Hipertensão arterial: tratá-la é fácil e pode salvar a sua vida

A pressão arterial elevada é um importante factor de risco para doenças cardiovasculares graves, razão por que tratá-la é crucial. Na semana em que se assinala o Dia Mundial do Coração, a 29 de Setembro, fica o apelo para que olhe pelo seu coração.

Foto
Unsplash

Os dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) são bem claros e não deixam margem para qualquer dúvida: as doenças cardiovasculares (DCV) são a principal causa de morte no mundo, estimando-se que, só em 2019, tenham sido responsáveis pela morte de 17,9 milhões de pessoas, o que representou 32% de todos os óbitos a nível global nesse ano. Em Portugal e na Europa, a realidade é igualmente preocupante – ou seja, as DCV constituem também a principal causa de mortalidade – e de acordo com os últimos dados apresentados, em 2022, pela European Society of Cardiology (ESC, na sigla em inglês), a prevalência das DCV no nosso país é de 4871 casos por 100 mil habitantes.

Como explica o cardiologista Lino Gonçalves, director do Serviço de Cardiologia do Centro Hospitalar Universitário de Coimbra, “as DCV englobam um conjunto de várias patologias que afectam o coração e os vasos sanguíneos humanos”, sabendo-se que um dos principais factores de risco para o seu desenvolvimento é a hipertensão arterial. Por este motivo, na semana em que se assinala o Dia Mundial do Coração, é relevante chamar a atenção para este problema, tão frequentemente ignorado e com tantas consequências negativas.

O que é a hipertensão arterial?

Existe hipertensão arterial quando a pressão arterial necessária para que o sangue leve oxigénio e nutrientes a todo o organismo se encontra constantemente elevada. Apesar de este ser um problema de saúde sobre o qual muito se fala, a verdade é que a sua grande prevalência continua a ser motivo de preocupação. Só em Portugal, estima-se que 24,4% da população apresente hipertensão arterial, de acordo com os dados mais recentes disponibilizados pela ESC. A nível mundial, o panorama é igualmente preocupante, com a OMS a apontar cerca de 1,28 mil milhões de adultos, entre os 30 e os 79 anos de idade, com hipertensão arterial, 46% dos quais não diagnosticados.

Considera-se que a pressão arterial é normal quando a sistólica (máxima) está abaixo de 140 milímetros de mercúrio e a diastólica (mínima) está abaixo dos 90 milímetros de mercúrio, tudo o que se afasta destes valores, carece de avaliação clínica. Como realça o médico, “quando a pressão arterial está constantemente elevada, torna-se numa doença crónica, muito frequentemente assintomática, constituindo a longo prazo um dos principais factores de risco para várias doenças graves, como a doença coronária, o acidente vascular cerebral, a insuficiência cardíaca, a doença arterial periférica, a incapacidade visual, a doença renal crónica e a demência, as quais podem resultar não só no aumento da mortalidade, mas também em situações incapacitantes para a vida normal das pessoas”.

O que causa e como se manifesta?

O consumo exagerado de sal (muitas vezes integrado em alimentos processados, passando assim despercebido) e a ingestão elevada de bebidas alcoólicas estão entre os principais factores de risco para a hipertensão. Se tivermos em conta que a quantidade de sal presente na alimentação no nosso país é cerca do dobro daquela que é recomendada pela OMS (ou seja, 5 gramas de sal por dia para um adulto), e que os portugueses consomem, em média, 12 litros de álcool por ano, o que é um dos registos mais elevados dos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico, facilmente se percebe que a hipertensão deve ser encarada como um problema urgente. Isso mesmo é realçado por Lino Gonçalves, segundo o qual “é absolutamente necessário reduzir o consumo de sal e de bebidas alcoólicas em quantidades elevadas em Portugal”.

De acordo com o também professor catedrático da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra, uma das características da hipertensão que dificulta o seu diagnóstico prende-se com o facto de ser “na maioria dos casos, assintomática, pelo que pode passar despercebida”. Por esse motivo, destaca que “é fundamental que a pressão arterial seja avaliada regularmente, mesmo que a pessoa não tenha sintomas”. Nos casos em que há sintomatologia, esta pode revelar-se através de “dores de cabeça, tonturas, zumbidos, aumento dos batimentos cardíacos, dores no peito, disfunção eréctil e falta de ar”.

Prevenção e tratamento muito eficazes

Se é um facto que as consequências da hipertensão arterial podem ser graves, é igualmente verdade que a sua prevenção é possível, passando sobretudo pela adopção de um estilo de vida saudável. O cardiologista aponta “em primeiro lugar, não fumar e ter uma alimentação saudável, incluindo a redução do consumo de sal, e fazer exercício físico regular”. Por outro lado, “é igualmente importante evitar o consumo excessivo de álcool, de açúcar e de gorduras saturadas, além de que é também fundamental controlar o peso”, especifica.

Quanto ao tratamento da hipertensão arterial, sublinha que tal “depende da sua gravidade”. “Numa primeira fase, devem alterar-se os hábitos alimentares e o estilo de vida”, explica, “mas se estas mudanças não forem suficientes para controlar a hipertensão arterial, existem diversos medicamentos disponíveis, que podem ser usados isoladamente ou em combinação. Caberá ao médico decidir qual o melhor tratamento para cada caso individual”.

Seguir as indicações médicas é determinante, já que “se a pressão arterial for controlada, seja através da mudança de hábitos alimentares e de estilo de vida, seja através da medicação, é de esperar que a qualidade de vida seja normal e que a sobrevida seja a expectável para o grupo etário”, salienta o especialista.


Fontes:

  • https://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/cardiovascular-diseases-(cvds)
  • https://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/hypertension
  • https://alimentacaosaudavel.dgs.pt/nutriente/sal/
  • https://www.sphta.org.pt/files/physa_study_slides_sph-v2.pdf
  • https://www.sphta.org.pt/pt/base8_detail/25/105 https://www.oecd.org/health/preventing-harmful-alcohol-use-6e4b4ffb-en.htm