Um livro de artistas “comentado” por Agustina

Uma exposição escrita: Agustina Bessa-Luís e a Colecção de Serralves abre este sábado na fundação portuense. Uma pequena “entrada” para o grande livro-dicionário do centenário da escritora.

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Agustina Bessa-Luís Paulo Ricca
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Not the point, de Richard Tuttle Filipe Braga

Agustina Bessa-Luís escreve sobre intelectuais e minorias ao lado de Tritão, uma sereia com cabeça de cão, de Paula Rego; disserta sobre moda junto a Leopardo, uma serigrafia de Julião Sarmento glosando as tendências de Inverno; aborda a emancipação da mulher perante o vídeo Violent Incident, de Bruce Nauman; fala sobre Portugal ao lado de um mapa em que Fernando Lanhas assinala os locais de impacto de meteoritos no país desde o século XVIII; fala sobre bibliotecas junto à escultura-maleta Not the point, de Richard Tuttle…

Ao todo, são 33 os artistas que compõem Uma exposição escrita: Agustina Bessa-Luís e a Colecção de Serralves, que este sábado terá a sua inauguração oficial no Museu de Arte Contemporânea de Serralves, integrada na programação do centenário da autora de A Sibila. Nas paredes de quatro salas do museu portuense, o visitante é convidado a ler excertos retirados de livros, artigos, ensaios e outros escritos associados a cada uma dessas obras – fragmentos “reveladores da mundividência e ao mesmo tempo da multiplicidade de interesses de Agustina”, diz ao PÚBLICO António Preto, que com Ricardo Nicolau assina a curadoria.

“É como ler um livro em três dimensões”, acrescenta Ricardo Nicolau, adjunto do director do Museu de Serralves, realçando que a exposição que poderá ser visitada até Abril pretende “fazer dos visitantes simultaneamente espectadores e leitores”.

Não se trata, aqui, de reunir obras que ilustrem ou confirmem os escritos de Agustina, mas que “potenciem a leitura desses textos”, reforça António Preto, director da Casa do Cinema Manoel de Oliveira, realçando que essa associação também deverá funcionar no sentido inverso: “A leitura dos textos pode propor outras modalidades de olhar as obras [da Colecção de Serralves].

Uma pirâmide feita de metal e queijo, Sobre o mar, de Dieter Roth, “comentando” uma reflexão sobre decoração; uma piscina fotografada por Patrícia Almeida, para a série Portobello, ao lado de um aforismo sobre turismo; um tríptico de consolas de Manuel Alvess junto a um texto sobre folclore; e tantas outras associações inesperadas, mais ou menos surpreendentes, mas nunca apenas ilustrativas, esperam o visitante nestas salas do Museu de Serralves.

“Independentemente daquilo que Agustina escreveu ou não escreveu sobre arte contemporânea – e são conhecidas as suas reflexões sobre obras de autoras como Vieira da Silva, Paula Rego ou Graça Morais, por exemplo –, é completamente injusta essa visão que os artistas contemporâneos têm de que ela seria uma espécie de manifestação oitocentista no século XX. Quisemos combater essa visão”, realça Ricardo Nicolau.

Ambos os curadores quiseram também que Uma exposição escrita pudesse funcionar como “uma exposição-dicionário”. “Evitando redundâncias, explorando nuances e contradições, tentou-se que as reverberações, sinapses inesperadas, entre as palavras e as peças seleccionadas pudessem ampliar os seus sentidos respectivos e possíveis interpretações. Para ler tanto quanto para ver”, escrevem os dois curadores no programa. Uma exposição-dicionário com várias entradas para um universo muito pessoal, que cada visitante folheará a seu bel-prazer.

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