Lucro semestral do BPI sobe 9%, mas perspectivas futuras são mais “sombrias”

Procura de crédito à habitação está a diminuir. Presidente executivo do banco admite que cenário macroeconómico “é muitíssimo complexo”.

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João Pedro Oliveira e Costa, presidente executivo do BPI, mais cauteloso quanto ao futuro LUSA/ANTÓNIO PEDRO SANTOS

O Banco BPI fechou o primeiro semestre com lucros consolidados de 201 milhões de euros, um crescimento de 9% face a igual período de 2021, com Portugal a contribuir com 85 milhões de euros, mais um milhão que no período homólogo. As participações em Angola e em Moçambique, o BFA e BCI, contribuíram com 100 e 17 milhões de euros respectivamente, anunciou esta sexta-feira o banco.

O BPI é detido pelo espanhol Caixabank, que esta sexta-feira anunciou os seus resultados consolidados, apresentando um lucro de 1573 milhões de euros nos primeiros seis meses. A actividade em Portugal contribuiu com 124 milhões de euros para os resultados consolidados do grupo espanhol, mais 31,2% do que no mesmo período de 2021.

As apresentações dos resultados do BPI, mas também do Caixabank, ficam marcadas por declarações menos optimistas em relação ao futuro mais próximo. João Pedro Oliveira e Costa, presidente executivo do BPI admitiu que o actual contexto macroeconómico obriga a uma actuação futura “de grande prudência, cautela” e à necessidade de se estar “muito atento” à evolução de variáveis como a inflação, a subida das taxas de juros e a contracção das economias.

“Há uma deterioração da envolvente económica”, admitiu o gestor, afirmando que a verificação de alguns dados económicos que vão sendo anunciados e a gestão de expectativas criam “um círculo virtuoso negativo”, que já se nota numa redução das operações da procura de crédito à habitação.

Em resposta a questões dos jornalistas, João Pedro Oliveira e Costa mostrou-se particularmente preocupado com a inflação – que em Julho sofreu novo agravamento, para 9,1% -, defendendo não será pelo aumento de taxas de juro que poderá ser travada.

Relativamente à concessão de novo crédito às famílias, admitiu que a maior retracção se verifica por uma questão de gestão de expectativas, por escassez de imóveis para venda ou carros para entrega, e não tanto por dificuldades em aceder a novos créditos.

Também em Espanha, o presidente do Caixabank, Gonzalo Gortázar, defendeu há um contexto de incerteza na economia e nos mercados para os próximos meses e para o próximo ano.​ Um factor utilizado pelo presidente do grupo financeiro para criticar a criação em Espanha de um novo imposto sobre comissões e rendimentos dos bancos e empresas de energia.

Sobre o imposto recém-criado no país vizinho, o líder do BPI mostrou-se relativamente céptico à adopção de uma medida semelhante em Portugal, defendendo que “os resultados da banca podem parecer expressivos, mas em termos relativos não o são”, e porque os bancos nacionais já demonstraram uma “solidariedade significativa com a sociedade”, tendo em conta a contribuições para os fundos de resolução e ainda o adicional de solidariedade.

Relativamente à actividade no mercado nacional e ao risco de crescimento do crédito malparado, por incumprimento das famílias com créditos, o responsável procurou minimizar esse risco, pela gestão de risco prudente que o banco tem seguido e pela flexibilidade do banco para apoiar os clientes. Em relação a um eventual aumento da carteira de crédito não produtivo, a estratégia, assegurou, vai ser a de continuação de venda desse tipo de carteiras. No primeiro semestre, o rácio NPE (crédito improdutivo) situou-se em 1,6%, coberto por imparidades e colaterais de 145%.

Os principais indicadores do banco registaram uma trajectória de subida. A carteira de crédito aumentou 2,2 mil milhões de euros, mais 8% face a período homólogo. O crédito à habitação cresceu 11% e às empresas 8%, e os depósitos de clientes subiram 2,4 mil milhões de euros (mais 9%). Destaque ainda para o crescimento do produto bancário comercial, em 6%, para 393 milhões de euros.

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