Boris Johnson confirma demissão e assume tristeza “por abdicar do melhor trabalho do mundo”

Primeiro-ministro anuncia renúncia ao cargo e início da corrida à liderança do Partido Conservador e do Governo, lamentando não ter podido cumprir o “incrível mandato” conquistado nas eleições de 2019. De forma crítica, sublinha os perigos do poderoso “instinto de rebanho” de Westminster.

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Boris Johnson demite-se “do melhor trabalho do mundo” Joana Bourgard

Boris Johnson confirmou, esta quinta-feira, num discurso em frente ao n.º10 de Downing Street, em Londres, que vai abandonar o cargo de líder do Partido Conservador e de primeiro-ministro do Reino Unido.

“É agora evidente que é da vontade do Partido Conservador no Parlamento que haja um novo líder desse partido e, portanto, um novo primeiro-ministro, e concordei com sir Graham Brady, presidente dos nossos deputados, que o processo de escolha de um novo líder deve começar imediatamente”, começou por dizer.

Johnson revelou que o calendário para a escolha do seu sucessor será divulgado na próxima semana e confirmou que quer manter-se como líder do Governo “até um novo líder estar em funções”. Uma posição que pode ser contestada dentro e fora do partido por aqueles que exigem a sua saída imediata.

O dirigente tory congratulou-se com a vitória do Partido Conservador nas eleições legislativas de 2019, lembrando que, consigo ao leme, obtiveram a maior maioria parlamentar desde 1987 e a maior percentagem de votos desde 1979.

Para além disso, confessou o seu “enorme orgulho” por ter conduzido o país para fora da União Europeia, com a bem-sucedida campanha de vacinação contra a covid-19 e com o papel de “liderança do Ocidente” que entende ter sido assumido pelo Reino Unido na resposta à invasão russa da Ucrânia.

“Deixem-me dizer ao povo da Ucrânia que sei que nós, no Reino Unido, vamos continuar a apoiar a vossa luta pela liberdade, durante o tempo que for necessário”, garantiu.

Explicando que, “nos últimos dias, tentou persuadir” os seus ministros de que uma mudança de Governo era uma ideia “excêntrica” face à crise económica britânica e à guerra na Europa, Johnson assumiu a sua “tristeza” por ter de abrir mão “do melhor trabalho do mundo” e por não ter sido possível continuar a cumprir o “incrível mandato” obtido em 2019.

“Lamento não ter sido bem-sucedido em apresentar esses argumentos [aos ministros] e é doloroso não poder avançar com tantas ideias e projectos”, disse à família, aos amigos e aos jornalistas ali reunidos para o ouvir, para depois lançar uma crítica velada para dentro e fora do partido: “Mas, como temos visto em Westminster, o instinto de rebanho é poderoso. E quando o rebanho avança, avança”.

Ainda assim, lembrou que em política ninguém é “minimamente indispensável” e mostrou confiança na capacidade do “sistema darwinista” britânico em “produzir mais um líder”.

E deixou os agradecimentos ao partido, à família e, principalmente, aos eleitores. “Acima de tudo, quero agradecer à população britânica, pelo enorme privilégio que me deu”, afirmou. “Ser primeiro-ministro é, em si mesmo, uma formação”.

Por fim, um sinal de esperança: “Mesmo que as coisas possam parecer negras, neste momento, o nosso futuro em conjunto é dourado”.

Boris Johnson abandona o cargo depois de mais de 50 membros do seu Governo se terem demitido em menos de 48 horas, em protesto contra a forma como primeiro-ministro geriu o mais recente escândalo em Downing Street, relacionado com nomeação para um cargo parlamentar de um deputado sobre o qual Johnson tinha recebido denúncias de comportamento sexual abusivo.

Antes disso, já estava numa posição muito fragilizada por causa da polémica das festas realizadas na sede do poder executivo, em Londres, que violaram as regras da covid-19 impostas pelo seu próprio Governo, e nas quais participou, tendo sido multado pela polícia.

Há cerca de um mês, conseguiu sobreviver a uma moção de desconfiança lançada pelos deputados do seu partido. Mas o facto de 40% da bancada conservadora ter votado a favor do seu afastamento criou uma situação política insustentável para o ainda primeiro-ministro do Reino Unido.

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