Austrália ganha no campo, Tunísia ganha na bancada

O Tunísia-Austrália tinha potencial para ser um dos jogos menos interessantes do Mundial - no talento, mas também no ambiente. Pelo que vimos em Doha, era uma ideia totalmente errada.

Adeptos da Tunísia no jogo frente à Austrália
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Adeptos da Tunísia no jogo frente à Austrália EPA/Noushad Thekkayil
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Adeptos da Austrália no jogo frente à Tunísia EPA/Noushad Thekkayil
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Adeptos da Tunísia no jogo frente à Austrália Reuters/ANNEGRET HILSE
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Adeptos da Tunísia no jogo frente à Austrália Reuters/MARKO DJURICA
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Momento do jogo entre a Tunísia e a Austrália Reuters/SUHAIB SALEM

O Tunísia-Austrália deste sábado, que teve triunfo australiano por 1-0, tinha potencial para ser considerado “o jogo que ninguém queria ver” da fase de grupos do Mundial 2022. Equipas modestas no plano mundial – uma delas vinda de muito longe – e ambas sem estrelas de primeira linha. Ou de segunda. Ou sequer de terceira – exceptuando Msakni, mas já lá vamos.

Tinha tudo para ser um jogo fraco no relvado e “morno” nas bancadas do estádio Al Janoub. A própria tribuna de imprensa, com mais lugares vazios do que ocupados, é um bom indicador disto mesmo. Já para não falar da tribuna presidencial, que estava “às moscas”.

Mas por isso é que convém ver, ouvir e “cheirar” após uma ideia pré-concebida. Neste sábado, o ambiente no Al Janoub entra desde já para o top dos jogos com melhor atmosfera – a tal temperatura de Mundial que tem faltado em tantos planos no Qatar. E só não salta para o primeiro lugar porque não estivemos nos jogos todos, portanto faltam-nos dados.

A Tunísia trouxe um largo clã de adeptos e abafaram totalmente os poucos australianos que por cá estão. Os magrebinos são alegres, barulhentos, pressionantes e, sobretudo, resistentes a 90 minutos de cânticos quase ininterruptos.

Houve os mordazes “olés” desde o minuto inicial e assobios quando a bola estava nos pés australianos. Loucura quando os “socceroos” perdiam a bola e festa rija em momentos tão irrelevantes como o árbitro não assinalar uma falta a favor da Austrália.

Depois, uma música. Só uma. Não era fácil de entender, pelo que perguntámos a um adepto tunisino o que significava o cântico. “Joga, joga, joga, que vais conseguir ganhar”. Depois de explicado, ficou fácil de entender. O problema é que jogaram, de facto, mas não conseguiram ganhar.

O ouro está em Msakni

E como foi o futebol? Foi bom. Melhor do que se poderia esperar. Foi um jogo animado, com alguns momentos de qualidade técnica e com incerteza no resultado - que acabou por ser injusto, já que os africanos mereciam bem mais.

A derrota deixa a equipa da Tunísia em má posição, já que o último jogo, frente à França, tem de dar vitória. Já a Austrália chega aos três pontos e tem aqui uma boa oportunidade de chegar aos oitavos-de-final, podendo, em teoria, discutir o apuramento com a Dinamarca, na última jornada.

Para este jogo a Austrália trouxe um 4x3x3 bastante óbvio, com funções e zonas de acção bem demarcadas, num bom exemplo do clássico futebol de influência britânica.

A ideia era sempre a mesma: tentar servir o avançado Duke em apoios frontais e, depois, lançar o máximo possível de jogadores para o ataque. Não se pode dizer que era um “kick and rush” à inglesa, mas tinha alguns traços comuns. E resultou.

Aos 23’, Duke conseguiu receber uma bola em apoio, serviu o médio de frente e, enquanto Duke corria para a área, a bola foi colocada no corredor, em transição rápida. Depois do cruzamento de Goodwin, foi Duke quem surgiu a finalizar de cabeça. Grande golo da Austrália, num desenho colectivo simples e executado na perfeição.

Já a Tunísia teve algumas dificuldades para ligar o jogo. Seja qual for o sistema táctico ou o modelo de jogo, aquilo que a equipa pode fazer dependerá sempre daquilo que Msakni oferecer ao encontro.

Mas o criativo africano pouco tocou na bola durante largos minutos, até porque era mal servido. A construção tunisina era “empenada” por permanentes erros técnicos na saída, algo que impedia a bola de chegar aos criativos. Não se viam três passes seguidos.

Na primeira vez que Msakni tocou na bola, aos 18’, foi logo para soltar a equipa numa transição. Não havia que enganar: era ali que estava o ouro.

Num jogo durinho, mas dentro dos limites, a Tunísia foi ganhando algum ascendente com o recuo progressivo da Austrália.

Aos 20’, Laidouni pedia mais apoio à bancada. Mais ainda? Mais ainda. E deram-lho. Os tunisinos, que já tomavam conta da bancada, estavam também a começar a tomar conta do relvado.

Aos 41’, um lançamento lateral isolou Jebali, mas o avançado acabou por perder a vantagem e entregou a bola a Msakni que, como quase sempre, definiu bem, entregando a finalização a Dragner, mas sem sucesso.

Ainda houve um outro lance muito perigoso aos 45’, com remate de Msakni para fora. Só por conta de Msakni, ora a finalizar, ora a assistir, a Tunísia esteve três vezes perto do golo.

Mais Msakni

Na segunda parte tudo quanto era queda na área da Austrália valia pedido intenso de penálti – sintoma que, geralmente, indica quando uma equipa está a ficar impaciente e frustrada pela incapacidade de criar jogo.

E era mesmo isso que se passava. Apesar de terem muito mais presença ofensiva do que na primeira parte, os tunisinos estavam a ser menos competentes a criar jogadas de perigo.

Isto pareceu espoletado, em parte, pelo encostar de Msakni ao corredor esquerdo, depois de ter conseguido, na primeira parte, algumas jogadas pela qualidade que tem em terrenos interiores.

Aos 71’, Msakni acordou. Fartou-se de estar agarrado à linha à espera da bola e regressou aos tais espaços interiores. Primeiro, para rematar para uma boa defesa de Ryan e no minuto seguinte para fazer um movimento para a zona central, novamente com remate para defesa de Ryan. E ainda cabeceou torto aos 75’.

O jogador do Al Arabi, de 32 anos, estava numa tarde de tremendo desperdício, mas, por outro lado, em que exibia o motivo pelo qual é o craque da equipa, apesar da carreira modesta, quase toda feita no Médio-Oriente.

Ainda houve uma oportunidade desperdiçada por Khazri aos 88’, mas nada mudou. A Tunísia merecia mais, mas não era o dia deles.

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