É mais rápido viajar entre Braga e Guimarães de bicicleta do que de comboio

O PCP de Braga testou e confirmou. A demonstração surge na sequência de proposta de lei que propõe início dos estudos necessários à concretização da ligação ferroviária directa entre as duas cidades.

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Actualmente, a viagem de comboio entre Braga e Guimarães demora quase duas horas e meia Hugo Delgado/Arquivo

O problema não é novo, mas o PCP decidiu demonstrá-lo ao limite: a ligação ferroviária entre Braga e Guimarães é tão lenta que o percurso entre as duas cidades faz-se mais depressa de bicicleta do que de comboio.

Esta quinta-feira, membros do partido fizeram a experiência e concluíram que a viagem de bicicleta entre as duas cidades, que distam entre si pouco menos do que 25 quilómetros, demora cerca de uma hora e vinte minutos, enquanto a de comboio demora quase duas horas e meia.

O teste foi feito da seguinte forma: a vereadora sem pelouro da CDU na Câmara de Braga, Bárbara de Barros, e o deputado da CDU na Assembleia Municipal de Guimarães, Torcato Ribeiro, embarcaram na linha urbana de Braga com destino ao Porto às 11h34, saíram na estação de Lousado às 12h19, apanharam novo urbano às 13h13 e chegaram a Guimarães às 13h52. De bicicleta, pela estrada nacional 101, o militante comunista João Oliveira, de 65 anos, demorou menos uma hora a realizar o percurso entre as duas cidades. “Isto é incomportável e não suscita o interesse a nenhum dos que se querem deslocar entre as duas cidades. Qualquer pessoa, de qualquer partido, percebe que isto não pode continuar assim”, lamentou Torcato Ribeiro aos jornalistas no final da sua viagem, na estação ferroviária de Guimarães.

Entre Braga e Guimarães, a deslocação por comboio é mesmo a mais lenta. “Nós fomos os únicos a fazer o trajecto àquela hora, ninguém usa o comboio entre Braga e Guimarães. De automóvel, demora-se 10 minutos pela auto-estrada, e 20 pela nacional. De autocarro, é menos de uma hora”, argumentou Bárbara de Barros.

A demonstração surge na sequência de uma proposta de lei dos comunistas inserida no Orçamento do Estado para 2023, que propõe que sejam “iniciados os estudos necessários” à concretização da ligação ferroviária directa entre as duas cidades. A proposta indica que “a falta de ligação directa entre Braga e Guimarães dificulta o uso deste transporte, na medida em que é difícil conciliar horários profissionais ou escolares com o tempo gasto pelo itinerário actual” e que o facto “constitui um incompreensível absurdo ferroviário e demonstra a falta de planeamento estratégico para o transporte ferroviário no distrito de Braga”.

A ligação ferroviária já tinha sido proposta pelo PCP à Assembleia da República em 2019 através de um projecto de resolução, mas não houve avanços desde então. Com esta nova proposta de lei, os comunistas esperam que haja desenvolvimentos, ainda que Bárbara de Barros sublinhe que “o que tem acontecido até agora é empurrar o problema com a barriga”, lembrando que os presidentes das câmaras de Braga e Guimarães têm defendido, nos anos mais recentes, uma ligação por Bus Rapid Transit (BRT) - um autocarro que se desloca em via dedicada - entre as duas cidades. “É uma solução muito elogiada, mas a verdade é que esse investimento será sempre muito superior e demorará muito mais tempo a executar do que qualquer intervenção que se possa fazer na infra-estrutura já existente na ferrovia”.

Para Torcato Ribeiro, a ligação ferroviária directa entre as duas cidades ganha especial relevância nos dias de hoje, com o recente anúncio do programa de modernização da ferrovia, que prevê uma ligação de alta velocidade que deixará Lisboa e Braga separados por duas horas. “A cidade de Guimarães ficará arredada, com a celeridade a que temos direito, do acesso à alta velocidade se não houver a ligação directa a Braga”, refere.

Bárbara de Barros sinaliza que o regresso do país à aposta na ferrovia “é benéfico”, mas não compreende como é que “não se resolvem estas questões mais urgentes, que trazem benefícios a muito mais população do que propriamente a alta velocidade”. “De que serve estarmos ligados de Lisboa ao resto do mundo, quando entre Guimarães e Braga não é possível fazer-se uma viagem de comboio?”, questionou ainda.

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