Falta de segurança questionada: antes do ataque, Rushdie disse que tinha uma vida “relativamente normal”

Esfaqueado com gravidade na sexta-feira na Chautauqua Institution, no estado de Nova Iorque, Rushdie está internado. Instituição terá rejeitado reforço de segurança, mas há testemunhos contraditórios.

Foto
Salman Rushdie está internado Reuters/Dylan Martinez

O escritor Salman Rushdie continua hospitalizado este sábado após o esfaqueamento no palco do centro cultural Chautauqua Institution, que está agora a ser questionado pela falta de medidas de segurança que rodeavam a intervenção do autor de Os Versículos Satânicos, alvo de uma fatwa há mais de 30 anos. Este sábado, a revista alemã Stern publicou uma entrevista muito recente com Rushdie em que este dizia que actualmente a sua vida era “relativamente normal” depois de ter vivido quase em reclusão e escondido nas últimas décadas.

A revista Stern conversou com o escritor sobre as ameaças que este identifica actualmente à democracia norte-americana, país de que é cidadão desde 2016, vivendo em Nova Iorque, e a conversa deveria ser publicada na edição do próximo dia 18. Após o ataque, a Stern tornou pública a entrevista, que teve lugar há cerca de duas semanas e na qual Rushdie se descreve como um optimista, mencionando mesmo que a fatwa pedindo a sua morte devido ao polémico livro que visa o Islão já tinha muitos anos.

“Tal fatwa é uma coisa séria, felizmente a Internet não existia na altura”, disse à revista, que detalha que o escritor estava relutante em falar do tema — cuja relação com o ataque de que foi alvo sexta-feira ainda não é clara. Chegara sozinho ao local da entrevista, em Nova Iorque, longínquos os dias em que se fazia acompanhar sempre de guarda-costas.

Internado em Erie, na Pensilvânia, Rushdie está a respirar com ajuda de um ventilador e incapaz de falar. Segundo o seu agente, poderá “perder um olho” e sofreu cortes nos nervos de um braço e lacerações no fígado. O seu atacante, Hadi Matar, está detido e ainda não são conhecidas quais as acusações que pendem sobre ele nem a sua motivação. Matar tinha um passe para lhe permitir a entrada na conferência onde Rushdie ia falar sobre o papel dos Estados Unidos como país de acolhimento de escritores exilados. Subiu rapidamente ao palco mal o escritor entrou em cena e atacou-o com violência. O moderador do evento, Henry Reese, também ficou ferido, mas sem gravidade.

De acordo com a cadeia televisiva local Buffalo News, a mochila com que Matar entrou na sala com cerca de 2500 pessoas foi revistada por um delegado do xerife e por um cão da unidade cinotécnica delegada para o local. Porém, uma pessoa que testemunhou o ataque disse à CNN que não existiam revistas de segurança nem detectores de metais no evento. Duas outras fontes próximas da questão disseram à CNN que os responsáveis da instituição terão rejeitado recomendações para que fossem postas em prática medidas de segurança como detectores de metais e inspecção de malas.

A CNN reconhece que não é certo que as medidas em causa pudessem ter evitado o ataque, visto que as autoridades ainda não detalharam que tipo de arma foi usada — existem armas brancas que passam despercebidas em detectores de metais ou que podem ser ocultadas.

O presidente do centro cultural, Michael Hill, disse em conferência de imprensa na sexta-feira que a instituição avalia cada evento para decidir qual o nível adequado de segurança. “Este era certamente um evento que pensámos ser importante e por isso é que tivemos lá um polícia estadual e presença do [gabinete] do Xerife”.

Entretanto, nas últimas horas o grupo armado libanês apoiado pelo Irão Hezbollah disse nada saber sobre o ataque a Rushdie. O Irão ainda não se pronunciou oficialmente sobre o caso, mas a sua imprensa governamental elogia este sábado Hadi Matar.

Sugerir correcção
Ler 4 comentários