Peixe-remo: a bizarra criatura que é vista como presságio de catástrofes

Um vídeo de um peixe-remo de 5,8 metros encontrado no Chile tornou-se viral porque, segundo uma superstição, estas criaturas marinhas são um prenúncio de terramotos e tsunamis.

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Um peixe-remo de 5,8 metros foi encontrado segunda-feira por pescadores na cidade de Arica, no norte do Chile Miguel Navea/IFOP

Um peixe de 5,8 metros de comprimento, conhecido como peixe-remo ou regaleco, foi encontrado segunda-feira por pescadores na praia Corazones, na região de Arica, no Norte do Chile. Um vídeo com imagens do animal marinho tornou-se viral nas redes sociais, onde muitos utilizadores debatem se a aparição do peixe-remo no litoral chileno é ou não um prenúncio de catástrofes naturais. A superstição terá surgido, ou pelo menos terá sido reforçada, quando em 2011 foi avistado um peixe-remo na costa japonesa pouco tempo antes do terramoto de Fukushima.

Cientistas japoneses que se debruçaram sobre o tema concluíram que não há uma correlação entre os dois eventos. O avistamento de peixes de profundidade em águas rasas japonesas não significa que um terremoto esteja prestes a ocorrer, mostrou um estudo publicado no Boletim da Sociedade Sismológica da América. A análise estatística realizada em 2019 contradiz o folclore japonês e corrobora o consenso científico de que a presença de um peixe-remo junto à costa não deve ser vista como um mau presságio.

Os investigadores examinaram a relação entre aparições de peixes de águas profundas e terremotos ocorridos no Japão entre 1928 e 2011. E encontraram, num total de 336 avistamentos de peixes e 221 tremores de terra, apenas uma aparição na costa que poderia ter sido plausivelmente correlacionada com um episódio sísmico. “Assim, dificilmente se pode confirmar a associação entre os dois fenómenos”, lê-se no estudo de 2019.

“Pensámos que, se pudéssemos entender a relação [entre os dois eventos], seria útil para a prevenção de desastres”, disse Yoshiaki Orihara, do Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento Oceânico da Universidade de Tokai, ao diário britânico The Guardian. “Foi uma decepção não encontrar uma correlação”, confessou há três anos o co-autor do estudo.

A ideia de que o peixe-remo pode ser um sinal de catástrofes remonta à obra Shokoku Rijin Dana, uma colecção de histórias de mistério publicada no século XVIII que estabelece uma relação entre os peixes do fundo do mar e a actividade sísmica, refere o The Guardian. Alguns especialistas especularam no passado que estas criaturas, consideradas bizarras por muitos, se movem para águas mais rasas quando sentem mudanças electromagnéticas causadas pelo movimento tectónico. Esta hipótese aventada também contribuiu para a crença popular de que os peixes-remo encalhados podem ser um presságio.

Além do vídeo viral que circula agora pelas redes, o Instituto de Fomento à Pesca do Chile (IFOP) partilhou no Twitter um outro registo da autoria do observador científico Miguel Navea. Nas imagens, também é possível ver o peixe de quase seis metros a ser içado na vertical numa zona costeira.

“Eles [os peixes-remo ou regalecos] têm bocas salientes e pequenas, assim como uma volumosa barbatana dorsal avermelhada, que se estende da cabeça às extremidades da região caudal, entre seus aspectos mais distintivos”, afirmou Gonzalo Muñoz, investigador associado do IFOP, citado pelo periódico chileno Emol. Este peixe prateado e sinuoso, que também já foi descrito como uma serpente do mar, pode medir até nove metros e pesar até 300 quilos, refere a Enciclopédia Britânica.

O nome científico do regaleco é Regalecus glesne, refere a publicação “Ictiofauna de Portugal: Diversidade taxonómica, nomes comuns e nomes científicos dos peixes marinhos”, editada pelo Instituto Português do Mar e da Atmosfera em 2019. A obra refere que os outros nomes comuns deste animal marinho são rei-dos-arenques, pai-da-sarda, peixe-real, regalengo e relangueiro. Não há referência a peixe-remo, que é como o animal marinho parece ser conhecido na América Latina. A espécie foi descrita em 1772 pelo biólogo dinamarco-norueguês Peter Ascanius. Há várias referências na literatura científica à observação da espécie Regalecus glesne tanto em Portugal continental quanto nos arquipélagos.

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