Exame de Física e Química foi “acessível” mas também “trabalhoso e extenso”

Para os representantes das Sociedades Portuguesas de Física e de Química, o exame nacional desta segunda-feira estava de acordo com os conteúdos programáticos da disciplina. Apesar disso, foi “moroso” e exigia atenção do aluno. E muitos alunos poderão não ter conseguido chegar ao fim.

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O exame de Física e Química do 11.º ano é o terceiro mais concorrido Nelson Garrido

Um exame que “não era difícil” nem tinha “nada de peculiar”, mas que foi “trabalhoso e extenso”. Esta é a conclusão dos representantes da Sociedade Portuguesa de Química (SPQ) e da Sociedade Portuguesa de Física (SPF), ouvidos pelo PÚBLICO, em relação ao exame nacional de Física e Química do 11.º ano, que decorreu na manhã desta segunda-feira. Inscreveram-se 42.277 alunos, para realizar a prova e compareceram 32.745.

“Considerei que a prova era um bocadinho extensa e, portanto, que os alunos tiveram de utilizar os 30 minutos que tinham suplementares”, explica Isabel Coutinho, vice-presidente da Divisão de Ensino e Divulgação da Química da SPQ. Quanto à parte de Química diz que foi “acessível” e “está dentro daquilo que era pedido pelo Ministério da Educação”. “Está dentro dos parâmetros que se esperavam, portanto, era exequível.”

Para Isabel Coutinho, que realizou a prova ao mesmo tempo que os alunos e que, por norma, deve despender metade do tempo que os estudantes têm disponível para a resolução da prova, este foi um exame “acessível, mas moroso”. “Fiquei mais apreensiva pelo tempo que a prova demorou a fazer e não tanto pelo grau de dificuldade”, justifica. “Se considerei que era moroso para mim, os alunos provavelmente demoraram um bocadinho mais. Não era uma coisa directa, o aluno tinha de observar bem os dados para depois conseguir resolver com eficiência os problemas.”

Também a nova Associação Portuguesa de Professores de Física e Química (APPFQ) aponta no mesmo sentido num parecer divulgado nesta terça-feira: “A prova é extensa, sendo muito difícil de resolver com sucesso no tempo regulamentar, o que poderá ter impedido muitos alunos de a terminarem ou de fazerem a sua desejável revisão.” Apesar de considerar que “a prova é equilibrada no que respeita à distribuição das cotações pelas componentes de Física e de Química “ e que “o nível de complexidade cognitiva é adequado”, a APPFQ apresenta uma série de críticas quanto à “clareza na formulação dos itens”, que pecará por defeito em pelo menos dez das 24 questões que compõem a prova.

Esta associação alerta também que um dos itens apresentados (7.2) “mobiliza conhecimentos relativamente às resistências internas dos aparelhos de medida, que não estão discriminados nas aprendizagens essenciais”. E questiona ainda os critérios de classificação definidos para as questões 5.1.2 e 5.2 devido, entre outras razões, ao facto de estar contabilizada uma avaliação a uma componente “não solicitada” na prova. “Estas discrepâncias deverão ser corrigidas na versão final dos critérios de classificação. De outro modo, os critérios de avaliação específicos não estarão ajustados ao solicitado nestes itens”, defende.

Para a vice-presidente da SPQ, o exame, que “não foi difícil”, exigia não só muita atenção na leitura dos enunciados, mas também “traquejo para resolver problemas”. “Não podia ser um aluno que fez poucos problemas, tinha de ser um aluno que estava ‘treinadinho’ para fazer problemas para os conseguir resolver no tempo útil.”

Também do lado da Física, a conclusão da SPF é de que não existiam “perguntas com rasteira”. “Foi uma prova bastante regular”, refere o presidente da SPF, José António Paixão, que acrescenta não existir “nada de peculiar a assinalar”.

Apesar disso, para a associação, os critérios de valorização podiam ser mais equilibrados. “Há algumas coisas que podiam ser melhoradas, ou seja, havia perguntas que tinham o mesmo valor, mas que eram de dificuldade diferente. Se calhar a valorização em pontos da prova não está assim tão equilibrada quanto isso.” Entre essas questões, destaca no grupo de escolha múltipla em que perguntas “relativamente fáceis” tinham a mesma cotação (dez pontos) que outras que exigiam “mais trabalho” e que valiam o mesmo.

Um aspecto que caracteriza como “inovador” foi a questão de natureza experimental (número sete), que “não é muito comum” e que foi “um bocadinho mais imaginativa, mas não foi difícil”. “Houve realmente algum cuidado em pôr algumas questões diferentes do habitual, o que nós aplaudimos. Na parte experimental, há uma questão de natureza operacional em que se pergunta um detalhe que é suposto os alunos, que fazem mesmo a experiência nas escolas — não são todos se calhar —, terem mais facilidade em responder”, desenvolve José António Paixão.

As opiniões vão, aliás, ao encontro dos testemunhos recolhidos pelo PÚBLICO, com alguns alunos a referir que o exame de Física e Química “correu bem” ou “melhor do que se esperava”. Para outros, o exame “correu mais ou menos”, mas acreditam que vão “tirar positiva”. Repetentes e não repetentes, concordaram entre eles que o exame do ano passado “foi mais difícil”.

Acrescenta posição da nova Associação Portuguesa de Professores de Física e Química

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