Depois de disparar em 2020, poupança já está abaixo do nível pré-pandemia

Consumo das famílias tem vindo a crescer mais do que o rendimento disponível desde meados do ano passado. Uma ajuda para o crescimento que não pode durar para sempre.

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Com o fim dos confinamentos, despesa dos portugueses com turismo voltou a subir Duarte Drago

É uma das explicações para o crescimento mais forte do consumo e da economia durante a primeira metade deste ano: depois de, em média, terem acumulado poupança no auge da pandemia, os portugueses estão agora a utilizá-la para realizar consumos adiados e para resistir melhor à escalada da inflação.

De acordo com os dados das contas nacionais publicados pelo Instituto Nacional de Estatística, a poupança das famílias foi, no ano terminado no segundo trimestre de 2022, de 5,9% do rendimento disponível. É uma redução de 1,4 pontos percentuais face ao valor registado há três meses, prolongando a tendência de descida que se verifica neste indicador desde que, no primeiro trimestre de 2021, atingiu um máximo de 13,4%.

A elevada taxa de poupança das famílias portuguesas registada na segunda metade de 2020 e no início de 2021 foi motivada pelo facto de, apesar de se ter registado nessa altura uma diminuição do rendimento disponível, o nível de consumo caiu ainda mais, numa altura em que muitas pessoas passaram mais tempo em casa, gastando menos em bens e serviços como os do turismo e da restauração.

Foi um comportamento forçado pela pandemia que conduziu à acumulação durante esse período de uma poupança considerável. Agora, com as medidas de confinamento totalmente retiradas, com as famílias com vontade de realizar os consumos adiados e com a subida da inflação a pressionar os orçamentos de toda a população, assiste-se ao fenómeno inverso.

Os dados do INE mostram que, apesar de o rendimento disponível dos portugueses ter voltado a subir, o consumo tem estado, desde o segundo trimestre de 2021, a crescer a um ritmo ainda maior. E o crescimento da economia portuguesa foi, no curto prazo, impulsionado por isso, mesmo numa altura em que a inflação penaliza o poder de compra dos portugueses.

O governador do Banco de Portugal já tinha aliás assinalado que a poupança acumulada poderia ajudar a economia portuguesa a lidar com a inflação. “Em 2020, foi o Estado que aumentou o endividamento, e era assim que tinha de acontecer. Ao mesmo tempo, registou-se um aumento da poupança das famílias, que nos permite ter agora uma perspectiva positiva daquilo que pode acontecer neste choque”, afirmou Mário Centeno no passado mês de Maio.

O problema está em saber até quando será possível utilizar a poupança acumulada durante a pandemia. Neste momento, a taxa de poupança está já a um nível mais baixo do que aquele que se registava antes da pandemia. Durante o ano de 2019, a taxa de poupança das famílias foi de 7,2% e em 2018 de 6,8%. A taxa de poupança de 5,9% que agora se regista indicia por isso que os portugueses estão já a recorrer à poupança acumulada na pandemia.

Para o total da economia, a tendência está a ser também de deterioração do saldo com o exterior. Os dados do INE mostram que o défice externo português foi de 0,8% do PIB no ano terminado no segundo trimestre, quando três meses antes estava nos 0,5%. A contribuir para este resultado está também o agravamento dos preços de alguns dos produtos mais importados pelo país, como o petróleo.

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