A ansiedade não o define enquanto pessoa

Se o nível de ansiedade não diminuir de intensidade e for elevado durante muito tempo, acaba por interferir no nosso funcionamento diário e causar uma perturbação. O Dia Internacional do Pânico é assinalado a 19 de Junho.

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@petercalheiros

No domingo, comemorou-se o Dia Internacional do Pânico, uma problemática do foro psicológico que se enquadra nas perturbações da ansiedade. Todos nós sentimos ansiedade, em maior ou menor grau, perante, por exemplo, situações como cumprir prazos, um teste, o exame de condução, uma reunião importante de trabalho e até perante situações sociais.

Quando a ansiedade é ligeira pode ajudar-nos a agir, ou seja, a estarmos mais alertas e focados para confrontarmos estas e outras circunstâncias desafiadoras. Porém, quando se manifesta com muita frequência e intensidade, torna-se grave, causando medo e preocupação constante. Se o nível de ansiedade não diminuir de intensidade e for elevado durante muito tempo, acaba por interferir no nosso funcionamento diário e causar uma perturbação de ansiedade. Felizmente, a maioria das pessoas com perturbações de ansiedade melhora consideravelmente com psicoterapia e, em casos mais graves, é indicada a combinação com medicação.

O pânico é bastante frequente e manifesta-se comummente no final da adolescência ou no início da idade adulta. Envolve sentimentos súbitos e não provocados de medo intenso ou pavor que desencadeia um conjunto de reações físicas que por sua vez geram uma sensação de morte iminente. Um ataque de pânico atinge o seu pico em poucos minutos e quem o vive geralmente fica muito assustado. Como resultado, desenvolve medo sobre quando e onde poderá acontecer o próximo ataque, e a partir deste momento, começa a restringir cada vez mais as suas atividades fora de casa com receio de ser apanhado noutro turbilhão.

Algumas pessoas com perturbação de pânico têm ataques noturnos, o que significa acordar a meio da noite em crise com sintomas muito semelhantes aos dos ataques de pânico em estados de vigília.

As pessoas que sofrem de pânico geralmente apresentam sinais e sintomas característicos desta situação, tanto físicos – palpitação e taquicardia, desconforto gastrointestinal, suores, tontura, tremores, falta de ar, calafrios, náuseas –; como afetivos – medo de enlouquecer ou de perder o controlo, medo de morrer, etc..

O tratamento com melhor evidência científica para reduzir e gerir a ansiedade é a terapia cognitivo-comportamental realizada por um psicólogo certificado. O primeiro passo para lidar com a ansiedade é aceitar e quebrar o ciclo de medo e insegurança. A terapia baseia-se em tarefas nas quais os papéis desempenhados tanto pelo paciente como pelo terapeuta são ativos, podendo ser realizada individualmente ou em grupo. Juntos, paciente e psicoterapeuta devem desenvolver um plano de tratamento adaptado à pessoa, sendo que a cooperação do paciente desde o início é crucial e deve envolver compromisso.

As pessoas que sofrem de pânico precisam dar sentido aos seus sintomas e resignificar a interpretação das suas experiências de pânico porque a sua base é uma má interpretação das sensações corporais.

De entre as várias técnicas que podemos usar numa situação de ataque de pânico há algumas bastante simples que deixo de seguida, com a ressalva de que não são únicas nem devem substituir a procura de um profissional especializado.

Perante um ataque de pânico deve:

  • Concentrar-se no aqui e agora no meio ambiente e não nos seus pensamentos e sensações físicas.
  • Respirar devagar e descrever minuciosamente o que está a sua volta, de modo a afastar-se da sua observação interna.
  • Não dar atenção ao que está a sentir no seu corpo, nem lutar contra o que está a sentir. Tente ouvir e cheirar o que se passa à sua volta, separando-se daquilo que sente internamente. Quanto mais puder separar-se da sua experiência interna e observar os acontecimentos externos, melhor irá se sentir.
  • Quando a ansiedade aparecer deixe-a acontecer e seja apenas observador, sem julgamentos ou receios. Com a experiência repetida de tolerar os sintomas vai perceber que não são perigosos.
  • No final do dia pense sobre os aspectos positivos que aconteceram e não esteja somente focado na crise de ansiedade.
  • Crie um momento diário de relaxamento.

Lembre-se:

  • Sentir ansiedade ou pânico não é sinal de fraqueza, vergonha ou inferioridade, a ansiedade não o define enquanto pessoa.
  • Um em cada seis portugueses sofre de ansiedade.
  • Nada é para sempre, inclusive os momentos de crise.

Se os seus sentimentos de ansiedade forem excessivos e persistentes deixando-o sobrecarregado, sem controlo e com dificuldades de funcionar adequadamente procure ajuda de um psicólogo.

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