G20 termina com “condenação” da guerra russa pela “maioria dos membros”

Declaração conjunta da cimeira confirma “diferentes avaliações da situação” na Ucrânia. Agenda do último dia da reunião de líderes mundiais na Indonésia afectada pelas explosões na Polónia.

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Líderes ocidentais e os seus aliados reuniram-se de emergência, à margem da cimeira do G20, para debaterem incidente na Polónia Reuters/KEVIN LAMARQUE

Os líderes dos países ocidentais representados no G20 bem se esforçaram, mas a declaração conjunta que saiu da cimeira que terminou esta quarta-feira, em Bali, na Indonésia, não conseguiu unir a condenação unânime pelos 19 membros da invasão russa da Ucrânia – a Federação Russa é o 20.º.

“A maioria dos membros condenou veementemente a guerra na Ucrânia e enfatizou que está a causar imenso sofrimento humano e a exacerbar as fragilidades na economia global (…). Há outros pontos de vista e diferentes avaliações da situação e das sanções”, lê-se no documento oficial, que, neste aspecto, não muda uma vírgula em relação ao que constava do rascunho que a Reuters tinha posto a circular na véspera.

Entre os Estados do G20 cuja posição oficial sobre a guerra tem sido, no mínimo, ambígua, recusando condenar abertamente a Rússia pela invasão, constam a China, a Índia ou a África do Sul, entre outros.

Os membros do G20 que criticam Moscovo e que apoiam Kiev – todos os europeus (Reino Unido, França, Alemanha, Itália e a União Europeia), assim como os EUA, o Canadá, a Austrália, o Japão ou a Coreia do Sul – conseguiram, ainda assim, incluir na declaração uma crítica forte à Federação Russa, que só os vincula a eles.

O texto saído da cimeira diz que os membros que condenam o conflito “lamentam, nos termos mais fortes, a agressão da Federação Russa contra a Ucrânia e exigem a sua retirada total e incondicional do território ucraniano”.

Unânime foi, no entanto, a posição do G20 sobre a “utilização ou a ameaça de utilização de armas nucleares”, que, nos termos da declaração, “é inadmissível”.

“É essencial respeitar o direito internacional e o sistema multilateral que salvaguarda a paz e a estabilidade. Isto inclui defender todos os propósitos e princípios consagrados na Carta das Nações Unidas e acatar o direito internacional humanitário”, refere o documento.

Se o conflito na Ucrânia marcou a cimeira de Bali, e influenciou os temas em discussão nos vários encontros bilaterais entre os líderes das principais economias mundiais que se realizaram à margem, o episódio da explosão na Polónia, junto à fronteira ucraniana, afectou claramente os trabalhos do derradeiro dia do evento.

O primeiro-ministro do Reino Unido, Rishi Sunak, cancelou, por exemplo, um importante encontro com o Presidente chinês, Xi Jinping, para se coordenar com os restantes aliados sobre a resposta ao incidente que matou dois cidadãos polacos e sobre o qual existiam suspeitas de que teria envolvido um míssil russo.

Houve ainda reuniões de emergência entre os representantes dos países da NATO e as suas equipas e aliados, que atiraram para segundo plano alguns pontos da agenda desta quarta-feira do G20, nomeadamente o momento simbólico em que os líderes, vestidos de branco, plantaram mangais e se comprometeram a acelerar os esforços para tentarem estancar o aumento da temperatura do planeta nos 1,5 graus.

Embora os representantes dos Estados-membros da Aliança Atlântica tenham estado, durante as últimas horas da cimeira, em consultas formais, exigidas pela Polónia, para discutirem se o incidente entraria ou não no âmbito do artigo 5.º do tratado da NATO – que diz que um ataque a um membro é um ataque a todos os membros. O Presidente norte-americano informou os seus aliados de que se terá tratado da explosão de um míssil de defesa aérea ucraniano quando tentava interceptar um projéctil russo.

Recep Tayyip Erdogan, Presidente da Turquia – que tem servido como uma espécie de mediador entre a Ucrânia e a Rússia no âmbito dos efeitos da guerra na segurança alimentar regional e mundial –, ilibou mesmo Moscovo.

“A Rússia a dizer que não está envolvida nisto e Biden a dizer que estes mísseis não são de fabrico russo mostram que isto não tem nada que ver com a Rússia”, disse aos jornalistas durante a cimeira do G20, citado pela Reuters.

Segundo a RIA, o Ministério da Defesa da Rússia disse esta quarta-feira que a explosão de terça-feira em território polaco foi causada por “um míssil guiado antiaéreo S-300, da Força Aérea ucraniana”.

Além da questão da guerra e do compromisso em relação à meta climática dos 1,5 graus, da cimeira do G20 resultou ainda a promessa dos seus membros de instarem os respectivos bancos centrais a “calibrar” as suas decisões de política monetária sem esquecer o problema da inflação global.

Os líderes mundiais também se comprometeram a tomar medidas para estabilizar os mercados energéticos, para reforçar os seus sistemas de saúde e para investir na investigação científica na prevenção de futuras pandemias.

E congratularam-se com iniciativas de resposta à insegurança alimentar causada pelo conflito na Ucrânia, como o acordo para exportação de cereais e fertilizantes dos portos ucranianos no mar Negro.

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