“Amo-te como a um irmão.” Escritores reúnem-se em Nova Iorque para apoiar Rushdie e defender a liberdade de expressão

Gay Talese, Siri Hustvedt, Paul Auster, Hari Kunzru, Kiran Desai, Andrew Solomon e muitos outros leram excertos de obras do autor britânico e falaram da importância da liberdade no ofício da escrita.

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Autores reunidos nas escadarias da Biblioteca Pública de Nova Iorque Reuters/BRENDAN MCDERMID
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Os escritores Paul Auster, Siri Hustvedt, Colum McCann e Gay Talese à espera da sua vez de falar EPA/SARAH YENESEL
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Houve quem levasse livros do autor britânico para se juntar aos escritores Reuters/BRENDAN MCDERMID
Salman Rushdie
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Apoiantes da liberdade de expressão, leitores ou não de Rushdie, participaram nesta sessão Reuters/BRENDAN MCDERMID

Uns erguiam cartazes com fotografias ou citações do escritor, outros apenas uma letra que, associada a outras, formava uma frase – ​ Stand with Salman. Juntaram-se na Biblioteca Pública de Nova Iorque na sexta-feira para apoiar Salman Rushdie, o autor britânico que, por causa de um dos seus livros, foi alvo de uma fatwa decretada pelo ayatollah Khomeini, há 33 anos, e que a 12 de Agosto foi esfaqueado dez vezes no pescoço e no abdómen quando dava uma palestra nos Estados Unidos, ficando em risco de vida.

Rushdie continua a recuperar, no hospital, com os colegas escritores a apoiá-lo, procurando mostrar nas redes sociais, em entrevistas aos jornais e televisões, e neste encontro que a biblioteca convocou com o repto Stand with Salman – Defend the Freedom to Write, que a liberdade de expressão tem de ser vista como um direito fundamental, inegociável.

Gay Talese, Siri Hustvedt, Paul Auster, Colum McCann, Hari Kunzru, Kiran Desai, Andrew Solomon, Jeffrey Eugenides e muitos outros escritores fizeram questão de estar presentes: só alguns leram excertos de obras de Rushdie, mas quase todos posaram para a fotografia.

“Se não temos certeza da nossa liberdade, não somos livres”, disse Rushdie num encontro promovido, em 2012, pelo PEN América, associação de defesa da liberdade de discurso que se juntou à biblioteca na organização do evento desta sexta-feira. A frase, usada em muitos dos cartazes que os escritores tinham nas mãos, faz-nos de imediato pensar nos anos em que Rushdie viveu escondido, na clandestinidade, por causa da sentença de morte de Khomeini, líder religioso iraniano que o acusou de blasfémia a propósito da publicação de Os Versículos Satânicos.

“Os autores – aqueles que têm talento, visão e conseguem inspirar o público com as suas frases mágicas – usam, poderosamente, a liberdade de expressão. Se não podem dedicar-se ao seu ofício sem medo, nenhum de nós está a salvo”, disse a directora do PEN América, Suzanne Nossel, na abertura do encontro a que muitos autores, como Bernard-Henri Lévy e Angela Graham, se associaram à distância, partilhando nas redes sociais vídeos em que liam excertos de obras do autor de Fúria e de Shalimar, O Palhaço.

Minutos antes de começar esta sessão ao ar livre, a que se juntaram muito transeuntes, de acordo com a agência de notícias espanhola EFE, Stephen King, um dos autores mais lidos dos Estados Unidos, referência absoluta dos livros de terror e suspense, deixara uma mensagem de encorajamento a todos aqueles que fazem da escrita o seu ofício: “Todos os escritores que falam a verdade são meus irmãos. Cada escritora que não se deixa comandar pelo medo é minha irmã. A coragem de Salman Rushdie diante do fascismo religioso é um exemplo para todos nós.”

Frente às escadarias da Biblioteca Pública de Nova Iorque, coube ao romancista e jornalista britânico Hari Kunzru ler excertos da obra que pôs um alvo nas costas de Rushdie. Mas antes de pegar num volume de Os Versículos Satânicos, Kunzru lembrou um outro texto do autor: “Salman escreveu uma vez que o papel do escritor é nomear o inominável, apontar fraudes, tomar partido, iniciar discussões, moldar o mundo e impedir que ele adormeça. E é por isso que estamos aqui, porque lhe devemos o estar acordados, o uso das nossas palavras para moldar o mundo.”

Outros se seguiram, com obras distintas ou com mensagens de apoio muito pessoais, como Paul Auster: “Pensei em ti todas as horas de todos os dias na semana passada”, disse o autor de Trilogia de Nova Iorque, dirigindo-se ao ausente Rushdie e aqui citado pelo diário norte-americano The New York Times. “Amo-te como a um irmão e valorizo ​​a amizade que construímos juntos nos últimos 30 anos”, continuou.

Kiran Desai, escritora que, tal como Rushdie, nasceu na Índia, autora do livro The Inheritance of Loss, com o qual venceu o Man Booker, em 2006, também optou por interpelar o escritor. “Na semana passada, muitos de nós percebemos que estávamos a contar contigo para segurar o céu”, disse. “Esperamos que saibas que podes contar connosco também. Estamos aqui para ti, no longo prazo.”

Andrew Solomon, escritor habituado a reflectir sobre política e antigo presidente da PEN America, preferiu chamar a atenção para os tempos que vivemos. “Não é coincidência que isto tenha acontecido agora”, disse o autor que vive entre Nova Iorque e Londres. “Vivemos numa época em que o direito à liberdade de expressão está sob ataque constante, tanto da esquerda como da direita, quando há bibliotecas a fechar, livros retirados das escolas, quando tudo que costumava ser símbolo da liberdade de discurso na América está sob ameaça.”

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