Oligarca russo considera a “guerra” movida pelo Kremlin um “erro colossal”

“A destruição da Ucrânia será do interesse da Rússia? Decerto que não, isso seria um erro colossal”, afirmou Oleg Deripaska. O fundador do gigante do alumínio Rusal foi também alvo das sanções ocidentais, mas considera que estas “são muito mais dolorosas para a Rússia do que para o Ocidente”.

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Nos primeiros dias da ofensiva russa, e devido ao amplo pacote de sanções ocidentais, Deripaska não criticou directamente a ofensiva, realidade que agora se alterou EPA/OLEG PETRASYUK

O oligarca e empresário russo Oleg Deripaska considerou esta terça-feira um “erro colossal” o conflito na Ucrânia, onde a Rússia desencadeou uma vasta ofensiva em Fevereiro, afirmações de rara virulência de um representante da elite russa.

“A destruição da Ucrânia será do interesse da Rússia? Decerto que não, isso seria um erro colossal”, disse no decurso de uma rara conferência de imprensa em Moscovo.

Deripaska repetiu por diversas vezes esta fórmula de “erro colossal” e qualificou de “guerra” a situação na Ucrânia, um termo banido na Rússia após as autoridades terem imposto a designação de “operação militar especial”.

O oligarca é fundador do gigante do alumínio Rusal, e foi também alvo das sanções ocidentais. Em 2022 detinha, segundo a revista Forbes, uma fortuna avaliada em 1,7 mil milhões de dólares (1,6 mil milhões de euros), contra 3,8 mil milhões de dólares (3,6 mil milhões de euros) em 2021. Deripaska também considerou que o actual regime político na Rússia não deverá registar qualquer alteração. “Não existe potencial para uma alteração do regime”, frisou, ao considerar que a oposição “se retirou da vida política do país”.

Os representantes da oposição ao Presidente Vladimir Putin foram na maioria forçados ao exílio ou estão detidos, uma repressão que se acentuou com a ofensiva contra a Ucrânia.

Nos primeiros dias da ofensiva russa e devido ao amplo pacote de sanções ocidentais, Deripaska não criticou directamente a ofensiva, mas sublinhou que a Rússia enfrentava um enorme desafio económico. Agora, o oligarca criticou a resposta russa às sanções, lamentando que as autoridades ainda não tenham adoptado, “120 dias após o início do conflito, decisões que eram necessárias” para atenuar o impacto das restrições para a economia russa.

As sanções “são muito mais dolorosas para a Rússia do que para o Ocidente, é evidente”, disse. Desta forma, contradisse o Presidente Vladimir Putin, que considera que a Rússia resistiu às sanções, e que defende que, pelo contrário, estas estão a penalizar as populações ocidentais, referindo-se em particular ao aumento dos preços da energia. Na Rússia, a inflação aumentou consideravelmente e diversas empresas interromperam a actividade.

“Incomoda-me como depressa se ultrapassou o que ocorria nos anos de 1990 e, de seguida, desbaratar o que foi atingido nos anos 2000”, disse Deripaska numa outra crítica velada ao Kremlin. Putin reivindica ter posto fim ao “caos” da década de 1990, assinalada pela liberdade de expressão e também pela transição forçada para o capitalismo após a desintegração da União Soviética, que originou no país euro-asiático uma profunda crise económica e social.

Apesar de o Presidente russo ter cortado as liberdades públicas e demonstrado incapacidade para combater eficazmente a corrupção, conseguiu estabilizar a Rússia a partir a sua tomada de posse em 2000, devido às decisivas exportações de petróleo e gás que permitiram a ascensão de uma classe média que agora começa a sentir o efeito das sanções.

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