Ucrânia e Rússia mais próximas de um acordo para desbloquear exportação de cereais

Delegações dos dois países reúnem-se novamente em Istambul na próxima semana e pode vir a ser assinado um entendimento. Apesar dos avanços de quarta-feira, o tom geral é de um optimismo cauteloso.

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Reunião em Istambul foi a primeira em que Rússia e Ucrânia estiveram frente a frente desde Abril EPA/TURKISH DEFENCE MINISTRY HANDOUT HANDOUT

A Turquia anunciou que a Ucrânia e a Rússia chegaram a um entendimento sobre o desbloqueio das exportações de cereais. Depois de uma reunião em Istambul entre militares dos dois países e uma delegação da ONU, o ministro turco da Defesa disse que o acordo será formalizado na semana que vem.

“Chegou-se a um consenso quanto a um reencontro das delegações russa e ucraniana na Turquia na próxima semana. Todos os detalhes serão revistos e o nosso trabalho será assinado nessa reunião”, disse o ministro, Hulusi Akar, em comunicado às redacções.

Na reunião de quarta, que durou três horas e foi a primeira desde Abril em que russos e ucranianos estiveram cara a cara, ficou estabelecido que o centro de comando da operação estará em Istambul e que todas as partes vão controlar os navios à entrada e saída dos portos. O plano proposto pelas Nações Unidas prevê a criação de três corredores seguros no Mar Negro, contornando as minas colocadas em redor de Odessa. Hulusi Akar não especificou se será essa a solução adoptada.

“Constatamos que as partes estão dispostas a resolver este problema. Vamos trabalhar para apresentar resultados”, acrescentou o ministro.

A Turquia mantém boas relações com a Ucrânia e com a Rússia e tem conduzido vários esforços diplomáticos desde o início da guerra com vista a um cessar-fogo. Na próxima terça-feira, Recep Tayyip Erdogan encontra-se com Vladimir Putin em Teerão e esse poderá ser o cenário escolhido para anunciar o desbloqueio na exportação de cereais, que teria grande impacto no sistema alimentar mundial.

“Foi dado um passo importante e relevante, um passo no caminho para um acordo abrangente”, congratulou-se António Guterres, acrescentando, no entanto, que “é preciso mais trabalho técnico para que o progresso de hoje [quarta] seja materializado”. O secretário-geral da ONU sublinhou que a reunião em Istambul mostra que Rússia e Ucrânia são capazes de falar, mas também reconheceu que “ainda há um longo caminho até à paz”.

A Ucrânia é um dos maiores exportadores mundiais de milho, cevada e óleo de girassol, sendo ainda responsável, em conjunto com a Rússia, por 30% da produção mundial de trigo. O sector agrícola representa 10% do PIB ucraniano e calcula-se que haja 20 milhões de toneladas de cereais prontas a sair do país. À excepção de Odessa, a Rússia controla todos os outros portos ucranianos importantes nas costas do mar Negro e do mar de Azov.

Nestas negociações, a principal preocupação da Ucrânia era assegurar que a Rússia não aproveita a ocasião para atacar Odessa, enquanto a principal preocupação da Rússia era garantir que os navios usados para transportar cereais não são usados igualmente para fazer entrar armas e material militar na Ucrânia.

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