ONU pede investigação independente sobre a morte de soldados russos em Makiivka

Organização confirma autenticidade de vídeos que circulam nas redes sociais sobre a possível execução de 11 russos por soldados ucranianos. Merkel desculpa-se por não ter tido força para travar Putin.

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Soldados ucranianos podem vir a ser acusados de crimes de guerra Ashley Chan/SOPA Images/LightRocket via Getty Images

Os vídeos que mostram o que parece ser a execução sumária de soldados russos por ucranianos são “com grande probabilidade autênticos”, admitiu esta sexta-feira o alto comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos.

As imagens têm circulado nas redes sociais nos últimos dias e mostram o momento em que soldados da Ucrânia entram num pátio cercado por edifícios danificados em Makiivka, na região de Lugansk. Num dos vídeos, filmado por um soldado com o telemóvel, vêem-se vários russos a sair de uma casa e a render-se, deitando-se no chão. Quando já dez homens estão cá fora, surge mais um do interior e dispara. O vídeo termina abruptamente.

Outro vídeo, este captado a partir do ar provavelmente por um drone, mostra soldados russos mortos, incluindo os que já se tinham rendido.

“As reais circunstâncias da sequência de acontecimentos devem ser investigadas o mais aprofundadamente possível e os responsáveis devem responder pelos seus actos”, declarou o alto-comissário, Volker Türk, defendendo novamente que “é essencial que todas as alegações de execuções sumárias sejam investigadas totalmente de forma independente, imparcial, profunda, transparente, rápida e eficaz”.

A execução de prisioneiros de guerra é um crime de guerra que pode ser investigado e punido pelo Tribunal Penal Internacional. O porta-voz de Vladimir Putin prometeu que a Rússia “fará tudo o que for possível” para encontrar os responsáveis pelo que aconteceu em Makiivka, enquanto a procuradoria ucraniana anunciou a abertura de um inquérito por alegado crime de “perfídia” por parte dos soldados russos. “Militares russos, fingindo a rendição às Forças Armadas ucranianas, abriram fogo contra os defensores ucranianos. Tais acções são proibidas pela lei internacional humanitária”, disse a procuradoria-geral em comunicado.

O tratamento dado a prisioneiros de guerra de ambos os lados tem sido um tema recorrente desde o início das hostilidades. Ucrânia e Rússia já várias vezes se acusaram mutuamente de maltratar e assassinar soldados – como no caso do ataque com mísseis a uma prisão em Donetsk em que morreram pelo menos 50 ucranianos. A ONU já antes alertou que os Exércitos dos dois países aplicam tortura e maus-tratos aos seus prisioneiros de guerra.

Merkel defende-se

Longe da Ucrânia e da frente de guerra, a ex-chanceler alemã Angela Merkel defendeu-se esta sexta-feira, em entrevista, daqueles que a acusam de ser uma das responsáveis indirectas pela invasão russa. A antiga governante alega que em 2021 não tinha poder para influenciar Putin, uma vez que anunciara já a sua saída da cena política. “Já não tinha força para me afirmar porque toda a gente sabia: ‘ela no Outono já se foi embora'”, reconhece à revista do Der Spiegel.

Merkel relata como no Verão do ano passado, na sua última visita ao Kremlin, Putin a recebeu acompanhado por um assessor e não sozinho, como era hábito. “A mensagem era clara: ‘em termos de poder político, estás acabada'”, relata.

Na semana passada, o ex-ministro das Finanças Wolfgang Schäuble reconheceu que a Alemanha “não quis ver” a natureza do regime de Vladimir Putin e avançou com os gasodutos Nord Stream “contra [a opinião] de todos os outros europeus e contra os americanos”.

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