Criptomoedas recuperam das quedas, mas nervosismo mantém-se

As principais criptomoedas mundiais estão a valorizar mais de 5% nesta sessão, recuperando parte das perdas registadas na semana passada. Mas a expectativa dos mercados é de que esta acalmia seja de curta duração.

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Reuters/Dado Ruvic

Depois da derrocada da semana passada, o mercado das moedas digitais está a recuperar no início desta semana, com a bitcoin, principal criptomoeda a nível mundial, a afastar-se da fasquia psicológica dos 20 mil dólares. As criptomoedas seguem, assim, a tendência que também é sentida nos mercados accionistas, mas os analistas avisam que a acalmia será de curta duração. E os investidores começam a preparar-se para isso mesmo: esta terça-feira, começou a ser negociado em bolsa o primeiro fundo que aposta na queda da bitcoin.

A fuga de activos de maior risco a que se assistiu na semana passada, numa altura em que os investidores avaliam o impacto que a subida das taxas de juro poderá ter sobre as suas carteiras, levou a bitcoin a derrapar até aos 18.732 dólares (cerca de 17.800 euros, ao câmbio actual), o valor mais baixo desde Novembro de 2020 e um montante que fica muito abaixo da fasquia dos 20 mil dólares, tida como um limiar de referência a partir do qual aumenta o risco de liquidação dos investimentos em criptoactivos. A acompanhar a bitcoin, outras moedas seguiram o mesmo caminho, como a Ethereum, que chegou a tocar nos 884 dólares (840 euros), um mínimo desde Janeiro do ano passado.

Entretanto, o mercado está a recuperar parte das perdas. Por esta altura, a bitcoin segue a valorizar mais de 5% e está a cotar nos 21.533 dólares. Também a Ethereum está a subir perto de 6% e voltou a ultrapassar os mil dólares, negociando agora nos 1187 dólares. Outras moedas menos populares registam ganhos ainda mais acentuados, como a Solana, que sobe quase 10%.

A expectativa dos mercados, contudo, é que esta recuperação, tanto nos mercados accionistas como nos criptoactivos, não se mantenha por muito tempo. “É uma pausa daquilo que ainda é uma tendência, onde há uma cada vez maior probabilidade de um abrandamento do crescimento económico e uma inflação elevada – potencialmente, uma estagflação”, comenta Timothy Graf, analista da State Street Global Markets, citado pela Reuters.

“Ainda que a melhoria do sentimento económico possa suportar ganhos nas bolsas no curto prazo, a cautela mantém-se no ar, sendo provável que os investidores tenham alguma reserva quanto a activos de maior risco”, diz outro analista, citado pela agência noticiosa, lembrando que esta semana poderá ser marcada pela volatilidade, tendo em conta a divulgação de dados económicos por parte de algumas das maiores economias do mundo e a audição de Jerome Powell no Congresso norte-americano.

Carteiras congeladas e aposta na queda da bitcoin

Aliás, é o próprio universo dos criptoactivos a admitir que a volatilidade ainda irá fazer-se sentir nos próximos tempos. De um lado, várias plataformas para depósito de criptomoedas congelaram os movimentos de contas, devido às condições do mercado. Ao mesmo tempo, começam a surgir soluções para que os investidores possam ganhar dinheiro com a desvalorização das criptomoedas.

A plataforma Celsius Network foi a primeira a adoptar uma medida desta natureza, no início da semana passada, ao proibir todos os levantamentos, trocas e transferências entre contas, decisão que justificou com as “condições extremas de mercado”. No mesmo dia, a principal plataforma deste mercado, a Binance, também suspendeu os levantamentos de bitcoin, durante várias horas.

A Binance regressou à normalidade pouco tempo depois, mas deixou o aviso aos seus utilizadores: “A negociação de criptomoedas está sujeita a um elevado risco de mercado. Por favor, faça os seus negócios com cautela. A Binance não é responsável pelo prejuízo resultante das suas operações”.

Já a Celsius ainda não levantou a suspensão das operações. “Passou uma semana desde que colocámos em pausa os levantamentos, trocas e transferências. Queremos que a nossa comunidade saiba que o nosso objectivo continua a ser estabilizar a nossa liquidez e operações. Esse processo irá levar tempo”, indica a empresa, numa nota divulgada esta segunda-feira, garantindo que está a manter um “diálogo aberto com os reguladores e autoridades” e que “planeia continuar a trabalhar” com os mesmos para “encontrar uma solução”.

Mas, sem certezas sobre o rumo dos mercados e com a expectativa de que os factores que pressionam os activos irão manter-se, já há investidores a mudar de estratégia. Isso mesmo indica a criação do novo fundo ETF (sigla para “exchange traded fund”, ou fundo negociado em bolsa) que acaba de chegar ao mercado. Esta terça-feira, a ProShares, correctora que disponibiliza fundos ligados à bitcoin, lança o primeiro fundo destinado ao “short-selling” (aposta na queda de um activo) da maior criptomoeda do mundo.

“Como mostraram os tempos recentes, o valor da bitcoin pode cair. O BITI [nome do fundo que já começou a ser negociado em bolsa] permite aos investidores obter exposições ‘short’ da bitcoin através de uma conta tradicional de corretagem”, pode ler-se no comunicado desta plataforma.

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