Inflação alta provoca queda de 4,6% no salário médio em termos reais

Valor do salário médio até cresce em termos nominais, mas está muito longe de acompanhar escalada dos preços, provocando uma perda forte do poder de compra dos portugueses assalariados, a maior desde meados dos anos 1980.

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Matilde Fieschi

A subida da taxa de inflação para os valores mais altos das duas décadas sem que haja, pelo menos no imediato, um reforço de dimensão idêntica dos salários, conduziu a uma redução real dos salários mais forte de que há registo em Portugal desde meados dos anos 1980, superando as perdas registadas durante a crise da dívida da zona euro há dez anos.

De acordo com os dados publicados esta quinta-feira pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), recolhidos com a informação relativa aos vencimentos declarados à Segurança Social, no trimestre terminado no passado mês de Junho, a remuneração bruta total mensal média por trabalhador em Portugal foi de 1439 euros, o que representa, em termos nominais, um crescimento de 3,1% face ao mesmo período do ano passado.

É um ritmo de crescimento que até representa uma ligeira aceleração face ao que tinha acontecido no primeiro trimestre do ano (uma variação homóloga de 2,5%), mas fica longe de conseguir acompanhar aquilo que está a acontecer ao nível da inflação. E, por isso, o resultado representa um acentuar da tendência de perda de poder de compra que já se registava nos primeiros meses do ano.

De facto, quando se olha para a variação da remuneração bruta total média em termos reais, isto é, descontando o efeito da inflação, o que se verificou no segundo trimestre deste ano foi uma redução de 4,6% face ao mesmo período do ano anterior. No primeiro trimestre, a perda tinha sido de 2,2%.

A queda em termos reais das remunerações dos portugueses é, não só a maior desde o início desta série estatística publicada pelo INE, em 2014, como supera, os resultados negativos obtidos, em termos anuais, desde pelo menos 1985, o primeiro ano para o qual há dados disponíveis.

Desde meados do ano passado que a taxa de inflação tem vindo a subir em Portugal (e no resto do mundo), atingindo os 9,1% no passado mês de Julho. Em contrapartida, a evolução das remunerações média tem-se mantido estável em termos nominais, com crescimentos anuais situados entre os 2% e os 3%.

De acordo com o INE, o maior aumento da remuneração total foi observado nas actividades de electricidade, gás, vapor, água quente e fria e ar frio, com uma variação nominal acima dos 20%, seguido das actividades de consultoria, científicas, técnicas e similares. Os menores aumentos da remuneração total foram observados nas actividades de Administração Pública e Defesa, Segurança Social e nas actividades de saúde humana e apoio social.

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