‘Tchizé’ dos Santos: “Eu acho que o meu pai morreu por não ter apoiado João Lourenço”

Em entrevista à CNN Portugal, filha de José Eduardo dos Santos lança suspeitas de homicídio do pai, explica porque recusa enviar o corpo para Angola, diz que corre perigo de vida e garante que Portugal e Angola lhe vão pagar uma “indemnização brutal”.

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'Tchizé' dos Santos é ex-deputada do MPLA João Relvas

Welwitschia José ‘Tchizé’ dos Santos, filha do ex-Presidente angolano José Eduardo dos Santos, falecido na passada sexta-feira, aos 79 anos, numa clínica em Barcelona, lançou uma série de acusações violentas e graves contra o Estado angolano e o actual chefe de Estado, João Lourenço, numa entrevista atribulada com a CNN Portugal, na segunda-feira à noite.

Sem dar grande espaço para a jornalista poder intervir e questionar o que estava a dizer, ‘Tchizé’ lançou-se num rol de suspeitas sobre a origem do acidente vascular cerebral que esteve na origem da morte do pai e defendeu mesmo que este foi assassinado por pessoas próximas de João Lourenço, “por não ter apoiado” o Presidente nas eleições agendadas para o final de Agosto.

A filha de José Eduardo dos Santos e de Maria Luísa Abrantes confirmou que apresentou, em nome próprio, uma queixa por tentativa de homicídio do pai, dizendo que tem “o apoio de alguns irmãos”, ainda que não revele quais.

Os principais suspeitos do “homicídio”, explicou, são elementos do corpo médico e de segurança que acompanhavam Eduardo dos Santos, assim como Ana Paula dos Santos, mulher do pai, que, garante, eram “infiltrados” do Governo de Lourenço.

“Nenhum médico conseguiu explicar como é que o meu pai conseguiu chegar de Angola [a Barcelona] com 30 quilos a menos. [Os] filhos nunca foram informados que o pai estava a perder muito peso”, contou.

“É muito curioso que o João Lourenço tenha ficado a saber do falecimento do meu pai e tenha anunciado primeiro do que eu”, revelou. “Eu fiquei a saber pelo senhor Lourenço do falecimento do meu pai. O que me chocou tremendamente.”

Acusando João Lourenço de querer “competir o protagonismo com o falecido”, “até na morte alheia”, a ex-deputada do MPLA insistiu que não vai permitir que o corpo de José Eduardo dos Santos seja transladado para Angola, para ser homenageado num funeral de Estado.

“O meu pai deixou uma vontade expressa de não mais voltar a ser humilhado por João Lourenço e não mais voltaria a Angola”, assegurou. “O Presidente de Angola é um ditador corrupto. Eu não vou vender o corpo do meu pai para lado nenhum.”

Questionada sobre a possibilidade de Isabel dos Santos, empresária e filha mais velha do ex-Presidente, poder marcar presença num evento dessa natureza, em Angola, ‘Tchizé’ afirmou: “Olhe, eu não sei, de certeza absoluta que não, a menos que cometa o grande erro de chegar a algum tipo de acordo. (…) Se ela for, vai ser vista como uma grande traidora.”

Dizendo que se encontra em Espanha, por temer “estar nas mãos de pessoas que são subordinados directos de alguém que persegue”, ‘Tchizé’ garantiu que não irá “pôr o pé em nenhuma instituição de Angola enquanto o João Lourenço for Presidente de Angola”. “Eu corro perigo de vida em qualquer sítio onde ele tenha controlo”, explicou.

E não deixou de apontar o dedo a Portugal: “Sou cidadã portuguesa e não sinto segurança jurídica para estar em Portugal, porque o Governo português já baixou as orelhas ao Governo de João Lourenço”, criticou. “O Estado português também me deve uma indemnização e vai pagar uma indemnização porque também tem estado a difamar através dos seus tribunais.”

Neste aspecto, acrescentou, também o Governo de Angola lhe “deve uma indemnização brutal”: “Tudo o que eu fiz em Angola foi proveitoso e beneficiou o Estado.”

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