Macron remodela o Governo para tentar viver com maioria relativa

Há pelo menos quatro mexidas obrigatórias, mas a nova conjuntura política poderá levar o Presidente a alargar o executivo aos seus parceiros de coligação e até a antigos adversários. Primeira-ministra fala ao Parlamento na quarta-feira.

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Élisabeth Borne foi nomeada primeira-ministra depois das presidenciais de Abril e tem estado sob pressão para se submeter a um voto de confiança Reuters/GONZALO FUENTES

Duas semanas depois das legislativas que criaram a primeira situação de maioria relativa na Assembleia Nacional francesa em 34 anos, espera-se para esta segunda ou terça-feira uma remodelação do Governo que tomou posse no fim de Maio. Emmanuel Macron promete “um novo Governo de acção”, enquanto a oposição pede à primeira-ministra, Élisabeth Borne, que se submeta a um voto de confiança no Parlamento.

Fosse qual fosse a composição parlamentar, as mudanças no executivo seriam sempre necessárias. Uma regra não escrita, e que Macron confirmou antes das eleições, estabelece que os governantes que se candidatem nas legislativas e não consigam o lugar de deputados devem abandonar os respectivos cargos.

Estão nesta situação as até agora ministras da Saúde, Brigitte Bourguignon, e da Transição Ecológia, Amélie de Montchalin, assim como a secretária de Estado do Mar, Justine Bénin. A esta lista junta-se o nome de Yaël Braun-Pivet, que era ministra do Ultramar e foi eleita na semana passada para a presidência da Assembleia. O debate sobre um projecto de lei sobre segurança sanitária, que terá lugar terça-feira na comissão parlamentar de leis com a presença do titular da pasta da Saúde, torna provável uma remodelação ainda na segunda.

A conjuntura política poderá obrigar Macron a somar outras mudanças às obrigatórias. Um membro do Governo sublinha ao Le Figaro a importância de escolher pessoas capazes de “trabalhar com o Parlamento” numa altura em que faltam 39 votos à coligação para assegurar a aprovação de leis.

Na linha da frente para assumirem funções executivas estão membros dos dois partidos que, conjuntamente com o Renascimento, formaram a coligação eleitoral de apoio a Macron. O Horizontes, liderado pelo ex-primeiro-ministro Edouard Philippe, não tem actualmente ninguém no Governo e a expectativa nas fileiras partidárias é que Frédéric Valletoux, autarca de Fontainebleau, seja escolhido para a Saúde e que Arnaud Robinet, autarca de Reims, também receba uma pasta.

Já o líder do Movimento Democrático, François Bayrou, tem criticado a actual composição do executivo e espera que pelo menos dois dos seus deputados, Sarah El Haïry e Jean-Noël Barrot, integrem a futura lista de governantes.

Mas há ainda outras contas que Borne e Macron terão de fazer antes das nomeações. O líder de Os Republicanos, Christian Jacob, que está de saída do cargo, rejeitou coligações formais com a coligação presidencial, mas o Le Monde escreve este domingo que há nomes desse partido que são citados nos corredores do Eliseu como ministeriáveis.

Por outro lado, diz o mesmo jornal, Macron poderia conseguir convencer o ex-candidato presidencial ecologista, Yannick Jadot, a assumir a pasta ambiental, num momento em que os Verdes se aproximaram da França Insubmissa e deixaram o protagonismo político inteiramente nas mãos de Jean-Luc Mélenchon.

Moção de confiança?

Depois das legislativas, Mélenchon atirou-se a Borne. “Esta mulher não tem nenhuma legitimidade, zero. A primeira tarefa do Governo é apresentar-se na Assembleia e pedir a sua confiança”, declarou o líder da coligação de esquerda NUPES.

A primeira-ministra está sob pressão para apresentar um voto de confiança que permita separar as águas e perceber a sua margem de manobra parlamentar. Oficialmente ainda não esclareceu se o fará na próxima quarta, quando se dirigir à Assembleia para revelar e explicar as linhas do seu programa.

Segundo uma sondagem divulgada este domingo pelo Le Figaro, 66% dos inquiridos defende que Élisabeth Borne deve sujeitar-se a uma moção de confiança e 51% é da opinião que deve manter-se como primeira-ministra.

A apresentação de uma moção de confiança depois das legislativas é mais uma tradição política francesa não obrigatória. Sete antecessores de Borne cumpriram-na, mas ela é a primeira a ter de o fazer perante um Parlamento de maioria relativa. Esta semana, enquanto Macron participava nas cimeiras do G7 e da NATO e na Conferência dos Oceanos, a primeira-ministra fez uma ronda de contactos com os líderes da oposição e terá percebido, segundo os relatos da imprensa, que a abertura a negociações se mantém baixa.

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