Seis anos depois, Takuma Asano deu razão a Arsène Wenger

O marcador do golo do triunfo do Japão sobre a Alemanha no Mundial foi contratado pelo Arsenal como um jogador “de futuro”, mas nunca jogou um minuto na Premier League.

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Takuma Asano marcou o golo da vitória do Japão sobre a Alemanha Reuters/FABRIZIO BENSCH

Dificilmente o tempo irá dar razão a Arsène Wenger e à sua bizarra ideia de ter um Mundial de futebol de dois em dois anos – a FIFA bem gostaria. Mas o francês, em tempos, já teve boas ideias. Uma delas foi olhar para o recrutamento de forma diferente e, durante boa parte dos 22 anos em que esteve à frente do Arsenal, os “gunners” beneficiaram do seu olho para o talento barato e desconhecido que Wenger identificava em sítios menos óbvios. Em 2016, Wenger foi buscar ao Japão um jovem de 21 anos chamado Takuma Asano, nas palavras do francês, “um avançado cheio de talento” e “para o futuro”.

Asano nunca fez um único minuto com a camisola do Arsenal, nem na Premier League, mas, seis anos depois, está, e de que maneira, a deixar a sua marca no Mundial do Qatar. O avançado do Bochum já é um dos heróis do torneio ao marcar o golo do improvável triunfo do Japão sobre a Alemanha por 2-1, mais uma selecção asiática a abater um dos favoritos. E não foi um golo fácil.

Aos 83’, Asano recebeu uma bola alta, fez a recepção orientada, deixou o lentíssimo Schlotterbeck para trás e, quase a pisar a linha de fundo, conseguiu acertar no buraco entre Neuer e o poste. Um golo que não é para todos e que, passados 14 minutos de desesperada e inconsequente reacção alemã, vingou como o golo de uma das maiores surpresas da história dos Mundiais de futebol. E para Asano, uma espécie de redenção.

Falhou o Mundial 2018

Depois de um início de carreira promissor na J-League, Wenger chamou-o para o Arsenal, mas, como não era internacional, não podia jogar em Inglaterra. E nunca jogou. Foram três anos de empréstimo, dois ao Estugarda (um deles na segunda divisão), um ao Hannover, e o Arsenal deixou-o ir, em 2019 para o Partizan de Belgrado.

Dois anos na Sérvia (foi o primeiro japonês a jogar no país) que foram os melhores e os piores tempos da carreira. Os melhores, porque Asano teve as suas épocas mais produtivas – 30 golos marcados. Mas também os piores, porque o clube sérvio não lhe pagava salários. E o extremo japonês anunciou, em Maio do ano passado, a rescisão unilateral.

Pelo meio, Asano também sentiu a frustração de não ser convocado para o Mundial 2018, depois de ter sido importante na qualificação. Akira Nishino incluiu-o numa lista de 27, mas Asano seria um dos quatro a não fazer a viagem para a Rússia, onde o Japão seria eliminado nos oitavos-de-final pela Bélgica.

Depois do Partizan, Asano regressou ao futebol alemão, pela porta do Bochum – ele é, aliás, um de oito japoneses a actuar na Bundesliga. Uma lesão no joelho em Setembro passado durante um jogo da Bundesliga com o Schalke 04 ameaçou tirar-lhe outra vez um lugar no Mundial, e a sua inclusão nos 26 do Japão para o Qatar acabou por ser uma surpresa.

Entre essa lesão e o jogo desta quarta-feira, Asano tinha passado 75 dias sem um jogo competitivo. Mas foi o segundo a entrar em campo quando o Japão precisava de fazer alguma coisa para contrariar a vantagem da poderosa Alemanha. Doan nivelou o resultado aos 71’ e levou os japoneses à loucura. Asano elevou esses festejos a níveis estratosféricos aos 83’. Arsène Wenger tinha razão.

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