Incêndios dominados mas com forte possibilidade de reactivação. Protecção Civil mantém meios no terreno

Temperaturas elevadas e seca deixam Portugal em risco de incêndio. Mais de 80 concelhos de dez distritos em perigo máximo.

Foto
Portugal enfrenta onda de calor que agrava o risco de incêndio LUSA/MÁRIO CRUZ

A Autoridade Nacional de Emergência e Protecção Civil registou, até às 12h15 desta segunda-feira, um total de 30 incêndios. “Não há nenhum incêndio significativo activo”, informou o Comandante Nacional de Emergência e Protecção Civil, André Macedo Fernandes, num balanço à comunicação social.

De acordo com o responsável, Portugal inverteu a “situação de tendência de subida de ignições”. O número mais elevado de ocorrências foi registado no Porto (seis) e em Vila Real (quatro). Os incêndios que tiveram origem nos dias 7, 8 e 10 de Julho já estão todos dominados, “em fase de estabilização dos perímetros dos incêndios”.

Macedo Fernandes adiantou que estão ainda empenhados nos teatros de operações os seguintes meios: 17 grupos de reforço dos corpos de bombeiros; um grupo da força social protecção civil; quatro máquinas de rasto; um veículo de reforço da rede SIRESP; além da GNR e dos bombeiros.

Apesar da tendência de melhoria, o comandante lembrou que não é altura de baixar a guarda. “A situação operacional neste momento tem uma tendência de alguma acalmia, mas as situações de reactivação nestes incêndios com grandes áreas afectadas e com perímetros muito longos é muito grande. Portanto, mantemos os dispositivos no local para evitar as reactivações e, quando estas ocorram, que consigam ser debeladas logo no início”, frisou Macedo Fernandes. “Os incêndios estão dominados, mas a qualquer altura podem ter uma reactivação. Tudo será feito para que não aconteça, mas queremos dar nota da complexidade da situação.”

“Aquilo que é previsto para os próximos dias é um agravamento das previsões meteorológicas. É preciso não baixarmos a guarda, mantermos esta diminuição das ignições. Todos nós temos de ser responsáveis por isso”, referiu ainda. Ao mesmo tempo que lembrou a “tolerância zero” como “chave” para diminuir o número de incêndios, o comandante deixou dois conselhos: “não usar o fogo e não usar as máquinas nos espaços florestais e rurais”.

Desde 7 de Julho foram assistidas 41 pessoas, registados 26 feridos leves e um ferido grave (apenas considerado grave por estar em causa uma fractura exposta no pulso). Muitos dos feridos não precisaram de ser transportados para o hospital.

Fogo que começou em Ourém e atingiu Alvaiázere e Ferreira do Zêzere em resolução

O incêndio que começou na quinta-feira à tarde no concelho de Ourém e que alastrou a Alvaiázere (Leiria) e Ferreira do Zêzere está em resolução, revelou à agência Lusa fonte do Comando Distrital de Operações de Socorro (CDOS) de Santarém.

“Todo o perímetro do incêndio está em resolução. Tem havido reactivações, mas têm sido prontamente debeladas”, adiantou a mesma fonte, pelas 11h30. Segundo o CDOS de Santarém, o estado do incêndio passou à fase em resolução pelas 8h, embora permaneçam no terreno 620 operacionais, apoiados por 202 veículos e seis meios aéreos.

A fonte do CDOS esclareceu que neste incêndio estão contabilizados 44 feridos: 37 agentes de protecção civil (maioritariamente bombeiros) e sete civis. Trinta e cinco daqueles feridos foram assistidos no local. As situações prendem-se, sobretudo, com inalação de fumo e exaustão.

Este incêndio começou às 16h37 de quinta-feira, na localidade de Cumeada, na União de Freguesias da Freixianda, Ribeira do Fárrio e Formigais.

À agência Lusa, o presidente da Câmara de Ourém, Luís Albuquerque, disse esta segunda-feira não haver ainda uma estimativa dos prejuízos decorrentes do fogo, mas notou que estes se devem, “essencialmente, a zonas de mato, pinheiro e eucalipto”.

“Felizmente, em habitações no nosso concelho não há danos a registar”, declarou Luís Albuquerque, apontando “dois ou três anexos já devolutos” que arderam. A Autoridade Nacional de Emergência e Protecção Civil adiantou, na rede social Facebook, que a área ardida estimada neste incêndio é de 2084 hectares.

Bruxelas acompanha situação em Portugal com “particular preocupação”

A Comissão Europeia disse esta segunda-feira estar a acompanhar com “particular preocupação” a situação em Portugal pelas temperaturas elevadas que aumentam o risco de incêndio, indicando estar disponível para ajuda adicional, além dos mapas satélite e dos meios aéreos já mobilizados.

“Temos estado a acompanhar a situação em Portugal com particular preocupação, nomeadamente no nosso centro de gestão de crises aqui na Comissão. Temos estado em contacto estreito com as autoridades portuguesas”, disse o porta-voz da instituição para a área da gestão de crises, Balazs Ujvari.

Falando na conferência de imprensa diária da Comissão Europeia, em Bruxelas, Balazs Ujvari referiu que Bruxelas já mobilizou o Programa de Observação da Terra da União Europeia, o sistema satélite Copernicus, para permitir às autoridades portuguesas avaliar melhor a situação no terreno e verificar a dimensão das áreas afectadas, bem como o Mecanismo Europeu de Protecção Civil, que permite facultar apoio no combate às chamas, como meios aéreos.

“Continuaremos em contacto com as autoridades portuguesas e caso seja necessária ajuda adicional não hesitaremos em mobilizá-la o mais rapidamente possível”, adiantou o responsável.

No domingo, a Comissão Europeia mobilizou dois aviões espanhóis para combater os incêndios em Portugal, que accionou o Mecanismo Europeu de Protecção Civil, anunciou o executivo comunitário. “Como resposta imediata, a Comissão Europeia mobilizou esta manhã dois aviões de combate a incêndios Canadair da sua frota localizada em Espanha”, referiu.

Portugal e Espanha têm sido afectados por temperaturas elevadas que aumentaram o risco de incêndio, situação que se deverá agravar nos próximos dias.

Mais de 80 concelhos em perigo máximo

No mesmo dia em que Portugal continental entrou em situação de contingência devido às previsões meteorológicas para os próximos dias, mais de 80 concelhos de dez distritos estão em perigo máximo de incêndio rural, segundo o IPMA. Em perigo máximo estão mais de 80 concelhos dos distritos de Bragança, Vila Real, Braga, Viseu, Guarda, Coimbra, Castelo Branco, Portalegre, Beja e Faro.

O Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) colocou também vários concelhos de todos os distritos de Portugal continental em perigo muito elevado e elevado de incêndio rural.

No âmbito da declaração da situação de contingência, prevista na Lei de Bases de Protecção Civil, serão ainda implementadas medidas de carácter excepcional, como a proibição do acesso, circulação e permanência no interior dos espaços florestais, proibição da realização de queimadas e de queimas de sobrantes de exploração e proibição de realização de trabalhos nos espaços florestais com recurso a qualquer tipo de maquinaria, com excepção dos associados a situações de combate a incêndios rurais.

Será também proibida a realização de trabalhos nos espaços rurais com recurso a moto-roçadoras de lâminas ou discos metálicos, corta-matos, destroçadores e máquinas com lâminas ou pá frontal e a utilização de fogo-de-artifício.

O perigo de incêndio, determinado pelo IPMA, tem cinco níveis, que vão de reduzido a máximo. Os cálculos são obtidos a partir da temperatura do ar, humidade relativa, velocidade do vento e quantidade de precipitação nas últimas 24 horas.

Sugerir correcção
Ler 1 comentários