Relação próxima de Erdogan com Putin deixa preocupado Borrell

Presidente turco falou com o seu homólogo russo e pediu o fim da guerra e o estender do acordo dos cereais a outros produtos.

Foto
Recep Erdogan com Vladimir Putin, em Agosto, num encontro em Sochi VYACHESLAV PROKOFYEV/SPUTNIK /KREMLIN POOL/EPA/

A diplomacia de proximidade que Recep Tayyip Erdogan está a desenvolver com Vladimir Putin preocupa cada vez mais a União Europeia, temendo esta que o Presidente turco ofereça uma via de escape ao seu homólogo russo para contornar as sanções impostas à Rússia por Bruxelas, Washington e outros governos ocidentais.

No dia em que Erdogan voltou a conversar com Putin, transmitindo-lhe o seu desejo de que a guerra na Ucrânia “termine o mais rapidamente possível” e pedindo-lhe para que o acordo actualmente existente em relação aos cereais ucranianos se estenda a outros produtos, o alto responsável da política externa da UE enviou uma carta ao Parlamento Europeu a dar conta do estado de espírito europeu em relação ao aprofundamento dos laços económicos entre Ancara e Moscovo.

O grupo de media alemão Funke (com 500 publicações em oito países) noticiou este domingo que na missiva Josep Borrell refere que o relacionamento turco-russo é “uma causa de preocupação crescente”: seria “importante” que a “Turquia não oferecesse à Rússia uma solução para as sanções”.

Numa altura em que os 27 se preparam para impor o nono pacote de sanções à Rússia, o responsável pela política externa europeia citou como exemplo o acordo alfandegário assinado entre os dois países que permite a livre circulação de produtos que podem ser usados para fins civis e militares.

“Como sabem, Putin avançou com um projecto para um centro de distribuição de gás na Turquia para redistribuir gás para a Europa”, refere Borrell na missiva aos eurodeputados. Um exemplo de que Erdogan continua sem estar interessado em juntar-se às “medidas restritivas da UE contra a Rússia”.

O Presidente turco tem sido crítico do radicalismo de Bruxelas, e do ocidente em geral, que não deixa espaço para uma solução negociada do conflito. “A Rússia não é um Estado qualquer, é um Estado poderoso”, o que leva à resistência de Moscovo, afirmou Erdogan aos jornalistas no mês passado. Acrescentou ainda que a sua diplomacia estaria a tentar arranjar forma de “abrir um corredor para a paz”.

A conversa telefónica deste domingo com Putin iria, então, nesse sentido. Ao mesmo tempo que expressava ao seu homólogo russo o desejo de um fim breve para o conflito, Erdogan sugeria que se alargasse gradualmente o actual acordo que permite aos ucranianos exportar os seus cereais a outros produtos. Incluindo alimentos e algumas matérias-primas.

O chefe de Estado turco, que terá pedido também ao seu homólogo que a Rússia ataque as forças curdas na Síria (de modo a conseguir uma zona livre de pelo menos 30 quilómetros até à fronteira turca), segundo o Moscow Times, ouviu de Putin que é necessário que se levantem os entraves à exportação russa de produtos agrícolas e fertilizantes.

Sugerir correcção
Ler 6 comentários