A próxima fase da covid-19: a resiliência do SNS e o novo cenário do outono-inverno de 2022/2023

Estará o SNS preparado para experimentar a típica pressão do inverno associada aos vírus respiratórios, em múltiplas ondas ao longo do ano?

Até há pouco tempo, o SNS funcionava com muita pressão no inverno, mas, logo que este terminasse, os vírus respiratórios retrocediam, e usavam-se os meses de verão para recuperar, progredir bem nas listas de espera e planear o inverno seguinte.

A covid-19 mudou essas regras históricas e, mesmo em pleno verão, as urgências hospitalares mantêm sobrecargas acima do esperado.

Estará o SNS preparado para experimentar a típica pressão do inverno associada aos vírus respiratórios, em múltiplas ondas ao longo do ano?

A covid-19 trouxe um novo paradigma e, por isso, é necessário que se implementem soluções inovadoras. É fundamental fortalecer o nosso Sistema de Saúde, dotando-o de novos equipamentos e estruturas, organização em rede e capacidade e força de trabalho que lhe dê um novo alento… Os políticos não podem continuar a proclamar alegremente que a pandemia ficou para trás e o futuro é cor-de-rosa…

É preciso melhorar a comunicação com a população, não a deixando em auto-gestão, pois a fadiga pandémica pode fazer com que as pessoas facilitem e percam os hábitos que aprenderam desde o início da pandemia. A política atual de “aprender a viver com o vírus” não deve fazer cessar a comunicação, mas sim, deve obrigar a atualizar, de forma assertiva e com base na ciência mais atual, todos os dados da pandemia.

De facto, as pessoas mantêm-se seguras, apenas quando recebem informações claras sobre quais são os riscos, como identificá-los e como mitigá-los. Apesar de a covid-19, neste momento, causar menos internamentos e mortes (fundamentalmente, graças à eficácia do programa de vacinação), não se podem omitir os riscos a longo prazo de infeções ligeiras. O potencial envolvimento cerebral e de outros orgãos, originado pela infeção pelo SARS-CoV-2, suporta o facto de que este vírus deve ser evitado a todo o custo! Uma boa comunicação fará com que as pessoas tomem decisões bem informadas, que reduzirão o risco para elas próprias, as suas famílias e as comunidades onde vivem e trabalham.

A situação da covid-19 está sempre a mudar, com novas variantes que aumentam o risco de contágio e doença grave nas populações imunodeprimidas.

Assim, é premente modernizar e fortalecer o nosso sistema de saúde pública, reforçando algumas medidas essenciais para reduzir o contágio e contrariar a disrupção no sistema de saúde:

  1. É necessário explicar que o uso de máscaras com maior capacidade de filtração (como as FFP2/FFP3) é indispensável, na fase de circulação de variantes como a atual BA.5 ou quando as taxas de infeção são elevadas;
  2. É urgente dar mais ênfase à ventilação dos espaços fechados, instalando ou melhorando sistemas de ventilação/filtração do ar em espaços públicos (com um especial destaque para as escolas);
  3. É essencial facilitar o acesso aos anti-virais e à nova geração de vacinas. Temos de ter a certeza de que existem quantidades suficientes para as populações mais clinicamente vulneráveis e que tanto os anti-virais como as novas gerações de vacinas lhes serão administrados;
  4. É fundamental reforçar a necessidade de testagem quando surgirem sintomas;
  5. É indispensável incrementar o sistema de vigilância/sentinela para os vários vírus respiratórios.

Se estas medidas forem implementadas atempadamente, aumentarão a resiliência do SNS e contribuirão para que o próximo outono-inverno de 2022/2023 não seja um caos anunciado…

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

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