Um museu renovado e uma descida virtual às minas de São Pedro da Cova

Câmara de Gondomar e junta local estão a reabilitar o museu criado no fim dos anos 80 para o tornar mais tecnológico. Missão maior continua a mesma: preservar a identidade da vila mineira.

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Museu Mineiro de São Pedro da Cova está a ser reabilitado Anna Costa / PUBLICO

Quem daqui a pouco mais de um mês entrar no edifício do Museu Mineiro de São Pedro da Cova, em Gondomar, vai deparar-se com um espaço pintado de preto, como se descesse às minas de carvão que outrora laboraram na vila. A acompanhar essa sensação visual, haverá som e imagem, numa “recriação do ambiente” do passado que, espera a curadora do museu, Micaela Santos, ajude a intensificar as “emoções” de quem visita o local.

A reabilitação do Museu Mineiro, uma parceria entre a Câmara de Gondomar e a junta de freguesia de São Pedro da Cova, é uma oportunidade para resolver algumas “limitações e dificuldades” sentidas por quem ali trabalha. Aberto em 1989 – e com um sucesso considerável a partir de 2009 –, o museu procura mostrar como era a vida de quem laborava no complexo mineiro, encerrado em Março de 1970. Mas a missão nem sempre era simples.

Nas visitas guiadas, Micaela Santos, neta de um enchedor e bisneta de mineiro, esbarrava muitas vezes com a incompreensão. Sobretudo do público mais novo. “A maioria percebia a razão pela qual algumas pessoas não gostavam de trabalhar nas minas, mas não entendiam por que é que não deixavam de o fazer”, comenta a curadora.

A hegemonia da Companhia das Minas, empresa que explorou o complexo de São Pedro da Cova a partir de 1921 e até ao encerramento definitivo e que quase tudo controlava na vila, num tempo em que Abril não tinha chegado, tornava difícil contornar aquele destino. Mas isso, diz Micaela Santos, é difícil de perceber para quem nasceu num país livre: “Temos uma vida completamente diferente e nem sempre é fácil explicar-lhes como era antes.”

Zorra é um dos exemplares icónicos do museu Anna Costa
Micaela Santos é curadora do Museu Mineiro Anna Costa
Museu foi aberto no final dos anos 80 Anna Costa
As minas de São Pedro da Cova encerraram em 1970 Anna Costa
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Zorra é um dos exemplares icónicos do museu Anna Costa

A modernização do Museu Mineiro pode ser uma cartada. “Vamos falar menos e eles vão perceber mais”, anseia Micaela Santos, deixando nota do que continua a ser o fundamental: “Valorizar a identidade de quem trabalhou nas minas e da própria vila. A vida de trabalho deles não será esquecida.”

Sofia Martins conquistou a junta de freguesia nas últimas autárquicas e quis imprimir uma “dinâmica diferente” no museu, diz. A ideia é “torná-lo mais auto-sustentável” (passando a cobrar uma entrada simbólica, entre um e dois euros, a quem não é da vila, e revertendo esse valor para o museu) ao mesmo tempo que aumenta a atractividade, criando um espaço mais “interactivo”.

Para a autarca do PS, a possibilidade de pesquisar directamente nos arquivos do museu e encontrar a história do avô ou avó que trabalhou nas minas é uma grande dádiva à população local. É uma possibilidade oferecida pela tecnologia, mas também pelos muitos anos de trabalho antes feito.

Micaela Santos participou na recolha de dezenas de testemunhos orais dos antigos trabalhadores e da história de exploração a que milhares de pessoas foram sujeitas desde que o carvão de pedra foi descoberto na freguesia, em 1795. A essa empreitada, juntou-se o arquivo de Serafim Gesta Mazola, investigador local que se fez guardião das memórias da terra.

O museu acolheu também 3500 fotografias recolhidas dos escritórios das minas quando estes foram ocupados, em 1975. “Foi tudo digitalizado”, conta Micaela Santos, acrescentando que esse património estará disponível no renovado museu.

Para Sofia Martins, que destaca a colaboração da Liga de Amigos do Museu Mineiro neste processo, é também particularmente importante que a tecnologia ajude a levar o museu para fora de portas. “Nas visitas às escolas vamos poder levar muito do que ali existe”, conta.

A reabilitação do museu coincide com a criação do Parque Urbano de São Pedro da Cova, na sua envolvente. A obra no primeiro deverá estar pronta até ao fim do mês, antevê Sofia Martins, mas a inauguração poderá dar-se apenas quando o parque estiver concluído, pouco tempo depois. Não muito longe, está também a ser reabilitado o cavalete do Poço de São Vicente, torre que trazia o carvão até à superfície e que está classificado como Monumento de Interesse Público desde 2010.

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