Berlusconi diz que Putin invadiu a Ucrânia para pôr “pessoas decentes” em Kiev

O antigo primeiro-ministro italiano, amigo de longa data de Vladimir Putin, afirmou que Putin, foi “pressionado” pelo seu partido e pelo povo a invadir a Ucrânia. Acredita que o seu objectivo era apenas retirar Zelensky do poder.

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Silvio Berlusconi chegou a descrever Putin como "um irmão mais novo" GIUSEPPE LAMI/EPA

O Presidente russo, Vladimir Putin, foi “pressionado” a invadir a Ucrânia e queria apenas colocar “pessoas decentes” no Governo de Kiev, afirmou o ex-primeiro-ministro italiano Silvio Berlusconi, atraindo fortes críticas pouco antes das eleições em Itália. O líder italiano, cujo partido Forza Itália pertence à coligação de direita favorita à vitória nas eleições gerais de domingo, é amigo de longa data de Putin e os seus comentários devem alarmar os aliados ocidentais.

“Putin foi pressionado pelo povo russo, pelo seu partido e pelos seus ministros para criar esta operação especial”, disse Berlusconi à televisão pública italiana RAI na quinta-feira, utilizando a retórica oficial russa para a guerra. O plano da Rússia era, originalmente, conquistar Kiev “em apenas uma semana”, e substituir o Presidente ucraniano democraticamente eleito, Volodymyr Zelensky, por “um Governo de pessoas decentes”. Com isto feito, “Putin abandonaria a Ucrânia na semana seguinte”, acrescentou.

“Eu nem entendi o porquê de as tropas russas se terem espalhado pela Ucrânia. Para mim, deveriam ter ficado apenas em Kiev”, disse Berlusconi, de 85 anos, que uma vez descreveu Putin como um “irmão mais novo”.

Enfrentando a condenação generalizada dos seus opositores, Berlusconi divulgou um comunicado nesta sexta-feira no qual afirmou que as suas opiniões foram “simplificadas demais”. “A agressão contra a Ucrânia é injustificável e inaceitável. A posição [da Forza Italia] é clara. Estaremos sempre com a UE e a NATO”, sublinhou.

"Escandaloso e ultrajante"

“São palavras escandalosas e muito sérias aquelas de Berlusconi”, comentou o líder do Partido Democrata, de centro-esquerda, Enrico Letta. “Se na noite de domingo o resultado for favorável à direita, a pessoa mais feliz será Putin”, acrescentou Letta, em entrevista à RAI.

O líder do Acção (centristas liberais), Carlo Calenda, referiu, por sua vez, em entrevista à Radio24: “Ontem Berlusconi falou como um general de Putin. Foi totalmente ultrajante”. Antonio Noto, director do instituto de sondagens Noto Sondaggi, reforçou: “Acho que ele deixou escapar algo em que acredita, mas que não queria dizer em voz alta”.

Renato Mannheimer, director da Eumetra, outra empresa de sondagens, afirmou que “este tipo de comentário muda muito poucos votos”. “As pessoas não estão muito interessadas em política externa”, acrescentou.

Sob o Governo do ainda primeiro-ministro Mario Draghi, a Itália tem sido um firme defensor das sanções ocidentais à Rússia após a invasão. Giorgia Meloni, do partido de extrema-direita Irmãos da Itália e que é a grande favorita a ser a próxima chefe de governo em Itália, prometeu manter essa posição. Já os seus aliados, Berlusconi e Matteo Salvini, da Liga, têm sido mais ambivalentes.

Berlusconi disse, na quinta-feira, que a decisão de Moscovo de invadir a Ucrânia seguiu um apelo dos separatistas pró-Rússia no Leste ucraniano que, supostamente, disseram a Putin: “Por favor, defenda-nos. Caso não o faça, não sabemos como podemos acabar”.

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