Banco do Japão continua a ser a excepção: mantém juros baixos

Habituado a lutar contra a deflação, o Banco do Japão não está ainda impressionado com a variação de preços de 3% que se regista no país, o valor mais alto dos últimos oito anos.

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Inflação no Japão está neste momento nos 3% Reuters/KIM KYUNG-HOON

Numa altura em que todos as principais autoridades monetárias no mundo anunciam subidas das taxas de juro bruscas numa tentativa de controlar a escalada da inflação, o banco central japonês mantém-se como a excepção e esta sexta-feira voltou a decidir manter a sua política de taxas muito baixas, revelando estar neste momento mais preocupado com o risco de recessão do que de inflação.

Cumprindo aquelas que eram as expectativas da generalidade dos analistas, o Banco do Japão anunciou que mantém a sua taxa de juro de curto prazo de -0,1% e que continuará a guiar a taxa de juro da dívida de longo prazo para zero.

Embora assumindo que começa a ser claro na economia japonesa, pela primeira vez em décadas, o surgimento de pressões inflacionistas mais persistentes, os responsáveis pela condução da política monetária desta economia asiática continuam a preferir a manutenção de políticas de carácter expansionista, até porque estão também mais pessimistas em relação à capacidade de o Japão evitar uma recessão.

Esta sexta-feira, o Banco do Japão reviu em baixa as suas previsões de crescimento económico, tanto para 2022 como para 2023.

Ainda assim, ao mesmo tempo, são também notórias as preocupações crescentes com a inflação. Em Setembro, a taxa de inflação no Japão atingiu os 3%. É um valor que fica bem distante dos números que se têm vindo a registar, por exemplo, na zona euro ou nos Estados Unidos, mas, ainda assim, a verdade é que já está ao nível mais alto dos últimos oito anos no país.

O banco central passou a assumir que a inflação no final do ano fiscal de 2022 estará nos 2,9%, um valor que supera os 2,3% previstos em Julho e os 2% que são definidos como meta da sua política monetária.

Para já, esta subida da inflação num país que, ao longo das últimas décadas, tem estado em luta permanente contra a deflação e os riscos de estagnação económica, não é o suficiente para levar os responsáveis do banco central a operar uma mudança de rumo semelhante à que já foi feita pelo Banco Central Europeu ou pela Reserva Federal. Mas há quem aposte que também o Banco de Japão se veja forçado a endurecer a sua política monetária num futuro próximo.

O principal desafio está no facto de a diferença de políticas tão acentuada entre o Japão e as outras potências económicas mundiais estar a conduzir a uma depreciação contínua do iene face ao dólar e a outras divisas internacionais, o que acaba por criar mais pressões inflacionistas na economia e que já forçou mesmo à realização de algumas intervenções extraordinárias no mercado.

Para além disso, também esta sexta-feira, o governo nipónico decidiu lançar um pacote de apoio à economia para lidar com a subida da inflação e que o executivo diz poder dar um estímulo equivalente a 4,6% do PIB. Isto pode acentuar também as pressões inflacionistas.

Compreendendo este risco - e tendo em mente aquilo que aconteceu recentemente no Reino Unido - o governo manifestou o seu desejo de que o Banco do Japão esteja atento e reaja a qualquer impacto negativo que possa surgir nos mercados financeiros.

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