Macron diz que Putin concordou com inspecção independente a central nuclear

Guterres sublinha que electricidade produzida na central de Zaporijjia, ocupada pelas forças russas, é ucraniana e que “esse principio tem de ser totalmente respeitado”

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António Guterres esteve em Odessa, onde voltou a manifestar preocupação com a central nuclear de Zaporijjia EPA

Já há um acordo de princípio para uma visita de inspectores independentes da Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA) à central nuclear de Zaporijjia, a maior da Europa, e que está ocupada pelas forças russas na Ucrânia.

A notícia foi dada esta sexta-feira pelo gabinete do Presidente francês, Emmanuel Macron, comunicando que o Presidente russo, Vladimir Putin, “reconsiderou o pedido” da Agência Internacional de Energia Atómica e aceitou a missão, num telefonema entre os dois.

A forte presença militar russa na central tem causado medo de que possa haver um incidente em Zaporijjia, e a ameaça da Rússia desligar a central da rede eléctrica da Ucrânia aumentou o temor, já que aí haveria menos hipóteses de arrefecer o combustível nuclear em caso de falha de energia, causando uma situação potencialmente perigosa.

Numa visita a Odessa, depois de na véspera ter estado em Lviv, o secretário-geral da ONU, António Guterres, sublinhou que a electricidade gerada na central é ucraniana e que “esse princípio tem de ser totalmente respeitado”. Guterres apelou assim a que a Rússia não desligue a central da rede eléctrica ucraniana.

Não é claro que condições terá Putin posto para a inspecção na conversa com Macron, um dos poucos líderes europeus com quem mantém contacto, apenas se sabe que terá desistido da sua insistência em que o acesso fosse feito através de zonas ucranianas ocupadas pela Rússia, admitindo que a equipa pudesse viajar através da Ucrânia. O Eliseu diz que também Putin manifestou preocupação com uma potencial catástrofe no local. A nota do Kremlin sobre o telefonema dizia que Putin tinha concordado com a missão.

A agência russa TASS dizia, entretanto, que a Rússia enviou um protesto ao Conselho de Segurança da ONU falando em planos ucranianos para “provocações” na central. Do lado ucraniano, os serviços secretos acusavam a Rússia de ter intenção de provocar um incidente em Zaporijjia, por terem dito à maioria dos trabalhadores para não irem à central no dia de ontem.

Enquanto isso, no terreno, a Rússia continuava a bombardear Kharkiv, que é agora uma das cidades ucranianas mais fustigadas pela artilharia russa. Morreram 17 pessoas em ataques na terça e quarta-feira.

Em sentido contrário, durante a noite houve mais explosões na Crimeia, o terceiro ataque contra a Rússia nas duas últimas semanas no território que anexou já em 2014. O facto de conseguir atacar esta província é para os ucranianos um motivo de subida do moral (a Ucrânia não assume directamente, a autoria das operações, que serão levadas a cabo por unidades de elite ou células especializadas em sabotagem), mas responsáveis ocidentais dizem que a situação actual da guerra continua a ser de falta de avanços significativos de um ou outro lado.

A Rússia continua, entretanto, a jogar com o gás: a Gazprom anunciou que vai encerrar o gasoduto Nord Stream 1, que faz chegar gás à Alemanha, durante três dias em Agosto, para “manutenção”. O gasoduto já esteve fechado dez dias em Julho, e depois disso só tem estado a passar 20% da quantidade normal de gás, levando a Alemanha – e a Europa – a temer um Inverno em que seja preciso racionar o gás. Pouco depois do anúncio, o preço do gás voltou a subir.

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