Presidente do hospital de Ponta Delgada demite-se

Sindicato Independente dos Médicos tinha denunciado “falta de diálogo institucional do conselho de administração”. Vinte e um directores de serviço demitiram-se.

Foto
Escalas de Dezembro estão a gerar polémica

A presidente da administração do Hospital do Divino Espírito Santo, em Ponta Delgada, apresentou nesta sexta-feira o pedido de demissão, que foi aceite pelo presidente do Governo dos Açores, informou o executivo do arquipélago.

Numa nota divulgada no seu site, o Governo dos Açores refere que, após uma reunião realizada nesta sexta-feira de manhã, Cristina Fraga “colocou o seu lugar à disposição, tendo o presidente do governo aceitado o seu pedido de demissão”.

Segundo a nota, José Manuel Bolieiro “agradece à Dra. Cristina Fraga o trabalho desenvolvido, a sua dedicação, e reconhece os bons indicadores obtidos durante o seu mandato, em termos de produtividade dos serviços”. “A substituição de Cristina Fraga será feita nos termos legalmente previstos”, escreve o executivo.

A presidente da administração ocupou o cargo no início de 2021, depois de o executivo liderado por Bolieiro ter exonerado o anterior conselho. A sua gestão foi criticada publicamente meses depois, quando o Sindicato Independente dos Médicos se manifestou preocupado com o clima de “mal-estar” na unidade hospitalar, devido à “falta de diálogo institucional do conselho de administração” com os clínicos.

Vinte e um dos 25 directores dos serviços do hospital de Ponta Delgada demitiram-se nesta sexta-feira, disse à Lusa o médico Emanuel Dias, considerando que o presidente do governo regional foi “enganado” pela administração sobre as escalas.

Segundo Emanuel Dias, porta-voz dos directores de serviços clínicos demissionários, a escala de serviço do Hospital do Divino Espírito Santo “não está preenchida e quem está a preenchê-la é o actual conselho de administração, que não o tem conseguido”.

Na quarta-feira, José Manuel Bolieiro tinha confirmado a demissão dos 10 chefes do serviço de urgência da unidade, mas garantiu que “as escalas de urgências dos três hospitais” estavam asseguradas na próxima semana.

Um problema de escalas

O social-democrata referiu então que foi aberto um “protocolo negocial” com os sindicatos médicos devido às reivindicações dos profissionais, nomeadamente quanto a horas extraordinárias, e acrescentou que os conselhos de administração dos três hospitais da região (Ponta Delgada, Horta e Angra do Heroísmo) tinham garantido que as escalas de urgência da primeira semana de Dezembro estavam asseguradas”.

“Os chefes de serviço de urgência [do hospital de Ponta Delgada] estavam, até hoje [sexta-feira], sem conhecer a situação [início de um protocolo negocial e escalas de urgência asseguradas]. Ficariam responsáveis por algum vazio [nas escalas]. Tenho esperança de que naturalmente ficarão confortados, até pelo seu sentido de responsabilidade já demonstrado, quando se verificar que a escala não está em branco”, afirmou o chefe do executivo de coligação PSD/CDS-PP/PPM.

Por seu turno, a responsável nos Açores pelo Sindicato dos Médicos do Sul reconheceu que foi induzida em erro numa reunião com o presidente do governo regional, e acabou por “mentir” quando disse que as escalas do Hospital do Divino Espírito Santo estavam preenchidas

Na quarta-feira, Anabela Lopes disse que as urgências hospitalares nos Açores, que estavam na iminência de não terem escalas completas, por indisponibilidade dos médicos, estavam asseguradas.

Já na quinta-feira, a responsável nos Açores da Ordem dos Médicos, Margarida Moura, denunciou a falta de condições de assistência aos doentes no hospital de Ponta Delgada, nomeadamente na cirurgia geral, cuja directora de serviço apresentou a demissão.

Hoje,a direcção clínica e o conselho de administração afirmaram que “a segurança dos doentes está garantida” e que as escalas de urgência “estão asseguradas até 7 de Dezembro”.

Em Novembro, cerca de 400 médicos (191 do Hospital do Divino Espírito Santo) manifestaram indisponibilidade para fazer mais do que as 150 horas de trabalho extraordinário obrigatórias por lei, reclamando um pedido de desculpas do vice-presidente do executivo de coligação PSD/CDS-PP/PPM.

Artur Lima (CDS-PP) tinha afirmado em 11 de Novembro que os médicos “não podem usar o dinheiro como moeda de troca para dispensar” a prestação de cuidados.

Depois, o governante disse que não teve “intenção de ofender os médicos” nas declarações feitas sobre o trabalho extraordinário, após ter sido criticado pelo PAN, BE e PS no parlamento regional.

Sugerir correcção
Comentar