Rússia usa paragem do Nord Stream para exigir fim das sanções

O corte do abastecimento russo continua a inflacionar os preços do gás e Moscovo diz que só volta a abrir o Nord Stream com o fim das sanções. Nível de reservas da União já está a 81% da capacidade.

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No mercado ibérico do gás, os preços diários mostram uma subida de 5% EPA/FOCKE STRANGMANN

O encerramento por tempo indeterminado do Nord Stream 1 neste começo de Setembro não apanhou ninguém de surpresa, mas a ameaça russa de cortar as exportações à Europa parece ter entrado num novo patamar.

Segundo o Financial Times (FT), Moscovo exige agora o fim das sanções económicas para retomar o transporte de gás para o centro da Europa. Se, em Agosto, a empresa estatal Gazprom justificou nova paragem nas exportações com a necessidade de mais trabalhos de manutenção nos gasodutos, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, subiu a parada nesta segunda-feira.

“As dificuldades no transporte de gás surgiram por causa das sanções que os países ocidentais aplicaram ao nosso país e a diversas empresas [russas]”, afirmou o porta-voz de Vladimir Putin, citado pelo FT.

“Não há outras razões que pudessem ter criado este problema” e os fluxos de gás não voltarão a circular até à Europa Ocidental enquanto as sanções económicas contra a Rússia não caírem, sublinhou Peskov.

A estratégia russa de agravar a crise energética na Europa, dando sinais de escassez de gás que fazem subir os preços da energia e aceleram a inflação no continente, procura enfraquecer o apoio dos europeus à Ucrânia e mais concretamente às sanções económicas à Rússia.

Um objectivo que Peskov não esconde: “Obviamente, a vida está a ficar pior para as pessoas, os empresários e as empresas na Europa”, afirmou. “É claro que os cidadãos comuns destes países terão cada vez mais perguntas para os seus líderes”, cita ainda o jornal britânico.

O FT nota que a Europa continua a receber algum gás russo através de pipelines que atravessam a Ucrânia e de um outro gasoduto que atravessa a Turquia. Mas isso não é suficiente para aliviar a pressão sobre os mercados.

Perto das 13h desta segunda-feira, os preços dos contratos para Outubro no principal mercado europeu, o holandês TTF, estavam a subir 24% para cerca de 274 euros por megawatt hora (MWh), aliviando de um aumento de 30%, para 280 euros/MWh, registados no início da negociação.

Sendo o mercado com mais transacções a nível europeu, é também o mercado que serve de referência de preço para as compras desta energia que vários Estados-membros terão de continuar a fazer nas próximas semanas de modo a garantir que cumprem os níveis de armazenamento previstos pela Comissão Europeia para o início do Outono.

Olhando para a evolução dos contratos de futuros, ninguém poderá esperar gás barato nos próximos tempos. Os contratos para Novembro e Dezembro deste ano estão com preços acima dos 285 euros/MWh e o contrato para o Inverno de 2022 está a valer 278 euros/MWh.

Reservas a 81%

Segundo a entidade que compila os dados de armazenagem a nível europeu, a Gas Infrastructure Europe (GIE), o nível médio de armazenamento de gás natural da União Europeia era já de 81,55% na passada sexta-feira, dia 2 de Setembro, antecipando-se em dois meses a meta de 80% a 1 de Novembro.

Portugal tinha, segundo o GIE, as reservas à máxima capacidade e países como a Polónia (99,09%), França (92,66%) e Suécia (90,8%) estavam perto disso.

A Alemanha, o cerne das preocupações europeias, tinha os depósitos a 85,55%, e a Itália, outro país altamente dependente de gás natural, a 83,74%.

Contudo, há Estados em que a situação é bem menos confortável. É o caso da Áustria (67,94%), Hungria (64,87%) e Letónia (49,92%).

É preciso ter ainda em conta que as capacidades de armazenamento variam de país para país e que por mais que os reservatórios estejam cheios, ninguém sabe muito bem quais serão as reais necessidades de consumo de gás nos próximos meses.

Dependerá, por exemplo, de um Inverno mais ou menos chuvoso e com mais ou menos vento para a produção de electricidade renovável, ou de temperaturas mais ou menos amenas, que não façam disparar a procura por períodos muito longos.

Consequentemente, não se sabe se haverá necessidade de racionamento e de accionar o mecanismo de solidariedade entre Estados.

No mercado ibérico do gás, os preços diários também mostram uma subida de 5%, para 133 euros por MWh, mas o valor do contrato para Outubro é mais baixo, de 122,30 euros por MWh.

Quanto aos preços da electricidade, embora se mantenham mais baixos do que o observado na semana anterior, espelham mais uma vez os elevados preços desta energia fóssil. Em França, o leilão diário resultou num preço de 523,99 euros/MWh e, na Alemanha, de 417,27.

Na Península Ibérica, o preço diário atingiu 165,57 euros, valor ao qual se soma ainda o custo do mecanismo ibérico de limite ao preço do gás, que se fixou em 122 euros/MWh (num total de 287 euros/MWh).

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