Irão acusa Estados Unidos de instigar protestos, que já fizeram dezenas de mortos

Balanço oficial, incluindo manifestantes e forças de segurança, é de 41 mortos, mas uma ONG de direitos humanos diz que morreram pelo menos 57 pessoas que protestavam.

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Manifestantes pró-governo queimaram bandeiras dos Estados Unidos, Reino Unido e Israel numa manifestação no domingo ABEDIN TAHERKENAREH/EPA

Continuam os protestos nas ruas de muitas cidades iranianas e cerca de 1200 pessoas terão sido detidas na última semana. Só na província nortenha de Mazandaran, “450 arruaceiros foram presos”, disse o procurador-geral regional, Mohammed Karimi, adoptando o termo com que o regime se refere aos que se manifestam.

A estas, somam-se as 739 detenções em todo o país que as autoridades haviam anunciado no sábado, ao fim de uma semana de contestação provocada pela morte de Masha Amini, de 22 anos, enquanto estava sob custódia policial por alegado mau uso do hijab. Entre os detidos há pelo menos 60 mulheres, que têm desafiado a polícia queimando os seus lenços islâmicos ou cortando o cabelo.

“Nos últimos dias, os arruaceiros atacaram edifícios governamentais e danificaram bens públicos em certas zonas de Mazandaran sob a direcção de agentes estrangeiros”, acusou Karimi.

Esta segunda-feira, um porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros iraniano deu gás a essa alegação, acusando os Estados Unidos de estarem por trás dos protestos maciços. “Washington está sempre a tentar enfraquecer a estabilidade e a segurança do Irão, apesar de não ser bem-sucedido”, disse Nasser Kanaani ao site noticioso Nour.

A insatisfação de Teerão estende-se também a alguns países europeus, que Kanaani acusou de ignorarem “a presença de milhões de pessoas nas ruas e praças do país em apoio ao sistema”. O Governo decidiu convocar os embaixadores do Reino Unido e da Noruega para pedir explicações sobre aquilo que considera ser uma cobertura “hostil” da comunicação social londrina em língua persa e sobre uma intervenção a favor dos protestos feita pelo presidente do Parlamento norueguês, que nasceu em Teerão.

“Se os meus pais não tivessem escolhido fugir em 1987, eu seria um dos que estão a lutar nas ruas com risco de vida”, escreveu no Twitter o parlamentar, Masud Gharahkhani.

De acordo com as autoridades, citadas pela AFP, entre manifestantes e polícias morreram até agora 41 pessoas. A Iran Human Rights, diz que morreram pelo menos 57 manifestantes. “Não temos conseguido confirmar um grande número de relatos devido às restrições de Internet, mas daremos novidades se e assim que as recebermos”, escreveu no Twitter esta ONG sediada em Oslo.

Ainda segundo a organização, esta segunda-feira os professores e alunos de 18 universidades em todo o país decidiram fazer greve às aulas e juntaram-se aos protestos, onde se pede a libertação dos detidos e gritam-se coisas como “morte ao ditador!” e “abaixo a república islâmica”.

Os meios de comunicação estatais divulgaram no domingo as imagens de uma grande manifestação favorável ao Governo, em que foram entoados cânticos contra os Estados Unidos. “A sedição está na origem dos motins e é orquestrada pela América”, diziam os manifestantes, citados pela Reuters.

Já esta segunda, a agência noticiosa Tasnim publicou as fotografias de duas dezenas de manifestantes nas ruas de Qom, a cerca de 150 quilómetros de Teerão. A divulgação das imagens dos “líderes dos motins” vinha acompanhada de um pedido aos habitantes para que ajudem as autoridades a identificá-los e a detê-los.

O líder da Autoridade Judicial do Irão, Gholam-Hossein Mohseni Ejeï, ameaçou no domingo que não teria “nenhuma indulgência” para com os manifestantes e pediu à polícia que aja “firmemente” contra “aqueles que atentam contra a segurança”.

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