Festival alentejano Terras sem Sombra em risco se não tiver apoio da DGArtes

Com 18 edições já realizadas, o festival, que concilia música clássica com visitas ao património local, viu rejeitada a sua candidatura ao Programa de Apoio Sustentado para 2023-2024.

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Festival levou o cante alentejano a Madrid em 2016 José Ferrolho/Diário do Alentejo

O Festival Terras Sem Sombra, que se realiza há 18 anos no Alentejo, pode estar em risco devido à falta de financiamento à iniciativa em 2023, alertou esta quarta-feira a organização do evento.

Segundo Sara Fonseca, da Pedra Angular –​ a associação, com sede em Santiago do Cacém (Setúbal), que organiza o certame –, a Direcção-Geral das Artes (DGArtes) já comunicou “que não tenciona apoiar a candidatura” do festival ao Programa de Apoio Sustentado – Programação, na área da Música, para 2023-2024.

Em causa está o facto de “ter sido esgotado o montante global disponível para a área artística e/ou modalidade de apoio”, justificou a DGArtes na comunicação enviada à Pedra Angular. “Isto significa que o festival, apesar de considerado elegível, poderá não receber apoio financeiro por falta de verba”, sendo que “a candidatura que apresentámos corresponde ao patamar mais baixo [60 mil euros]”, acrescentou Sara Fonseca.

“Sem este apoio, fica em risco a continuidade do festival Terras Sem Sombra”, assegura, sublinhando que “a exclusão do Alentejo é algo inesperado” e que “nunca aconteceu nos últimos anos”.

Ainda assim, frisou, a associação tudo fará “para prosseguir o caminho iniciado em 2003”, uma vez que a “rede de parcerias com os municípios e outras entidades da região é sólida”. Mas a dirigente da Pedra Angular receia que, sem o apoio da DGArtes, talvez não seja possível garantir, “atempadamente, uma programação qualificada”.

O festival Terras Sem Sombra, de carácter itinerante, nasceu em 2003, na altura por iniciativa do Departamento do Património Histórico e Artístico da Diocese de Beja. A associação Pedra Angular foi co-organizadora desde a primeira edição, tendo assumido, em 2016, a organização da iniciativa, que se destacou, ao longo de 18 edições, por conciliar espectáculos de música clássica com visitas ao património natural e edificado e com acções de salvaguarda da biodiversidade.

A edição deste ano terminou em Outubro, depois de ter passado pelos municípios alentejanos de Ferreira do Alentejo, Vidigueira, Beja, Mértola e Odemira (todos no distrito de Beja), Mourão e Montemor-o-Novo (Évora), Castelo de Vide e Alter do Chão (Portalegre) e Santiago do Cacém e Sines (Setúbal).

Na opinião de Sara Fonseca, “descontinuar” o trabalho realizado pelo festival desde 2003 “deixa o território alentejano sem a sua temporada musical e pode comprometer seriamente o desenvolvimento de novos públicos”, além de “prejudicar a internacionalização que tem vindo a ser construída, ao longo de anos e que não admite improvisações”.

Por isso, a Pedra Angular vai “solicitar a reavaliação da decisão, até porque, ao que se sabe, o Alentejo ficou fora dos apoios [da DGArtes] na área da Música”, anunciou.

Sara Fonseca disse ainda que a “as regras foram mudadas quando as candidaturas já estavam entregues”, tendo-se gerado “uma acentuada assimetria entre apoios quadrienais e bienais e entre regiões, privilegiando as grandes estruturas, ao invés de projectos mais pequenos, disseminados pelo país”.

Confia, contudo, que o ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva, “atenda ao equilíbrio entre territórios e manifestações artísticas e à qualidade do festival alentejano, reconhecida pela DGArtes”.

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