Rússia prepara-se para entrar em default

Se a Rússia entrar em incumprimento, será a primeira vez em cem anos.

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Praça Vermelha, em Moscovo Reuters/Maxim Shemetov

Prestes a chegar ao fim do prazo para pagar 100 milhões de dólares em juros a detentores de dívida, a Rússia está perto de entrar em default já neste domingo, naquele que, a confirmar-se, será o primeiro incumprimento de dívida em mais de cem anos.

Em causa está o pagamento de cerca de 100 milhões de dólares (perto de 95 milhões de euros, à cotação actual) em juros, que deveria ter sido feito até 27 de Maio. Falhado esse prazo, a Rússia tinha um período de carência de 30 dias, que chega ao fim este domingo.

O Governo russo garante que o pagamento foi feito, pelo que, defende, a obrigação terá sido cumprida. Contudo, a Rússia tem sido alvo de sanções internacionais desde que invadiu a Ucrânia, incluindo sanções financeiras que, na prática, excluíram o país do sistema financeiro global, impedindo a movimentação de fundos. Assim, é pouco provável que, mesmo que tenha sido transferido, o montante em causa chegue aos destinatários, o que levará a Rússia a entrar em incumprimento.

Este não é um desfecho surpreendente. “Desde Março que acreditávamos que um default da Rússia era, provavelmente, inevitável. A questão era apenas quando”, diz à Reuters um advogado especializado em litígios relacionados com dívida soberana. A questão, acrescenta o mesmo advogado, acabou por ser respondida quando, no final de Maio, dois dias antes do final do prazo para o pagamento em causa, o Departamento do Tesouro dos Estados Unidos decidiu pôr fim a uma lacuna nas sanções que, até então, ainda permitia à Rússia pagar a sua dívida em dólares aos investidores norte-americanos.

O efeito prático de um incumprimento da dívida será reduzido. Em circunstâncias normais, a Rússia teria dificuldades em recorrer aos mercados, mas, neste momento, essa é uma fonte de financiamento a que nem sequer pode recorrer, devido às sanções de que é alvo. Ao mesmo tempo, o país tem reservas substanciais de dinheiro, fruto das receitas obtidas com petróleo e gás natural, pelo que o impacto directo para a população também será, pelo menos num primeiro momento, reduzido.

O impacto será sentido, maioritariamente, no futuro, quando a Rússia voltar a financiar-se nos mercados internacionais, já que um default levará, muito provavelmente, a um aumento dos custos de financiamento. Para além disso, há ainda que contar com os longos processos por que terá de passar ao entrar em incumprimento. Quando falhou o pagamento de uma dívida pela última vez, em 1918, a Rússia só conseguiu chegar a acordo com os credores em 1998.

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