Comissão Eleitoral admite “algumas alterações” nos resultados em Angola

Polícia impede manifestações a favor da UNITA em Luanda, deixando o Largo da Independência sob um cordão impedindo o acesso ao que seria um ponto de protesto.

Foto
Conferência de imprensa da direcção da UNITA, na sexta-feira PAULO NOVAIS/EPA

Depois de a UNITA dizer que não reconhece a vitória do MPLA e a reeleição de João Lourenço nas eleições de quarta-feira em Angola, a Comissão Nacional Eleitoral admitiu que “é sempre possível” que os resultados finais definitivos não correspondam aos já anunciados – resultados provisórios com base no escrutínio de 97,03% dos votos. As declarações do porta-voz da CNE surgem horas depois de os membros da UNITA que integram a Comissão se terem demarcado dos resultados já anunciados.

“É sempre possível, em função da magnitude do número de votos reclamados, possam ocorrer algumas alterações na tabela”, admitiu o porta-voz da CNE, Lucas Quilundo, numa conferência de imprensa este sábado. O porta-voz notou que “os círculos eleitorais não estão fechados porque só ficam fechados com os resultados definitivos": os termos são vagos mas o tom denota diferenças em relação à linguagem habitual dos responsáveis da CNE, sempre muito peremptórios. Garante, no entanto, que “ainda não tem nenhuma reclamação formal de algum concorrente em relação aos resultados”.

“Demarcamo-nos de todos os actos que visam subverter o direito e a lei e que comprometem a seriedade do processo eleitoral e colocam em risco a vontade soberana dos eleitores”, afirmou antes aos jornalistas em Luanda a comissária Maria Pascoal, representante do maior partido da oposição na CNE. Os membros da UNITA na CNE denunciam ainda “constantes violações da lei” que apontam à Comissão neste processo. Por tudo isto defendem que a CNE “deveria ter a noção exacta das suas responsabilidades e do papel que lhe reserva a Constituição”.

Já na sexta-feira, ladeado pelo candidato da UNITA a vice-presidente, Abel Chivukuvuku, e pelo “número 3” do partido, Filomeno Vieira Lopes, Adalberto Costa Júnior garantiu que entre os números da CNE e a contagem da UNITA, por terminar, há discrepâncias “brutais”. “Não existe a menor dúvida em afirmar que o MPLA não ganhou as eleições de 24 de Agosto”, afirmou o presidente da UNITA e candidato à sucessão do Presidente, João Lourenço.

Segundo os resultados já anunciados pela CNE, o MPLA (no poder desde 1975) obteve 51,07% e 124 mandatos, enquanto a UNITA reuniu 44,05% e elegeu 90 deputados (três formações mais pequenas elegeram os restantes seis deputados).

Para sustentar a recusa da UNITA em aceitar os dados já conhecidos, o líder da oposição apresentou vários exemplos de discrepâncias muito significativas.

Na província de Luanda (onde a CNE atribui a vitória à UNITA), já com 99,9% das actas, a UNITA apurou ter obtido mais 187.234 votos do que o anunciado oficialmente (no total, a contagem oficial dá ao partido 1.230.213 votos e a paralela 1.417.447). Neste caso, a diferença seria suficiente para alterar o número de deputados eleitos pelos dois principais partidos angolanos.

Enquanto isso, a polícia impediu uma série de pessoas que se preparavam para uma marcha de protesto do Largo da Independência até ao perímetro do Palácio Presidencial, na Cidade Alta, em Luanda, detendo e agredindo vários jovens, diz a emissora alemã Deutsche Welle. O Largo da Independência, que seria o ponto das manifestações em Luanda, está sob um cordão policial que impede o acesso de qualquer cidadão, diz ainda a DW, e a polícia está a dispersar todos os ajuntamentos de jovens.

Sugerir correcção
Ler 5 comentários