Ataques turcos no Norte da Síria provocam 17 mortos e fazem temer nova escalada

Bombardeamentos que terão atingido posições de soldados leais ao regime de Assad serão retaliação contra ataque de combatentes curdos que matou um militar turco.

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Grande parte da região junto à fronteira turco-síria permanece sob controlo das FDS Reuters

Desde Maio que a Turquia ameaça lançar uma grande operação militar no Norte da Síria – alguns analistas especularam até que Ancara tivesse aproveitado as negociações sobre a adesão da Finlândia e da Suécia à NATO para conseguir o apoio dos Estados Unidos. Depois de semanas de aviso insistentes, e de confrontos entre militares turcos e combatentes curdos em localidades fronteiriças, Ancara bombardeou posições controladas pelas forças leais ao regime de Bashar al-Assad, provocando 17 mortos.

Segundo diferentes relatos, os ataques aconteceram perto de Kobani, a cidade curda que se tornou um símbolo por ter sido onde as Unidades de Defesa do Povo (YPG), o exército do Partido da União Democrática (PYD), aliado dos Estados Unidos, derrotaram o Daesh no início de 2015, provando que os jihadistas não eram imparáveis. Nos meses anteriores à libertação da cidade, os combates fizeram pelo menos 1600 mortos e levaram à fuga da maioria dos civis para a Turquia, deixando metade de Kobani destruída.

Actualmente, grande parte da região junto à fronteira turco-síria no Nordeste da Síria permanece sob controlo das Forças Democráticas da Síria (FDS), grupo formado pelos EUA e constituído, em grande parte, por combatentes do PYD, que a Turquia considera o ramo sírio do PKK (Partido dos Trabalhadores do Curdistão), organização de separatistas curdos que a Turquia, mas também os EUA, considera um grupo “terrorista”. Nos últimos anos, o Exército sírio ocupou algumas posições em zonas das FDS na sequência de acordos destinados a conter as ofensivas turcas do lado sírio.

De acordo com o Observatório Sírio dos Direitos Humanos, “17 combatentes foram mortos no ataque aéreo turco que visou uma posição do regime sírio perto da fronteira turca”. A organização ligada à oposição (e que tem uma rede de médicos e activistas no terreno) explica não saber se as vítimas pertencem às “forças do regime ou se são combatentes cursos que controlam a zona”.

Na noite anterior à destes raides, de segunda para terça-feira, houve violentos combates entre os turcos e as FDS na região. O Observatório explica que a Turquia intensificou os bombardeamentos depois de uma das suas posições, no lado turco da fronteira, ter sido atacada. Já o Ministério da Defesa turco diz ter retaliado a morte de soldado num ataque de forças curdas perto da localidade de Birecik, na província fronteiriça de Sanliurfa: “Treze terroristas foram neutralizados”, afirma o Ministério, assegurando que as operações na região vão continuar.

Na versão da agência de notícias estatal SANA, da Síria, que cita um responsável militar, pelo menos três soldados foram mortos e seis ficaram feridos nos raides aéreos. “Qualquer ataque a uma posição ocupada pelas nossas forças terá uma resposta directa e imediata”, acrescenta a SANA. A Hawar News, uma agência de notícias que trabalha nas zonas das FDS, dá conta da morte de 16 soldados, enquanto outra agência curda fala em 22 mortos.

As próprias FDS descrevem, num comunicado, que “aviões militares turcos” realizaram “12 ataques aéreos contra posições do exército sírio na linha de fronteira, a ocidente de Kobani”.

A confirmar-se o início da operação turca, será a quarta intervenção militar lançada nesta zona pelo Governo do Presidente Recep Tayyip Erdogan desde 2016 – nas anteriores, os turcos conquistaram centenas de quilómetros de território às YPG e avançaram cerca de 30 quilómetros dentro da Síria. E se os mortos destes ataques forem mesmo membros das forças do regime de Bashar al-Assad, é provável que marquem uma escalada de tensões entre Ancara e Damasco.

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