Após a vitória da extrema-direita em Itália, a comunidade LGBT está com “medos muito reais”

Pela primeira vez desde a II Guerra Mundial, a Itália vai ser governada pela extrema-direita, o que está a preocupar a comunidade LGBT.

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Reuters/BERNADETT SZABO

A comunidade LGBT tem “medos muito reais” depois da vitória da coligação da direita e extrema-direita nas eleições legislativas italianas, disse à Reuters um activista pelos direitos LGBT.

O grupo nacionalista Irmãos de Itália, liderado por Giorgia Meloni, emergiu como o maior partido após a contagem dos votos e irá liderar oGgoverno. É a primeira vez desde a Segunda Guerra Mundial que um partido de extrema-direita governa.

"Infelizmente, existem medos muito reais” em relação à perda de direitos civis sob a nova administração, disse Fabrizio Marrazzo, do Partido Gay.

Meloni é aliada da Liga, outra força de extrema-direita liderada por Matteo Salvini, e do partido conservador Forza Italia, liderado pelo antigo primeiro-ministro, Silvio Berlusconi.

"A Liga e, em parte, os Irmãos de Itália têm nos seus manifestos coisas bastante negativas para a nossa comunidade, como sublinhar a importância de proteger apenas a família tradicional”, disse Marrazzo.

Meloni, de 45 anos, foi criada por uma mãe solteira e não é casada, mas tem uma filha. A futura primeira-ministra italiana apresenta-se como defensora dos valores cristãos e inimiga do que chama “ideologia de género” e do “lobby LGBT”. Explicando a sua oposição aos direitos dos pais homossexuais, disse que “as crianças desafortunadas” que estão para adopção “merecem o melhor” — ou seja, um pai e uma mãe.

Meloni negou os rumores de que a sua visão socialmente conservadora passaria por a minar ou abolir a legislação italiana existente sobre o direito ao aborto ou relações entre pessoas do mesmo sexo. “O que está lá, fica lá”, disse, na semana passada.

“O género e a colonização LGBT”

Marrazzo, um antigo líder da associação Arcigay LGBT (lésbica, gay, bissexual e transgénero), disse estar mais preocupado com os sinais culturais vindos da direita.

Disse que poderia tornar-se mais difícil gerir programas de discriminação anti-LGBT nas escolas e que, no passado, tinha havido um aumento de ataques homofóbicos em cidades e regiões italianas com governos de direita.

Pro Vita & Famiglia, um lobby católico conservador e altamente céptico quanto à educação sexual nas escolas, apelou ao novo Governo para escolher um ministro da Educação que se oponha a “qualquer colonização ideológica LGBT e de género nas escolas”.

Meloni não deverá tomar posse antes do final de Outubro, pelo que é demasiado cedo para dizer se vai ou não dar ouvidos aos conselhos. Entretanto, o porta-voz da cultura do partido causou agitação ao dizer na semana passada que os casais homossexuais “não são legais”.

Federico Mollicone esclareceu, mais tarde, que se referia apenas aos casais gay que adoptam. Disse, também, que o seu partido apoia as uniões entre pessoas do mesmo sexo — apesar de ter votado contra a sua introdução em 2016 — e “é contra toda a discriminação”. O assistente de Meloni também apoiou a censura de um episódio do popular desenho infantil Peppa Pig que apresentava um urso polar com duas mães, dizendo que os pais homossexuais não podem ser apresentados a menores “como um facto absolutamente natural”.

Mas as sondagens sugerem que a maioria dos italianos está mais aberta. Em Junho, uma estudo do Ipsos mostrou que 63% dos italianos apoiavam o casamento homossexual, 15 pontos percentuais acima de 2013, e 59% eram a favor da adopção por casais gay, um aumento de 17 pontos em relação há nove anos.

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