaurantes onde a rotação de trabalhadores e os constantes problemas de recrutamento tenham levado a uma perda de clientes e tornado o dia-a-dia insustentável. Estamos à procura de fábricas que tenham problemas de absentismo e empresas de consultoria ou de outros serviços que considerem importante os trabalhadores voltarem ao trabalho presencial, mas que compreendam que o trabalho não pode voltar a ser como era antes da pandemia.

Estamos à procura de empresas de todas as dimensões por todo o país. Queremos pequenas e médias empresas que ambicionem mostrar a Portugal e ao mundo a sua capacidade de inovação. Queremos subsidiárias de multinacionais que possam utilizar a experiência em Portugal para gerar informação para outros países. Também queremos grandes empresas nacionais que, com uma almofada financeira mais desafogada, tenham a coragem de exercer em pleno a sua responsabilidade social.

Por tudo isso, fica aqui o meu desafio às empresas portuguesas, para que se juntem a nós e experimentem a semana de quatro dias.

A experimentação faz parte do ADN das melhores empresas. É tão natural as empresas testarem novos produtos, experimentarem novos fornecedores, diferentes técnicas de publicidade ou variações nos preços, porque não experimentar uma forma diferente de organizar o trabalho? O maior risco que as vossas empresas enfrentam não é experimentarem a semana de quatro dias ao longo de seis meses, mas sim que um dos vossos concorrentes se antecipe!

Passados 100 anos, ainda falamos de Henry Ford e de como anteviu e antecipou o futuro do trabalho no século XX. Daqui a 100 anos, as empresas que participarem neste projeto vão também ser recordadas como pioneiras. E, quem sabe, Portugal também.

As empresas interessadas em saber mais sobre o projeto podem inscrever-se nas sessões de esclarecimento, que decorrerão até final de janeiro, no site https://www.iefp.pt/projetos-e-iniciativas

Pedro Gomes é coordenador da experiência-piloto da semana de quatro dias, organizada pelo Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

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