Líder do PCP admite “invasão” russa na Ucrânia

Paulo Raimundo utilizou a palavra numa entrevista, mas logo a inseriu no contexto da visão comunista sobre a guerra.

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Paulo Raimundo fala finalmente numa "invasão" da Rússia à Ucrânia LUSA/ANDRÉ KOSTERS

Paulo Raimundo, novo secretário-geral do PCP, considerou que a Rússia levou a cabo uma “invasão” da Ucrânia. A palavra significa uma novidade no discurso oficial do PCP — que até agora se referia ao conflito como uma “acção” ou “intervenção militar”, termos associados a Moscovo. A palavra “invasão” apenas tinha sido usada episodicamente por alguns destacados militantes comunistas.

Em entrevista ao JN/TSF, Paulo Raimundo utilizou a palavra “invasão” para logo depois situá-la num contexto em que não rompesse com a visão comunista desta guerra. No entender do secretário-geral do PCP, a “intervenção e invasão russa no território ucraniano” não mais é do que o apogeu de uma “escalada militar” que começou antes de 24 de Fevereiro.

Na passada quinta-feira, em entrevista ao PÚBLICO e à RR, Arménio Carlos, ex-líder da CTGP e militante comunista, insistia na importância de o PCP utilizar a palavra “invasão” quando se referisse à guerra na Ucrânia. Dias depois, aconteceu.

Ainda sobre o conflito, o secretário-geral comunista notou que o “esforço do PCP é encontrar caminhos para a paz, porque não há guerras justas”, bons ou maus. “É uma guerra. É preciso acabar com ela rapidamente. Aliás, nunca devia ter começado”, concretizou, para depois rejeitar que o PCP alguma vez tenha “legitimado” a “intervenção militar”.

Questionado sobre ter dito que a Rússia era um “cão atiçado” — algo que, no entender de alguns articulistas, invertia o jogo e vitimizava Moscovo —, Paulo Raimundo afirmou que na entrevista à Lusa havia deixado claro que “a culpa não era só do cão”, ou seja, que a Rússia não era a única culpada do conflito. No entender do sucessor de Jerónimo de Sousa, os EUA, a UE e a NATO também são responsáveis pela invasão russa à Ucrânia, uma vez que “atiçaram” Moscovo.

O lamaçal político

No que toca a política interna, Paulo Raimundo admitiu que “não estar na Assembleia [da República] cria uma dificuldade objectiva” e considerou que o facto de o PS ter uma maioria absoluta “não lhe garante por si só a estabilidade necessária para levar por diante todos e quaisquer objectivos que tenha”.

Afirmou, ainda, que os casos sucessivos do Governo criam “um lamaçal e um profundo descrédito até da vida política e do regime democrático”. Nota que o PCP não irá alimentar estas polémicas, mas que também não se inibirá de dizer o que pensa sobre elas. No entender de Paulo Raimundo, “esta ideia de lamaçal em que são todos iguais” e que “andam cá todos para se abotoarem” é “muito perigosa”.

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