Abuso sistémico no futebol feminino dos Estados Unidos

Investigação independente condena conduta sexual no futebol feminino norte-americano e acusa responsáveis da Liga.

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Sally Q. Yates, antiga vice-procuradora-geral americana que liderou a investigação DR

O abuso verbal, emocional e a má conduta sexual tornaram-se “sistémicos” no futebol feminino dos Estados Unidos, abrangendo várias equipas, treinadores e vítimas, revela uma investigação independente liderada pela antiga vice-procuradora-geral americana, Sally Q. Yates, conhecida no início de Outubro. No relatório final, a comissão concluiu que a National Women’s Soccer League (NWSL) e a United States Soccer Federation (USSF) — que encomendou esta investigação falharam na missão de salvaguardar a segurança básica das jogadoras.

“A nossa investigação revelou uma Liga [futebol feminino] na qual o abuso e a má conduta abuso verbal e emocional e má conduta sexual se tornaram sistémicos”, revela o relatório a que o PÚBLICO teve acesso e que demorou um ano a concluir: “O abuso na NWSL está enraizado numa cultura mais profunda no futebol feminino, começando nas ligas juvenis, que normaliza o treino verbalmente abusivo e esbate as fronteiras entre treinadores e jogadoras.”

A investigação acusa as equipas, a Liga e a federação de falharem repetidamente em responder adequadamente quando confrontadas com relatos de jogadoras e evidências de abuso, mas também de fracassarem na tentativa de instituir medidas básicas para prevenir e lidar com estes casos.

“As descobertas desta investigação são de partir o coração e profundamente perturbadoras”, admitiu Cindy Parlow, presidente da USSF e ex-jogadora da selecção feminina americana, ao divulgar as conclusões do relatório, citada pelo jornal inglês The Guardian.

Entre os exemplos das más condutas referidas no relatório, inclui-se um treinador a mostrar pornografia a uma jogadora e a masturbar-se diante dela durante o que deveria ser uma análise a um jogo. “Como resultado, treinadores abusivos passaram de equipa para equipa, branqueados por comunicados de imprensa que lhes agradecem os seus serviços”, revela o documento.

Esta investigação independente foi desencadeada na sequência de reportagens publicadas no site desportivo americano The Athletic sobre o abuso sexual e emocional generalizado de jogadoras, em Outubro do ano passado.

A par desta investigação conduzida por Sally Q. Yates, decorre ainda uma outra, também independente, encomendada pela NWSL e pela NWSL Players’ Association. “As raízes do abuso no futebol feminino são profundas e não serão eliminadas apenas pela reforma da NWSL”, alertou o relatório já conhecido.

Quatro dias depois da publicação dos resultados da primeira investigação, as jogadoras da selecção americana e inglesa demonstraram solidariedade às vítimas de abuso sexual da NWSL, durante uma partida particular disputada em Wembley, Londres, usando braçadeiras azul-petróleo.

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