Alemanha não censurou a irreverência do Japão

Num duelo marcado por um protesto inicial dos alemães, a Mannschaft dominou na primeira parte, mas perdeu o controlo e acabou por perder contra o Japão na estreia no Mundial 2022.

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Ritsu Doan festeja o primeiro golo do Japão contra a Alemanha EPA/Ronald Wittek

O décimo jogo do Mundial 2022 começou com um protesto alemão contra a censura à liberdade de expressão que tem sido recorrente no Qatar e terminou com a Mannschaft de joelhos, sem conseguir reprimir a tradicional irreverência do Japão. Na primeira partida do Grupo E, os germânicos concluíram a primeira parte com 79% de posse de bola e 13-1 em remates, mas apenas um golo (Gundogan, de penálti). No entanto, uma mudança táctica dos nipónicos ao intervalo virou o jogo do avesso e, com muito mérito, o Japão deu a volta ao resultado – golos de Ritsu Doan e Takuma Asano ,recuperando fantasmas recentes da Alemanha.

O currículo recente da historicamente todo-poderosa Alemanha nos grandes palcos do futebol mundial é modesto (apenas ganharam um jogo no Mundial 2018 e outro no Euro 2020), e, para não fugir à tradição, a nova Mannschaft de Hans-Dieter Flick entra numa grande prova internacional com o pé esquerdo.

Com uma equipa repleta de talento e juventude, que parecia refrescada pelas ideias novas impostas por Flick, os alemães começaram o primeiro teste no Qatar a serem alemães. Com muito mérito e quase como um rolo compressor, a Alemanha durante 45 minutos anulou os trunfos de um Japão que, já se sabia, tem talento, mas que, na estreia no Qatar, parecia não ter a fórmula para produzir um antídoto que neutralizasse a fiabilidade germânica.

Com o habitual plano A de Flick (4x2x3x1), a Alemanha apresentou-se no Mundial 2022 com uma dupla a meio-campo que transpira segurança (Kimmich/Gundogan) e, para atacar a baliza japonesa, havia a experiência de Müller associada à habilidade pouco comum de Gnabry, Havertz ou Musiala.

Do outro lado, sem Morita (acusou problemas físicos nos últimos dias), o Japão até mostrou boas ideias no arranque do encontro – a defender em 4x5x1, formava uma cortina que procurava pressionar de imediato o início de construção dos alemães. No entanto, os nipónicos, durante 45 minutos, ficaram-se pelas boas intenções.

Mesmo exibindo logo de início uma lacuna que mais tarde se revelou fatal – a ausência de um jogador habituado a ser uma referência na área -, a Alemanha, após o apito inicial, meteu a bola no bolso e o resultado disso foi traduzido na estatística ao fim dos primeiros 45 minutos: 79% de posse de bola para os alemães. Outro exemplo da supremacia germânica eram os 13-1 em remates. Porém, na prática, apenas na transformação de uma grande penalidade essa superioridade foi traduzida em golos: aos 33’, após uma falta displicente cometida pelo guarda-redes Gonda, Gundogan fez o 17.º golo pela sua selecção.

A ameaçar repetir as goleadas da França ou da Inglaterra, a Alemanha encontrou uma novidade após regressar dos balneários: Hajime Moriyasu abdicou de Takefusa Kubo e lançou Takehiro Tomiyasu. Em teoria, a saída de um avançado e a entrada de um defesa denunciava receio do técnico japonês. Na prática, foi um xeque-mate táctico.

Tendo as suas linhas mais subidas, Moriyasu travou o domínio absoluto que até aí Flick tinha conseguido e, principalmente, colocou a Mannschaft em posição de desconforto. Com o duelo repartido e o Japão a deixar de ver apenas jogar, as oportunidades passaram a estar repartidas pelas duas balizas e, mesmo conseguindo estar perto do segundo (Gundogan acertou no poste, aos 60’), os germânicos passaram a viver com a ameaça do empate, que Neuer adiou aos 73’, com uma grande defesa. No entanto, três minutos depois, um cruzamento/remate forçou o guarda-redes do Bayern a uma defesa de recurso e, na recarga, Doan fez o empate.

A reacção de Flick foi lançar Götze e Fullkrug, mas o jogo já estava descontrolado e, meia dúzia de minutos depois, um grande golo de Asano colocou a Alemanha definitivamente KO, confirmando a segunda surpresa do Mundial 2022.

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