“Ninguém pode excluir risco de recessão”, avisa comissário europeu para a Economia

O antigo primeiro-ministro italiano e actual comissário europeu para a Economia afirma que a União Europeia está mais unida, mas também que a expectativa dos europeus na capacidade de resposta de Bruxelas é ainda maior.

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Paolo Gentiloni foi primeiro-ministro entre 2016 e 2018 EPA/PAULO CUNHA

A economia mundial “não está em recessão”, mas “ninguém pode excluir esse risco”. O aviso foi deixado pelo antigo primeiro-ministro italiano e actual comissário europeu para os Assuntos Económicos e Financeiros, Paolo Gentiloni, a uma plateia de jovens socialistas. O político italiano arrancou a sua intervenção alertando para a urgência de criar uma resposta robusta à crise energética, sem deixar que o combate às alterações climáticas seja atirado para o esquecimento. “Winter is coming ["O inverno está a chegar"]”, sancionou.

Numa intervenção que não durou mais do que 20 minutos – e que foi seguida de um momento de perguntas e respostas a que a comunicação social não pode assistir -, o comissário europeu assinalou como a pandemia e a guerra contra a Ucrânia “mudaram a nossa percepção em torno da situação política e económica”, mas também a percepção individual. “Estes dois eventos, que aconteceram com uma distância de dois anos, lembram-nos a nossa fragilidade enquanto seres humanos”, considerou.

Recordando a sua experiência como ministro dos Negócios Estrangeiros italiano depois da anexação da Crimeia pela Rússia, Paolo Gentiloni garantiu que os Estados-membros estão hoje muito mais unidos. “Aquilo que eu passei enquanto ministro dos Negócios Estrangeiros não é nada comparado com o temos agora”, afirmou. “O apoio à Ucrânia é um bom exemplo”, insistiu, lembrando que do pacote de 30 mil milhões de dólares de apoio à Ucrânia, um terço chegará da União Europeia.

O que mudou na União Europeia? Gentiloni responde. “A reacção à pandemia foi boa e isso aumenta a procura das instituições europeias. O sucesso que tivemos na pandemia faz com que as pessoas agora queiram soluções para a crise energética. Há uma expectativa enorme em torno do combate à crise energética”, disse. Mas há limitações. “A União Europeia não tem muito poder de decisão em termos de matérias energéticas, por exemplo. Mas se perguntarem aos cidadãos o que pensam eles dirão que terá de ser a Europa a reagir”, notou.

O comissário europeu para a Economia não escondeu a sua preocupação não apenas com a inflação de 9% na União Europeia, mas com os valores da inflação na energia, que actualmente rondam os 38%. “E já estiveram em 41%”, recordou.

Embora veja um “nível decente de crescimento da economia” – com Portugal acima da média europeia – Gentiloni insistiu que é “crucial” definir uma resposta à crise energética, com políticas monetárias e fiscais. “Sem uma resposta comum na energia não será fácil cortar a inflação europeia”, vincou. E pediu, repetidamente, que não se esqueçam os compromissos assumidos no Green Deal. “Seria um erro e uma loucura que por causa da crise energética esquecêssemos os nossos compromissos europeus na transição verde”, disse.

E aponta para os riscos de “cansaço” com os efeitos da crise. “Nas próximas semanas e nos próximos meses, parte do nosso espectro politico e opinião pública irá levantar as mãos e dizer que com estas sanções estamos a afectar a nossa própria economia. Irão questionar se vale a pena continuar. E por isso temos de constantemente nos lembrar o que está em causa e que existe um regime autocrático que usa poder militar para ocupar um território independente”, conclui. “O modelo de solidariedade, liberdade e de democracia venceu na pandemia. E irá vencer esta guerra provocada por um governo autocrático”, disse.

“A nossa primeira mensagem deve ser que isto não deve nem pode acontecer”, insistiu. Além disso, acrescentou, a situação gera uma “oportunidade” para reduzir a dependência energética da Europa e aumentar a “competitividade económica”. “O nosso papel geopolítico também está em causa porque não queremos perder peso no confronto entre os Estados Unidos e a China”, concluiu.

A Academia Socialista é uma iniciativa do PS e da JS destinada a jovens entre os 18 e os 30 anos para promover o debate de temas que marcam a actualidade, desde a urgência da transição verde, os caminhos para o crescimento económico ou o combate às desigualdades. O programa de cinco dias decorre na Batalha e terminará um discurso do secretário-geral do PS e primeiro-ministro, António Costa, no centro de Leiria.

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