Economia portuguesa recua 0,2% no segundo trimestre do ano

PIB diminui face ao trimestre anterior, colocando a variação homóloga em 6,9%. Na zona euro, mesmo com a Alemanha a travar, a economia surpreendeu e registou um crescimento de 0,7%, o que pode dar margem de manobra ao BCE para subir mais rapidamente os juros.

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O resultado final do ano irá depender da forma como Portugal e os seus parceiros europeus serão capazes de reagir à conjuntura Rui Gaudencio

Depois de um ano de retoma contínua e de um desempenho muito forte dos primeiros três meses do ano, a economia portuguesa sentiu o efeito da guerra na Ucrânia e, em contraciclo com a zona euro, recuou no segundo trimestre, registando uma variação negativa do PIB de 0,2%. A possibilidade de, no total do ano de 2022, a taxa de crescimento face a 2021 ainda ser superior a 6% não está, no entanto, posta de parte.

De acordo com a estimativa rápida publicada esta sexta-feira pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) para as contas nacionais, o PIB português contraiu-se, durante o segundo trimestre deste ano, 0,2% face aos três meses imediatamente anteriores.

Esta variação negativa segue-se a um crescimento em cadeia no primeiro trimestre de 2,5% (revisão ligeira em baixa face aos 2,6% estimados inicialmente), que tinha sido um dos melhores resultados entre os países da zona euro, e colocou a variação do PIB face ao período homólogo do ano passado em 6,9%, um abrandamento significativo relativamente aos 11,8% que tinham sido atingidos no primeiro trimestre do ano.

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Este desempenho mais fraco da economia portuguesa no segundo trimestre do ano já era esperado pela generalidade dos analistas, não só por causa do resultado particularmente forte do primeiro trimestre, mas principalmente porque foi no segundo trimestre que as economias europeias começaram a ser atingidas pelos efeitos da guerra na Ucrânia ao nível dos preços, da confiança dos agentes económicos e dos fluxos comerciais.

Ainda assim, os números agora conhecidos não eliminam a possibilidade de Portugal registar, na totalidade de 2022, uma taxa de crescimento superior a 6%, como projectado recentemente pelo Banco de Portugal e pela Comissão Europeia. De facto, mesmo que no terceiro e quarto trimestres deste ano o PIB viesse a registar variações nulas em cadeia, o crescimento anual da economia seria em 2022 de 6,2%.

Nas projecções da Comissão Europeia de Verão era aliás já assumido que, no segundo trimestre, se viria a verificar um recuo de 0,2% do PIB, o que não impediu Bruxelas de apontar para um crescimento de 6,5% na totalidade do ano.

De qualquer forma, o resultado final do ano irá depender crucialmente da forma como Portugal e os seus parceiros europeus serão capazes, na segunda metade deste ano, de reagir à conjuntura difícil que enfrentam, com a inflação e a subida de taxas de juro a pressionarem o poder de compra dos consumidores e a ameaça de uma interrupção do fornecimento de gás russo a ensombrar as perspectivas para algumas das principais economias da Europa.

E a verdade é que, com um crescimento negativo em cadeia no segundo trimestre, a economia portuguesa arrisca-se a entrar, caso volte a ter um resultado negativo no terceiro trimestre, em situação de recessão técnica, definida habitualmente como um período de pelo menos dois trimestres consecutivos com variações do PIB negativas em cadeia.

Europa surpreende e acelera

Para já, a nível europeu, a resposta da economia até surpreendeu pela positiva. A travagem da economia portuguesa aconteceu em simultâneo com uma ligeira aceleração da zona euro. E, depois de no primeiro trimestre se ter destacado pela positiva, a economia portuguesa foi, agora, entre os países da zona euro que apresentaram esta quinta-feira novos dados para o PIB, uma das que registou um desempenho mais fraco no segundo trimestre.

De acordo com os dados relevados pelo Eurostat esta sexta-feira, o crescimento do PIB na zona euro foi de 0,7%, uma subida face aos 0,5% do primeiro trimestre. Já a variação homóloga do PIB baixou de 5,4% para 4%.

Estes resultados ficaram claramente acima das expectativas. Entre a generalidade dos analistas, as previsões eram as de que a economia europeia mostrasse, logo no segundo trimestre, o impacto negativo que o conflito na Ucrânia estava a ter ao nível da actividade. A própria Comissão Europeia, nas suas previsões de Verão, apontou para uma estagnação do PIB da zona euro no segundo trimestre.

Aquilo que parece ter acontecido é que as três mais importantes economias do Sul da Europa – França, Itália e Espanha – registaram acelerações expressivas no segundo trimestre. Em França, o crescimento em cadeia passou de -0,2%, no primeiro trimestre, para 0,5% no segundo; enquanto em Itália se passou de 0,1% para 1%; e em Espanha de 0,2% para 1,1%.

Isto compensou o facto de a maior economia da zona euro, a Alemanha, ter registado uma travagem. Se no primeiro trimestre tinha crescido 0,8%, agora a variação do PIB face ao trimestre imediatamente anterior foi nula, confirmando os receios de que o país possa estar à beira da recessão.

Parece ser evidente, olhando para os dados do PIB do segundo trimestre, que se começa a desenhar uma diferença de desempenho dentro das economias da zona euro, entre aquelas que mais directamente sentem os efeitos da guerra na Ucrânia e aquelas que, pelo menos no imediato, são menos afectadas.

De qualquer forma, este crescimento acima do esperado na zona euro no segundo trimestre, quando combinado com uma nova subida da taxa de inflação em Julho, para 8,9%, reforça as expectativas de que o Banco Central Europeu prossiga, já na reunião agendada para Setembro, os seus planos de subida das taxas de juro, possivelmente em mais 0,5 pontos percentuais, à semelhança do que aconteceu na reunião da semana passada.

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