BCE acelera combate à inflação: juros sobem 0,75 pontos percentuais

Subida dos juros realizada pelo BCE foi maior do que aquilo que Christine Lagarde tinha sinalizado em Julho. E para as próximas reuniões, estão já prometidas novas subidas. Impacto será sentido nas prestações de crédito suportadas pelos portugueses

Foto
Christine Lagarde, presidente do BCE EPA/SEM VAN DER WAL

O Banco Central Europeu aumentou esta quinta-feira o ritmo a que está a mudar a sua política monetária para combater a escalada da inflação na zona euro, fazendo subir as suas taxas de juro de referência em 0,75 pontos percentuais e alertando para a necessidade de novas subidas durante os próximos meses. O agravamento dos custos de financiamento decidido em Frankfurt deverá ter repercussões imediatas nas prestações de crédito pagas pelos portugueses.

Em Julho, pela primeira vez desde 2011, a entidade liderada por Christine Lagarde tinha realizado uma subida das taxas de juro de 0,5 pontos e, na altura, a presidente do BCE tinha sinalizado um movimento semelhante na reunião de Setembro.

No entanto, a persistência da escalada da inflação, que em Agosto atingiu os 9,1% na zona euro, e a depreciação forte do euro face ao dólar, que faz subir os preços dos produtos importados, fez com que os responsáveis do banco central acabassem por decidir acelerar o ritmo de subida das taxas de juro, a forma habitual de contrariar as pressões inflacionistas numa economia.

No comunicado em que anunciou a decisão, o conselho de governadores do BCE explicou que tomou esta resolução porque “a inflação mantém-se demasiado alta e deverá ficar acima do objectivo por um período prolongado de tempo”.

Previsão de inflação revista em alta

De facto, em Frankfurt, as expectativas de inflação agravaram-se substancialmente nos três últimos meses. Esta quinta-feira, o BCE apresentou novas previsões para a inflação na zona euro, passando a prever que esta se cifre, este ano, em 8,1%, em vez dos 6,8% estimados em Julho. E para 2023, a previsão de inflação passou de 3,5% para 5,5%.

Com a subida de 0,75 pontos percentuais decidida esta quinta-feira, o BCE passou a ter a sua taxa de juro de refinanciamento (aquela a que empresta dinheiro aos bancos comerciais no curto prazo) em 1,25%. A taxa de juro de depósito do BCE (aquela que é aplicada nos depósitos feitos pelos bancos comerciais no banco central) passou a estar nos 0,75%.

Tudo indica que, até ao final do ano, o BCE venha a elevar ainda mais as suas taxas de juro, num processo que denomina de “normalização” da política monetária, depois de vários anos de taxas de juro historicamente baixas. No comunicado, os responsáveis do banco central afirmam que, “com base na actual avaliação, nas próximas reuniões, o conselho de governadores espera subir ainda mais as taxas de juro para limitar a procura e evitar o risco de uma subida persistente das expectativas de inflação”.

Na prática, com a subida das taxas, o BCE tenta, por via de um aumento dos custos de financiamento, arrefecer o nível de consumo e de investimento, na esperança que tal possa conduzir também a um abrandamento dos preços, trazendo de volta a inflação na zona euro para o objectivo de médio prazo de 2%. Importante também para o banco central é que, com a subida dos juros, possa evitar os fluxos de capital que se se estão a dirigir para o dólar, travando assim a depreciação a que tem estado sujeito o euro.

O risco, assumido pelos próprios responsáveis do BCE, é o de que este arrefecimento induzido na economia acabe por conduzir a zona euro para uma recessão. Vários indicadores económicos apontam já para a possibilidade de uma contracção da economia europeia durante o terceiro trimestre deste ano, algo que pode tornar-se ainda mais provável com a aceleração da subida dos juros hoje decidida pelo BCE.

As novas previsões do BCE para a economia apontam para a existência de um impacto negativo significativo, principalmente no próximo ano. Embora tenha revisto em alta a previsão de crescimento do PIB na zona euro este ano de 2,8% para 3,1%, o banco central passou a projectar um crescimento de apenas 0,9% em 2023, em vez dos 2,1% esperados em Junho.

As alterações das taxas de juro de referência do BCE reflectem-se, de forma muito rápida e até de forma antecipada, nas taxas de juro Euribor que, em Portugal, mais do que na média da zona euro, são o indexante da grande maioria dos empréstimos contratados.

Nos últimos meses, a subida registada nas Euribor já tem significado para as famílias e empresas um agravamento progressivo das prestações de crédito que têm de pagar ao banco. E, claro, quanto mais rápido for o ritmo de subida de taxas de juro seguido pelo BCE, mais brusco será o aumento dessas prestações.

Sugerir correcção
Ler 45 comentários