Escola: entre o medo e a liberdade

Todos sabemos que queremos mais aquilo que não temos, e que é difícil o caminho até chegarmos a fazer coincidir aquilo que temos com aquilo que queremos.

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"Queremos escolas que promovam a vida, abertas à sociedade e sedentas de futuro" Nuno Ferreira Santos/Arquivo

A Escola como ponto fulcral da aprendizagem quer-se aberta à comunidade e aos outros. Não fazemos nada sozinhos, qual pérola escondida e intocável, mas que ninguém pode ver, tocar, ter ou interagir. No entanto, algumas escolas têm, ainda, o sentimento de que são muito boas e trabalham muito bem, mas estão fechadas sobre si mesmas, numa redoma que muito poucos vêem.

De que serve uma escola sem interação, sem diversidade de pensamento e de atores? Como consegue desenvolver os seus alunos sem se abrir ao meio em que eles vivem? É certo que os alunos passam mais tempo na escola do que fora dela, mas o tempo que passam fora dela é o bastante para os aliciar para novas abordagens e fazer ansiar por diferentes práticas. Todos sabemos que queremos mais aquilo que não temos, e que é difícil o caminho até chegarmos a fazer coincidir aquilo que temos com aquilo que queremos.

Por detrás deste comportamento coletivo vem, na maioria das vezes, um modo de ser e estar de alguém, de um grupo, de uma direção. Habitualmente por base está o medo de enfrentar desafios, o medo de ser questionado, o medo de abrir as portas ao que vem de fora e arranjar problemas internos, o medo do diferente, de fazer diferente, de pensar diferente. O medo.

O medo provoca em nós o alerta de que nos temos de defender e proteger, mas também a coragem para romper com ele e provocar o sentimento de liberdade. O medo aprisiona-nos e faz-nos pequenos, menores, a viver num círculo reduzido, com muito pouca evolução e acompanhar dos tempos. Se há assunto onde a educação não pode ficar é em não querer acompanhar os sinais dos tempos, pois educamos para o futuro, nem sequer para o presente; como podemos educar para a promoção de um futuro saudável em todos os sentidos, se não nos abrimos ao que é a vida de todos os dias?

A sensação de liberdade acontece quando estamos pessoalmente prontos a fazer face ao medo e rompemos com o status quo, com o sempre foi assim. Acontece quando nos sentimos preparados para dizer que não sabemos, mas queremos fazer mais e melhor, que precisamos dos outros, que queremos acrescentar o diferente na nossa comunidade, sem perder a filosofia educativa que nos torna únicos, mas em que atualizamos o carisma e os valores fundacionais ao dias de hoje.

A atualização dos valores de sempre é fundamental para que os mesmos continuem a valer a pena e a ser motor de ação para toda a comunidade. Isto significa que ao expormos as nossas vulnerabilidades, não do modo ‘tenham pena de mim’, mas ‘eu não sei, quero fazer melhor e preciso de vocês’, o que acontece quase sempre é que o desenvolvimento, o sucesso, a felicidade e o sentimento de liberdade começam a estar presentes.

Neste trajeto da tecnologia, da comunicação, da inteligência artificial, estamos todos ligados, em rede. Isolarmo-nos é como se não funcionássemos. É como uma parte de um órgão que deixa de funcionar. Acabamos por definhar e morrer, pouco a pouco.

Fazer circular vida, diversidade, aprendizagem, interação, sem medos e com a afirmação de si próprio e dos seus valores, sendo assertivos e reconhecendo o nosso valor e o dos outros, é promover o sentido de pertença a uma comunidade alargada. Precisamos uns dos outros, para sermos.

Queremos escolas que promovam a vida, abertas à sociedade e sedentas de futuro.


A autora escreve segundo o Acordo Ortográfico de 1990

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