Dois dos GNR julgados em Beja apelidam de “brincadeira parva” agressões a imigrantes

São sete os militares da GNR que esta quarta-feira começaram a ser julgados no Tribunal de Beja por crimes de sequestro e agressão.

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O julgamento de sete militares da GNR acusados de agredir imigrantes em Odemira teve início esta quarta-feira em Beja LUSA/NUNO VEIGA

Dois dos sete militares da GNR acusados de sequestro e agressão a imigrantes em Odemira alegaram esta quarta-feira no início do julgamento, em Beja, que participaram numa “brincadeira parva” em que não tinham intenção de “fazer mal”.

Nelson Lima e Diogo Ribeiro foram os únicos que aceitaram prestar declarações ao colectivo de juízes do Tribunal de Beja que está a julgar o caso, depois da identificação dos arguidos e de um resumo dos factos que lhes são imputados.

“Foi uma brincadeira parva e estúpida”, justificou o militar da GNR Nelson Lima, o primeiro a falar, dos dois que aceitaram prestar declarações, vincando que não encarou a situação “com maldade”.

Também Diogo Ribeiro, o outro militar ouvido pelo colectivo, utilizou a expressão de “brincadeira parva” para se referir a um dos casos de agressões em que reconheceu ter uma régua para atingir as vítimas. “Não era intenção fazer mal”, argumentou, salientando que o objectivo desse episódio era a realização de “exercícios” físicos por parte de imigrantes. “Se quisesse fazer mal, tinha ido buscar um bastão”, acrescentou.

Durante o seu depoimento, o militar da GNR Nelson Lima contou que, num dos casos, estava no atendimento do posto de Vila Nova de Milfontes, concelho de Odemira, e que ouviu um barulho vindo da zona do estacionamento. “Fui ver o que se passava e estavam na risota e palhaçada”, relatou, referindo-se a um grupo de militares com imigrantes na zona do estacionamento do posto.

Salientando que a sua participação num episódio que ficou registado em vídeo foi “de passagens” e durou “20 segundos”, Nelson Lima disse que quando se aproximou dos imigrantes não lhes tocou nem usou gás pimenta. “Não vi pânico na cara de ninguém”, respondeu este militar, após ser questionado pela sua advogada sobre se as vítimas estavam em pânico.

Na sua intervenção, Nelson Lima disse que esta situação foi “uma vez sem exemplo”, mas o juiz que preside ao colectivo lembrou o arguido de que já foi condenado num outro processo e que a condenação já transitou em julgado.

“Há um padrão na actuação dos militares do posto da GNR de Vila Nova de Milfontes”, pelo que “não foi uma vez sem exemplo”, assinalou o magistrado. Depois de os dois militares terem sido ouvidos, o tribunal exibiu vídeos das agressões e sequestro de imigrantes numa televisão.

No final da exibição, o juiz que preside ao colectivo confrontou Nelson Lima e Diogo Ribeiro com as imagens, mas os dois recusaram prestar mais declarações.

O Tribunal de Beja começou esta quarta-feira a julgar os sete militares da GNR acusados pelo Ministério Público (MP) de um total de 33 crimes contra imigrantes em Odemira, como sequestro e agressão, em casos ocorridos em 2018 e 2019.

Segundo a acusação do MP, o processo envolve quatro casos de sequestro e agressão de imigrantes por militares da GNR, então colocados no Posto Territorial de Vila Nova de Milfontes, em Odemira (Beja), ocorridos entre Setembro de 2018 e Março de 2019.

No despacho de acusação, de 10 de Novembro de 2021, o MP referiu que os arguidos, “agiram em manifesto ódio” pelas vítimas, “claramente dirigido” às nacionalidades dos imigrantes, da região do Indostão.

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