Atrasos na construção da Linha Rosa criam “disrupção” no Porto, acusa Moreira

Câmara critica impacto “profundamente negativo” gerado pela empreitada da construção da nova linha e confronta Metro do Porto com as “implicações graves no escoamento do tráfego da cidade”.

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Linha Rosa, em túnel enterrado, vai ter três quilómetros de extensão e quatro estações Adriano Miranda

Um estudo de acompanhamento e controlo do cronograma de execução da empreitada relativa à Linha Circular Rosa, que vai ligar a Praça da Liberdade à Casa da Música, feito pela Câmara do Porto constata que “praticamente todas as frentes de obras apresentam excessivos atrasos”. Segundo a Câmara do Porto, somando todos os incumprimentos nas nove frentes de obra, verifica-se um atraso acumulado de 1918 dias.

Em algumas das frentes de obra da Linha Rosa, que se traduz na criação de um novo trajecto na cidade do Porto em túnel, a derrapagem dos prazos é superior a um ano, como é o caso da segunda fase da empreitada de Rio de Vila junto à estação de S. Bento, na Baixa do Porto. De acordo com o estudo a que o PÚBLICO teve acesso, o incumprimento neste caso é de 426 dias. Trata-se de uma obra que ainda não arrancou, ao contrário da primeira fase, que está em curso e que conhece um atraso de 365 dias.

Relativamente à empreitada em curso da Casa da Música, no que concerne à triplicação da estação para a construção dos cais da Linha Rosa e do cais da Linha Rubi, existe um atraso de 215 dias que compromete o arranque da segunda fase. Por outro lado, a derrapagem na segunda frente de obra na Galiza, onde está a ser construída uma das quatro estações subterrâneas que a linha vai ter, é um pouco superior: 275 dias. Na primeira fase desta empreitada o incumprimento foi de 183 dias.

A estação do Hospital de Santo António (que está em curso) regista três meses de atraso e no que toca à construção da estação da Praça da Liberdade, a partir do Largo dos Lóios e com Ligação à estação de S. Bento, o incumprimento é de 120 dias, sendo que a conclusão da intervenção “só irá acontecer no final de Abril de 2025”, diz o estudo, revelando que a derrapagem dos prazos é visível também em relação à construção dos poços de ventilação e na infra-estrutura para o desvio do Rio da Vila.

O estudo foi enviado esta quinta-feira ao conselho de administração da Metro do Porto, juntamente com uma carta assinada por Rui Moreira, onde o autarca aponta falhas à forma como a empresa presidida por Tiago Braga está a gerir o projecto da nova linha.

Na carta, Moreira manifesta preocupação com o “impacto profundamente negativo gerado pela empreitada da construção da nova linha do metro” e realça as “implicações graves no escoamento do tráfego da cidade e, por consequência, na circulação dos transportes públicos.” Diz que a “duração e a dimensão da empreitada obrigam a uma interacção estreita e a um diálogo contínuo entre a Metro do Porto, enquanto dono da obra, e o município do Porto, enquanto entidade responsável pelo governo da cidade.”

A carta, a que o PÚBLICO teve acesso, faz referência ao grupo de trabalho de cariz técnico constituído pelos vários serviços intervenientes na empreitada, que tem como “objectivo partilhar informação relevante sobre os trabalhos em curso, devendo o município do Porto garantir naquilo que é a sua responsabilidade, a emissão em tempo útil das licenças e autorizações necessárias.” O autarca adverte na carta que “ficou estabelecido que os representantes do executivo da Câmara do Porto e a administração da Metro reuniriam de 15 em 15 dias, a fim de partilhar o ponto da situação da empreitada, nomeadamente os motivos dos seus atrasos, os impactos negativos provocados pelas obras da Linha Rosa, assim como mecanismos para a sua mitigação.”

Responsabilizando a Metro por ter “cancelado” as reuniões com o grupo de trabalho, a câmara diz que, depois dessa decisão, o município ficou “desprovido de qualquer informação sobre o andamento da empreitada, nomeadamente eventuais atrasos e medidas compensatórias que vão sendo implementadas ou planeadas”.

“Estamos perante uma verdadeira disrupção do normal funcionamento da cidade”, aponta Rui Moreira avisando que “estando previstas novas obras, nomeadamente a Linha Rubi e a Linha de Metrobus (BRT) que vai ligar a Rotunda da Boavista à Praça do Império, o início de tais obras, com o inevitável constrangimento no trânsito, não poderá ser concomitante com as obras ainda em curso e cujo real cronograma não pode ser aferido.”

O PÚBLICO contactou Metro do Porto, mas a administração não quis fazer declarações.

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