Fuga de hidrogénio parece estar resolvida e Ártemis I pode voar já na próxima semana

Houve sustos e percalços no teste de abastecimento desta quarta-feira, mas no final do dia tudo estava a funcionar. Sem fugas de hidrogénio, cenário de lançamento está mais próximo.

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A hipótese de descolagem da Ártemis I fica mais próxima, depois do sinal positivo no teste de abastecimento STEVE NESIUS/REUTERS

Não há voo, nem entramos sequer na fase de aquecer os motores. Esta quarta-feira, houve mais uma transmissão da NASA em directo do Centro Espacial Kennedy, na Florida (Estados Unidos), com o foguetão Space Launch System (SLS) no centro da tela. E, depois de tantos adiamentos, há boas notícias: o abastecimento do foguetão com combustível correu conforme planeado – e poderemos ter a descolagem do programa Ártemis já na próxima semana.

No início de Setembro, havia três “se” que a agência espacial norte-americana tinha de resolver para lançar a Ártemis I em direcção à Lua. Os primeiros dois parecem resolvidos: consertar a fuga de hidrogénio que cancelou a segunda tentativa de lançamento; e testar se o isolamento substituído solucionou esta fuga.

No fundo, o teste de abastecimento daquele que é o foguetão mais poderoso da NASA é um ensaio para o lançamento, naquela que tem sido a fase crítica do processo. Nas duas tentativas de descolagem, foram duas fugas de hidrogénio líquido que impediram que a Ártemis I já tivesse saído do planeta. O SLS foi abastecido com sucesso: nenhuma fuga foi detectada.

Não aconteceu sem alguns percalços. Um dos avisos anunciados na transmissão dos canais da NASA deu conta de um problema eléctrico. E o já clássico alarme da Ártemis: mais uma fuga de hidrogénio líquido. A nova fuga causou atrasos (três horas face ao calendário inicial do teste), mas acabou por ser resolvida – os técnicos aumentaram a pressão e a fuga de hidrogénio reverteu, travando a saída do combustível. Contas feitas ao dia de abastecimento, tudo tinha corrido bem.

Os testes com hidrogénio líquido a temperaturas criogénicas (cerca de 252 graus Celsius negativos) só são possíveis no bloco de partida, dado que são necessárias infra-estruturas e sistemas de refrigeração complexos que só estão presentes neste local. E, por isso, o foguetão está na plataforma de lançamento desde meados de Agosto.

“O teste correu muito bem. Queríamos aprender, avaliar. Conseguimos cumprir todos os objetivos a que nos propusemos. Estou extremamente encorajada pelo teste de hoje [quarta-feira]”, afirmou Charlie Blackwell-Thompson, directora de lançamento da Ártemis I.

Agora, uma tempestade

Depois da confirmação de missão cumprida, os olhos fixaram-se na agenda e há uma nova data em mente: 27 de Setembro, próxima terça-feira. Esta é a data mais próxima em que a NASA admite lançar o foguetão SLS. Nesta data, a janela de oportunidade para a descolagem é de apenas 70 minutos, entre as 16h37 e as 17h47 (hora em Portugal continental).

Neste próximo capítulo há más notícias para a Ártemis I (mais uma vez). Depois da bonança vem a tempestade: especificamente, há a possibilidade da tempestade tropical Fiona atingir a Florida durante a próxima semana. Esta previsão meteorológica, também anunciada ontem pelo Sistema de Previsão Global norte-americano, pode ser mais um obstáculo na pretensão do foguetão SLS descolar.

A outra hipótese é o domingo seguinte, 2 de Outubro. No caso desta hipótese, a janela de lançamento seria mais extensa, com quase duas horas (109 minutos), com possibilidade de lançamento entre as 19h52 e as 21h41.

Mas é importante refrear as expectativas. Se havia três “se” e dois estão resolvidos, continua a haver uma questão por resolver. O terceiro “se” está numa licença para que a NASA fique isenta de realizar novos testes aos sistemas de voo do SLS. Depois de pedida esta isenção à Eastern Range logo após o segundo adiamento (a 3 de Setembro), não existem ainda novidades.

A NASA só pode viajar com esta autorização. Aliás, a manutenção do foguetão na plataforma de partida para poderem testar o abastecimento com este combustível e recolherem mais dados sobre os problemas identificados só será possível se houver esta isenção da Eastern Range. Caso seja necessário novo teste ao sistema de voo, o foguetão terá de ser recolhido às “oficinas” da NASA – o que implicará um adiamento mais prolongado do lançamento da Ártemis I.

O programa Ártemis é um dos mais ambiciosos desde a corrida espacial dos anos 1960 que colocou pela primeira vez um homem na Lua, na missão Apolo 11. Além do regresso à Lua (com a primeira mulher em solo lunar), a NASA quer dar o salto para Marte, sendo a Ártemis I a primeira etapa desta longa jornada de exploração espacial.

Nesta primeira missão, adiada já duas vezes no dia de lançamento, o foguetão SLS não leva astronautas a bordo – isso está reservado para a Ártemis II. Este é um teste de voo não tripulado em torno da Lua: um ensaio no espaço para garantir que tudo funciona correctamente. Resta saber se a data deste voo é já dia 27 de Setembro ou se será adiada para o próximo mês.

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