Celebridades iranianas sob ameaça. Angelina Jolie elogia “coragem” das mulheres no Irão

As autoridades iranianas ameaçaram “tomar medidas” contra as celebridades nacionais que apoiam as manifestações. Fora do país, a voz de Angelina Jolie, embaixadora da Boa Vontade do ACNUR, juntou-se aos protestos.

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Protestos, em Melbourne, Austrália, contra a repressão iraniana que resultou na morte de uma jovem de 22 anos EPA/JAMES ROSS

A actriz norte-americana Angelina Jolie, reconhecida pelo seu activismo no papel de embaixadora da Boa Vontade do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR), recorreu às redes sociais para se manifestar solidária com as mulheres que lutam pela “liberdade para viver e respirar sem violência ou ameaças” no Irão.

Jolie enalteceu o “respeito” devido às “mulheres corajosas, desafiadoras e destemidas do Irão”, referindo-se a quem sai à rua para se manifestar contra as políticas que obrigam as mulheres a usarem hijab em público, depois de Mahsa Amini, uma jovem de 22 anos, ter morrido depois de interpelada pela “polícia da moralidade”.

As autoridades consideraram que a rapariga tinha o véu islâmico mal colocado e detiveram-na. Horas depois, a jovem foi levada ao hospital em coma, tendo o óbito sido declarado três dias depois. O relatório médico afirma que a rapariga exibia lesões graves na cabeça e uma fractura no crânio.

Desde então, milhares de mulheres, um pouco por todo o país, saíram à rua e queimaram os seus hijabs. Os primeiros protestos seguiram-se ao funeral, no sábado, dia 17, e têm vindo a crescer, o que resultou em restrições de acesso à Internet e ordens às autoridades para “confrontar duramente” os manifestantes. Segundo a Amnistia Internacional, pelo menos 83 pessoas morreram desde o início das manifestações que não dão sinais de abrandar.

Paralelamente, o Irão ameaçou “tomar medidas” contra as celebridades que nos últimos dias apoiaram as manifestações. A Agência de Notícias dos Estudantes Iranianos​ citou, na quinta-feira, o governador de Teerão, Mohsen Mansouri, como tendo dito que estão decididas “medidas contra as celebridades que contribuíram para alimentar os tumultos”, entre as quais estão atletas, actores e realizadores que apoiaram publicamente o movimento, apelando às autoridades para que ouvissem as exigências de quem se manifesta.

O ponta-de-lança iraniano Sardar Azmoun, que alinha pelo alemão Bayer Leverkusen e pela Selecção iraniana, por exemplo, recorreu ao Instagram para declarar que está do lado das mulheres do seu país, pondo em causa a sua ida ao Mundial de futebol: “Não quero saber se sou despedido. Viva as mulheres iranianas”, escreveu.

Já o cineasta Asghar Farhadi, nomeado em 2012 para o Óscar de melhor argumento original por Uma Separação, desafiou, num vídeo publicado no Instagram, “todos os artistas, cineastas, intelectuais, activistas dos direitos civis de todo o mundo e de todos os países e todos os que acreditam na dignidade humana e na liberdade, a serem solidários com os poderosos e corajosos mulheres e homens do Irão”.

E os iranianos a residir fora do país responderam à chamada: para este sábado, 1 de Outubro, estão planeados vários protestos um pouco por todo o mundo. O escritor iraniano Hamed Esmaeilion estima que mais de 100 cidades em todo o mundo se juntem à causa — em Lisboa, a concentração está marcada para as 15h na Praça do Rossio.

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